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Dia: 2 de Maio, 2006

2 de Maio, 2006 Palmira Silva

Espírito Opus Dei em São Paulo

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e pré-candidato tucano à presidência, cedeu uma fazenda de 87 hectares, 54 vezes maior que o parque Ibirabuera, para uma fundação católica que mantém a rede de comunicação Canção Nova, com assumidos fins de evangelização. Gabriel Chalita, secretário de educação de SP, é o menino de ouro dos projectos da rede Canção Nova e quer ser o próximo governador de SP.

O jornal Folha de Sao Paulo noticiou em 21 de Janeiro último a cedência generosa de Geraldo Alckmin, filho do primeiro supranumerário do Brasil e ele próprio pelo menos com fortes ligações à Opus Dei, informando ainda que a referida fazenda tinha sido solicitada para projectos de inquestionavel interesse público ligados a instituições públicas. O Instituto de Terras do Estado de SP avaliou a área e solicitou-a para reforma agrária e a Faculdade de Engenharia Quimica de Lorena pedia a área para expansão do seu campus. De igual forma a Faenquil, ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Económico e Turismo do Estado, requereu em 2004 o terreno da fazenda para a ampliação de um dos seus campi, vizinho à propriedade do Estado.

No entanto o governador ignorou tais pedidos e arbitrariamente cedeu a fazenda Centri, localizada em Lorena, para a Fundação João Paulo II, responsável pela rede de evangelização Canção Nova, «uma comunidade católica que tem como objectivo principal ‘a evangelização através dos meios de comunicação’».

Alckmin, em campanha activa para a presidência, é conhecido pela sua visão católica da política, que inclui o esperado mui católico «apreço pelos Direitos Humanos» assim como subscreve de cruz o que diz Ratzinger na sua primeira encíclica, isto é, os governos não devem combater a desigualdade e exclusão sociais com medidas políticas que não sejam a educação, católica claro, como é evidenciado na resposta a um cidadão que procurou a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, para resolver um problema relacionado com uma bolsa de estudo, e recebeu a seguinte «oração» da Central de Atendimento (que não resolveu o problema em questão):

«No caminho de todos nós existem desafios e obstáculos que exigem empenho, dedicação, garra e perseverança. Por outro lado, esta mesma trajectória abre-nos a possibilidade de aprender, evoluir, enfrentar, ir além. Nessa jornada, tão importante quanto a chegada, é a beleza do caminho. Pois, é no transcorrer do caminho que nossa fé vai se fortalecendo, nossa esperança é renovada, nossos sonhos são embalados e as promessas positivas, mensageiras de novos amanhãs, se descortinam à nossa frente.

O Senhor caminha nessa direção, com esse olhar diferenciado. (…)

Que Deus a proteja e continue iluminando seu coração.»

O secretário da educação de SP, o encarregue da iluminação dos corações paulistas (e da manutenção das desigualdades sociais, necessárias ao fortalecimento da fé), Gabriel Chalita, é uma das figuras centrais da programação da rede Canção Nova, com destaque em todos os meios, inclusive na página de abertura do site, apresentando um programa diário de rádio e outro, semanal, na televisão, além de ter um livro publicado pela editora Canção Nova, ou seja, uma fazenda pública de 84 hectares foi doada para proselitismo católico ao grupo religioso do qual faz parte o piedoso autodenominado filósofo e escritor que integra o executivo que fez a (auto)doação.

O pseudo-filósofo Chalita é um prolixo (ou melhor pró-lixo) autor, cuja extensa (e mui publicitada) bibliografia inclui o livro «Seis lições de solidariedade com Lu Alckmin», uma elegia biografia da primeira-dama paulista, cujo primeiro casamento foi providencialmente anulado pelo Vaticano, com uma ajudinha da Opus Dei, depois de a dita dama ter começado a namorar o devoto candidato à presidência do Brasil.

Mário Sérgio Conti, um dos mais conceituados jornalistas brasileiros, que foi editor da «Veja» e do «Jornal do Brasil» entre outros, é o autor da melhor análise da dita prosa que encontrei. Isto é, Conti não conseguiu encontrar algo digno de análise nos ditos livros. Apenas selecionou trechos da vacuidade católica de Chalita para os leitores do seu blog No Mínimo. Na realidade não há muito para comentar. Talvez apenas uma única palavra: pavor! Ou nojo!

2 de Maio, 2006 Carlos Esperança

Coimbra – bênção das pastas

Não há evidência estatística que prove que a bênção das pastas traga benefícios aos proprietários ou que seja uma carta de recomendação para o primeiro emprego.

Não há ensaios duplo-cegos que provem a correlação positiva entre a fé e a preparação académica, entre a hóstia e o conhecimento científico, entre as orações e o domínio das sebentas.

Tirando o colorido fotográfico de um bispo paramentado a rigor e estudantes vestidos a imitar padres, não há nos borrifos de água benzida, arremessados a golpes de hissope, a mais leve suspeita de que a benta humidade conserve o coiro da pasta ou do próprio.

Há, todavia, no circo da fé, genuína alegria, uma absoluta demissão do sentido crítico, a força poderosa do «porque sim», que impele os universitários de Coimbra para a missa na Sé Nova a pedir a bênção da pasta e a prometer que vão espalhar a felicidade.

Vão ao confesso falar dos «pecados» para que se preparam, começam na eucaristia e continuam na cerveja, despacham umas ave-marias e mergulham na estúrdia de oito dias de todos os excessos.

Deus é um aperitivo amargo que a tradição manda, a festa é o ritual que o corpo e os sentidos exigem. O bispo leva Deus para o Paço episcopal enquanto os estudantes vão fazer a digestão da hóstia em hectolitros de cerveja ou acabar no banco do Hospital em coma – uma espécie de êxtase místico provocado por excesso alcoólico.

Até à data não há registo de qualquer lavagem gástrica por excesso de hóstias. Talvez a eucaristia tenha lugar no início dos festejos porque, no fim, não há estômago que ainda aguente.

Ontem, muitos alunos começaram a festejar o fim do curso, de joelhos. Vão acabar de rastos.

2 de Maio, 2006 Palmira Silva

O sucesso económico da Igreja de Inglaterra

O relatório financeiro anual da Igreja de Inglaterra indica-nos que de facto a religião é um dos ( se não o mais) negócios mais lucrativos existentes. Assim, o «valor» da Igreja, em propriedades e acções, saltou de 800 milhões de libras (aproximadamente 1 200 milhões de euros) no ano passado para cerca de 5 biliões este ano.

Os lucros da Igreja, que como as suas congéneres em todo o mundo não paga um cêntimo de impostos, servem essencialmente para manter o clero anglicano, isto é, é gasto quasi na totalidade em pensões e salários. Claro que a manutenção de um estilo de vida condigno com a condição eclesiástica, especialmente das cúpulas, não sai barato e são necessárias outras fontes de financiamento. Assim, não é de estranhar que embora a Igreja esteja mais «rica» o dinheiro disponível para «caridade» seja cada vez menos …

E que cada vez mais a Igreja venda a investidores sem… os escrúpulos «éticos» característicos das religiões, complexos de habitação social, muitos deles em localizações privilegiadas, anteriormente na sua posse. Que como consequência os inquilinos sejam praticamente expulsos das suas casas pelos novos donos é algo que certamente a Igreja nunca previu… e afinal é preciso dinheiro para manter o papel vital na vida britânica que a Igreja se autoproclama deter! Proclamação com que poucas pessoas concordam…

Enfim, pelo menos a Igreja de Inglaterra torna público o seu relatório financeiro. Nunca de tal ouvi falar em relação à Igreja Católica…