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Dia: 17 de Abril, 2006

17 de Abril, 2006 jvasco

Causas sociais do Ateísmo

Foram feitos vários estudos, pela parte de diferentes autores, tendo como por objectivo determinar a percentagem de ateus nos diferentes países do mundo. Phil Zuckerman compilou os dados de muitos desses estudos para produzir um trabalho denominado «Atheism: Contemporary Rates and Patterns» («Ateísmo: Taxas e Padrões Contemporâneos»)
Depois de uma extensa exposição de todos os estudos de opinião em que se baseou (cerca de uma centena), Zuckerman elabora uma lista de países por ordem da percentagem de ateus que existem. Zuckerman também deixa claras todas as ressalvas relativas aos vários erros que podem ocorrer nos diferentes estudos de opinião. Na Arábia Saudita a percentagem de ateus está provavelmente sub-estimada, e na China estará sobrestimada, por exemplo. De qualquer forma, Zuckerman tira conclusões do vasto conjunto de dados que apresenta acerca da explicação que pode existir para as elevadas taxas de descrença. Vou traduzir parte dessas conclusões:

«O que é que causa a gritante diferença entre as nações em termos da taxa de descrença? Porque é que quase todas as nações de África, América do Sul e Sudeste Asiático contêm quase nenhum ateísmo, mas em muitas nações europeias os ateístas existem em abundância? Há numerosas explicações (Zuckerman, 2004; Paul, 2002; Stark and Finke, 2000; Bruce, 1999) Uma teoria liderante vem de Norris and Inglehart (2004), que defendem que em sociedades caracterizadas por uma plena distribuição de comida, excelente serviço público de saúde, e habitação globalmente acessível, a religiosidade esvai-se. […]
Através de uma análise das estatísticas globais actuais de religiosidade em relação à distribuição do rendimento, equidade económica, gastos com a segurança social, e medimentos básicos da segurança ao longo da vida (vulnerabilidade quanto à fome, destares naturais, etc…) Inglehart e Norris (2004) defendem convincentemente que apesar de numerosos factores possivelmente relevantes para explicar a distribuição mundial da religiosidade, «os níveis de segurança da sociedade e do indivíduo parecem constituir o factor com mais poder explicativo» (p. 109). Claro que, como em qualquer teoria social abrangente, existem excepções. Os incontornáveis casos do Vietname (81% de descrentes) e da Irlanda (4-5% de descrentes) não correspondem ao que se esperaria através da análise de Inglehart e Norris.»

O autor acaba então por fazer uma distinção entre ateísmo orgânico: aquele que surge naturalmente nas sociedades sem qualquer encorajamento por parte do regime político, e o «ateísmo coercivo» que surgiu pela imposição política. Encontra então uma enorme correlação entre o ordenamento por ateísmo orgânico e o ordenamento por desenvolvimento humano. Mostra também que os países com maiores taxas de homicídios são todos extremamente religiosos.
Fica por explicar a excepção que a Irlanda constitui. Mas para mim, essa excepção é muito natural. A Irlanda é um país rico há pouco tempo, e a sociedade ainda não se adaptou a essa riqueza. Dentro de uns anos, parece-me, até a própria Irlanda confirmará esta tese.

17 de Abril, 2006 Palmira Silva

Agência de auxílio de emergência baseada na fé

Casas de New Orleans afectadas pelo furacão Katrina como esta foram consideradas em condições para serem ocupadas.

A Federal Emergency Management Agency (FEMA) notificou cerca de 8900 chefes de famílias de New Orleans, refugiados em Houston, que representam mais de 20 000 evacuados, que não serão elegíveis para assistência financeira.

A Hurricane Housing Task Force de Houston examinou algumas das casas declaradas habitáveis pela FEMA e declarou 70% destas impróprias para habitação.

A decisão da FEMA de recusa de auxílio financeiro a quem de facto necessita é ainda mais incompreensível e reprovável quando se sabe que esta agência estatal utilizou milhões de dólares dos contribuintes em subsíduos (supostamente reembolsos) a igrejas e organizações baseadas na fé envolvidas na operação Katrina.

Considerando que os americanos são extremamente generosos nos seus donativos, especialmente em casos de calamidades, que a Cruz Vermelha declarou ter recebido mais de 2 biliões (americanos) de dólares de donativos para auxílio às vítimas dos furacões Katrina, Rita e Wilma e que a lista que a FEMA divulgou para os americanos dirigirem donativos era praticamente constituida por organizações religiosas (e que incluía em lugar proeminente a organização dirigida por Pat Robertson), é caso para perguntar se de facto as organizações religiosas precisavam de dinheiro federal para atender às vítimas do Katrina. E se não seria melhor esse dinheiro federal ser directamente canalizado para as vítimas?

Parece que a administração Bush, que recentemente estabeleceu um Centro para Iniciativas Baseadas na Fé no Departamento de Segurança Nacional, está decididamente apostada na instalação de uma teocracia nos Estados Unidos!