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Dia: 13 de Janeiro, 2006

13 de Janeiro, 2006 jvasco

Presidenciais e Religião

A Visão colocou a seguinte pergunta aos 6 candidatos presidenciais: «Professa algum credo religioso? Se sim, qual?». As respostas foram:

Cavaco Silva – Não respondeu às perguntas da Visão
Mário Soares
Sou agnóstico, como se sabe. Mas também é do conhecimento público que tenho participado activamente no diálogo entre religiões.
Manuel AlegreSou agnóstico.
Jerónimo de SousaJá professei, agora não.
Francisco LouçãNão.
Garcia PereriraNão, mas respeito profundamente quem o tenha, qualquer que ele seja.

Notas:

a) Como é óbvio, o sentido de voto não deve ser condicionado pela religião (ou posição religiosa) do candidato. Importa saber se o candidato presidencial defende a separação entre a Igreja e o estado, qual a posição face à lei da liberdade religiosa, as suas opiniões a propósito do episódio dos crucifixos, etc.

b) De salientar a maturidade, a este respeito, do eleitorado português (antes existisse a mesma maturidade em relação a outras questões…) – apesar dos ateus e agnósticos serem uma pequena minoria, 5 dos 6 candidatos não temem tornar pública a sua «falta de fé» (coisa que certamente alguns candidatos fariam se o eleitorado
religioso fosse penalizar severamente esse posicionamento).
Sobre este assunto, ver o infeliz exemplo dos EUA onde um Presidente é praticamente forçado a usar abundantemente expressões religiosas nos seus discursos.

13 de Janeiro, 2006 fburnay

Galileu e a Igreja (III)

A condenação de Giordano Bruno fez ver a Galileu que não podia apoiar o modelo coperniciano em público e depois do ataque a Paolo Sarpi em 1609 ele chega a uma conclusão: é necessário estabelecer um acordo amigável com as autoridades de Roma a respeito das suas descobertas. Isso viria a acontecer pela primeira vez em 1611. Em Março desse ano Galileu parte em missão diplomática como embaixador científico da Toscânia e permanece em Roma por cerca de quatro meses que tiveram resultados muito positivos. Galileu pôde falar de pé com o papa Paulo V (quando normalmente o protocolo exigia que se falasse de joelhos) e o cardeal Bellarmine observa o firmamento através da luneta de Galileu. O perseguidor de Bruno reuniu uma espécie de conselho científico formado por jesuítas que chegou às seguintes conclusões:

1) A Via Láctea é composta por um grande número de estrelas;
2) Saturno tem forma oval [por causa dos anéis que viriam a ser descobertos mais tarde por Huygens – até à data admitia-se que Saturno era esférico];
3) A superfície da Lua é irregular [os ensinamentos de Aristóteles diziam que esta era uma esfera perfeita];
4) Vénus apresenta fases [esta descoberta de Galileu foi na verdade um dos primeiros testes científicos da História já que Galileu soube mais tarde por via de um antigo aluno que se o modelo de Copérnico estivesse certo, Vénus tinha de apresentar fases!];
5) Júpiter tem quatro satélites [na realidade tem mais, mas estes, aos quais Galileu chamou de Estrelas Medicianas em honra de Cosimo II, eram os únicos conhecidos à data – Io, Ganimedes, Europa e Calisto, hoje conhecidos como Satélites Galileanos];

Portanto este comité assumiu oficialmente todos estes factos, com uma consequência lógica não assumida na altura por Roma: que o conhecimento aristotélico estava fatal e irreversivelmente destruído!


Camillo Borghese, também conhecido como papa Paulo V

Depois de revelar pessoalmente à grã-duquesa Cristina que era apoiante do modelo de Copérnico Galileu responde desta forma à mãe de Cosimo II, muito preocupada com as consequências para a autoridade bíblica:

«Em disputas sobre fenómenos naturais não se deve começar pela autoridade dos trechos das escrituras mas pela experiência sensorial e as necessárias demonstrações.»

Até aqui nada de grave porque em Roma não se lia a correspondência entre Galileu e a grã-duquesa da Toscânia. Mas Galileu publicou um livro sobre manchas solares (outro pontapé na sabedoria de Aristóteles) no qual colocou, como anexo final, uma breve dissertação sobre o modelo de Copérnico em que afirmava apoiar esta teoria. Em 1615 Galileu considerou que, depois das atenções que tinha chamado, havia novo pretexto para visitar Roma. Apesar de avisado das opiniões adversas que lá se haviam formado, Galileu volta. E é então que os problemas começam.

Bellarmine reúne um conselho de sábios que acabam por concluir que o modelo de Copérnico é herético. O movimento da Terra é considerado absurdo. O De Revolutionibus Orbium Caelestium de Copérnico entra no Index. Em 1616 Paulo V encarregou Bellarmine de informar Galileu de que este não podia de forma alguma defender nenhuma das ideias consideradas heréticas, acreditar nelas nem dar-lhes sequer o benefício da dúvida. Caso Galileu desobedecesse deveria ver-se a contas com a Inquisição e a partir daí ser proibido de as ensinar de todo. Quando Bellarmine, que era conhecido de Galileu, trata de o informar a Inquisição vai atrás, não fosse Galileu hesitar. Bellarmine aconselhou Galileu a ter cuidado e a simplesmente aceitar todas as ordens, o que ele fez. Quando a Inquisição tentou obter a assinatura de Galileu que o proibiria de ensinar o copernicanismo, Bellarmine auxiliou-o terminando a reunião prematuramente. Esta foi uma das últimas ajudas que Bellarmine lhe pôde proporcionar.

Mais tarde Galileu preocupa-se com a imponderabilidade de tal reunião e Bellarmine consegue-lhe uma audiência com o papa, garantindo que não havia qualquer tipo de perigo desde que Paulo V fosse o bispo de Roma. Bellarmine assina mesmo um documento em que oficializa a inexistência de abjuração por parte de Galileu. Isso viria apenas mais tarde…

(continua)