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Dia: 19 de Novembro, 2005

19 de Novembro, 2005 Palmira Silva

Iguanas da evolução

De Londres chega-nos a notícia que a efígie inconfundível de Darwin se revelou no fundo de uma frigideira de uma post-doc inglesa. Cientistas de todo o mundo (uma em Portugal, outra em Londres e um em Princeton, Estados Unidos) interrogam-se sobre o significado (sobrenatural?) deste desenho inteligente de Darwin em tão improvável objecto. A dona, que o pretende vender e reverter o valor da venda para a organização American Civil Liberties Union, associação muito empenhada em combater a epidemia de IDiotia criacionista nos Estados Unidos, não especificou se a última refeição cozinhada antes de tão auspicioso fenómeno foi esparguete com almôndegas

E falo em auspicioso fenómeno porque abre hoje as portas ao público a mais completa e ambiciosa exposição devotada a Charles Darwin, no Museu de História Natural em New York. A exposição, que inclui items das coleções da Universidade de Cambridge, da família Darwin e da Down House, onde o naturalista viveu os seus últimos 40 anos, será apresentada no Museu de História Natural de Londres no início de 2009, data em que se celebrará o bicentenário do nascimento de Darwin e os 150 anos da publicação da Origem das espécies. Disseminados pela exposição os visitantes podem encontrar tartarugas gigantes das Galápagos, iguanas e rãs cornudas, expostas em habitats que se assemelham aos encontrados por Darwin nos pontos de paragem da sua viagem no Beagle e que o levaram a propor a selecção natural e a evolução das espécies.

Não obstante abrir as portas numa altura em que as guerras da evolução estão ao rubro nos Estados Unidos e sendo certo que muitos dos IDiotas cristãos a encararão como uma retaliação dos ateus cientistas, a exposição «Darwin» foi pensada há três anos e integra uma série de exibições sobre pensadores, cientistas e exploradores famosos neste prestigiado museu nova-iorquiano.

19 de Novembro, 2005 Palmira Silva

David Irving na cadeia

O escritor de extrema-direita e auto-denominado historiador David Irving, conhecido pela sua negação do Holocausto, foi preso em Hartberg, Áustria, acusado exactamente pelos seus discursos de negação do Holocausto proferidos em território austríaco, onde tal constitui crime punível com uma pena até 20 anos de prisão.

A única educação formal de Irving consiste na frequência do curso de Física no Imperial College em Londres, no período 1957-1959, onde colaborou no jornal escolar Phoenix, tendo sido ainda o editor do jornal do London University Carnival Committee, o Carnival Times. Foi destituído desta posição após ter publicado num suplemento especial do jornal cartoons racistas, uma defesa veemente do regime de apartheid na África do Sul, um artigo elogioso da Alemanha nazi e uma alegação de que a imprensa britânica era posse de judeus. Numa entrevista da época ao The Daily Mail Irving afirmou: «Não pertenço a algum partido político. Mas pode chamar-me um fascista moderado se quiser. Acabei de regressar de Madrid (à época da ditadura de Franco) … voltei através da Alemanha e visitei o ninho de Hitler em Berchtesgaden. Considero-o como um templo».

Desde essa época que as posições de Irving em relação à Alemanha nazi e ao Holocausto têm motivado não só reacções de indignação mas também processos judiciais. Em 1992 foi multado em 6 000 dólares por um tribunal alemão após ter afirmado que as infames câmaras de gás de Auschwitz nunca foram usadas, uma afirmação recorrente que incluiu em alguns dos seus livros sobre o período. Outras afirmações polémicas, muito aclamadas por grupos neo-fascistas e neo-nazis de toda a Europa, contestam o número de vítimas judaicas do Holocausto que Irving afirma serem muito inferiores ao aceite por todos os historiadores sérios.

Em 2000 Irving processou a historiadora Deborah Lipstadt e a sua editora britânica , a Penguin, devido ao livro Denying the Holocaust: The Growing Assault on Truth and Memory (Negando o Holocausto: o assalto crescente à verdade e à memória) em que Lipstadt afirma ser Irving «um dos mais perigosos advogados da negação do Holocausto» porque «ele está no seu melhor pegando em informação precisa e moldando-a para a adaptar às suas conclusões». Como seria de esperar perdeu não só processo mas o seu apartamento em Mayfair uma vez que não conseguiu pagar as 150 000 libras iniciais de custas do processo.

O revisionismo histórico e a desonestidade intelectual de Irving são características comuns aos que defendem acriticamente não só ideologias como também religiões. O rigor histórico e intelectual é o antídoto que no Diário Ateísta preconizamos para os atentados civilizacionais de branqueamento da História!