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Dia: 20 de Outubro, 2005

20 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Leitura recomendada

Está disponível em português na Crítica, Revista de Filosofia e Ensino, a primeira parte de um artigo simplesmente a não perder que põe a descoberto a verdadeira agenda dos neo-criacionistas disfarçados de IDiotas. Escrito por um dos mais prestigiados evolucionistas da actualidade, o cientista da Universidade de Chicago, Jerry Coyne, «A fé que não tem coragem de se mostrar», é a primeira parte de um artigo que recomendo vivamente aos nossos leitores! Artigo que se inicia explicando a fundamentação religiosa da guerra da evolução em foco nos Estados Unidos:

«Exactamente oitenta anos após o processo de Dayton, Tennessee, que ficou conhecido como o John Scopes ‘monkey trial’, a história está prestes a repetir-se. Numa sala de audiências em Harrisburg, Pennsylvania, desde fins de Setembro cientistas e criacionistas travam uma luta para saber se e como os estudantes do liceu, em Dover, irão aprender a respeito da evolução biológica. Poder-se-ia presumir que estas batalhas tinham acabado mas isso seria subestimar o furor (e a ingenuidade) dos criacionistas escarnecidos.

O julgamento Scopes dos dias de hoje – Kitzmiller e outros contra Distrito Escolar da Zona de Dover e outros – começou de forma inócua. Na primavera de 2004, a comissão de revisão do manual escolar do distrito recomendou que um novo manual escolar comercial substituísse o obsoleto manual de biologia.

Na reunião do conselho de instrução, em Junho, o presidente da comissão curricular, William Buckingham, queixou-se de que o livro proposto para revisão estava ‘estreitamente ligado ao Darwinismo’. Depois de desafiar a audiência para que recuasse nas suas origens até ao macaco sugeriu que um manual mais apropriado deveria incluir a teoria bíblica da criação. Quando foi questionado sobre se isso poderia ofender aqueles que professassem outras crenças, Buckingham retorquiu: ‘Este país não foi fundado sobre as crenças muçulmanas ou sobre a evolução. Este país foi fundado a partir da Cristandade e os nossos estudantes devem ser ensinados como tal’. Uma semana mais tarde, defendendo o seu ponto de vista, Buckingham alegadamente argumentou: ‘Há dois mil anos alguém morreu numa cruz. Será que ninguém pode defendê-lo?’. E acrescentou: ‘Em lado algum a Constituição exige a separação entre a igreja e o estado’»

Agradeço efusivamente ao Renas e Veados a indicação deste artigo fabuloso!

20 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Tom Cruise na mira de Andrew Morton

De acordo com fontes bem informadas (e munidas de uma câmara com uma excelente lente) Andrew Morton, o ex-jornalista do tablóide britânico Daily Mail que virou biógrafo (por vezes não autorizado) de celebridades sortidas prepara uma biografia de Tom Cruise.

A crer em afirmações recentes de Morton, que foi ouvido a arengar contra a Igreja da Cientologia, que classificou de totalitária (eu recorreria a outro tipo de epítetos) e a comparar Tom Cruise com Charles Lindbergh, o famoso aviador que deu nome ao aeroporto de San Diego mas que foi simultaneamente um simpatizante do fascismo, não são necessárias grandes capacidades dedutivas para prever que este não vai ser um livro muito lisonjeiro quer para Cruise quer para a Cientologia. Acho que eventualmente este será o primeiro livro de Morton que considerarei ler!

De facto Morton foi avistado num dos cafés de culto em Venice (Califórnia) com dois críticos reconhecidos da Cientologia, Paul Barresi e o advogado Graham Berry. Paul Barresi foi sujeito às habituais tácticas de intimidação da Cientologia após ter afirmado ter mantido uma relação de dois anos com outra das celebridades cientologistas, John Travolta, e assediado até ter retractado as afirmações. Graham Berry foi advogado de defesa de um dos psiquiatras citado no artigo demolidor sobre Cientologia publicado pela Time e a partir daí foi alvo de vinganças mesquinhas dos fanáticos crentes em Xenu, que desceram ao ponto de espalharem panfletos na zona de residência de Berry acusando-o de ser pedófilo.

Parece pouco provável que Morton, que resistiu estoicamente até a um assalto à sua casa na altura em que preparava a biografia de Diana, seja demovido das suas intenções pelo jogo duro e sujo da Cientologia. E essas intenções parecem ser a exposição das imbecilidades da Cientologia e das tácticas por esta usada para intimidar os que se atravessam no seu caminho dourado… para uma conta bancária com muitos zeros.

20 de Outubro, 2005 Palmira Silva

Manobras de marketing

Numa Grã-Bretanha em que o número de crentes na exegese da Igreja de Roma decresce com uma velocidade vertiginosa, em que os seminários estão às moscas e procuram candidatos em países mais pobres devotos, urgem medidas de marketing que captem clientes para encher os depauperados cofres das dioceses.

Nada melhor para captar e fidelizar os clientes que a oferta de um produto local e assim o Vaticano prepara-se para produzir o primeiro santinho inglês pós-reforma, o Cardeal Newman (1801-1890), o padre que chocou a sociedade vitoriana convertendo-se ao catolicismo e que previu o advento de uma «segunda Primavera» do catolicismo em Inglaterra.

Newman é candidato a santinho já há uns anos mas, não obstante a prodigalidade com que o finado Papa distribuiu beatificações e canonizações pelos quatro cantos do globo, a míngua de milagres impediu a concretização do primeiro passo para a santidade. Mas a situação desesperada da delegação britânica da Igreja de Roma exige medidas desesperadas de forma que, milagrosamente também, surgiu recentemente o testemunho de um clérigo da diocese de Boston que asseverou ter recuperado de uma maleita das costas depois de interceder junto ao piedoso e presciente Newman.

Só não percebi porque razão Paul Chavasse, o padre responsável pela causa de Newman, diz que o padre americano não pode ser nomeado. Um padre de Boston que não quer ou não pode ser nomeado, atendendo à dimensão do escândalo da pedofilia que abalou e quase levou à bancarrota a diocese local, parece-me um pouco estranho!