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Dia: 24 de Setembro, 2005

24 de Setembro, 2005 Carlos Esperança

Governo dos EUA intercede pelo Papa

O Papa Bento 16 foi acusado por um tribunal dos EUA de estar «implicado numa conspiração para ocultar os crimes de um seminarista, Juan Carlos Patiño, julgado por abuso sexual de três crianças, na igreja, durante sessões de orientação psicopedagógica, em meados da década de 1990.

No entanto, um representante do Governo dos EUA comunicou ao tribunal do Texas, que acusava o Papa do crime cometido enquanto cardeal, Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, de que devia conceder-lhe imunidade.

O subsecretário de Estado da Justiça, Peter Keisler, assinalou que, como chefe de Estado do Vaticano, a continuação do processo contra B16 seria «incompatível com os interesses de política externa dos EUA».

Apesar de o juiz que investiga o caso ainda não se ter pronunciado, o Supremo Tribunal de Justiça declarou que os tribunais dos EUA estão obrigados a aceitar essas «sugestões de imunidade» apresentadas pelo Governo. Há, aliás, o precedente de uma acusação contra JP2, em 1994, também no Texas, que foi retirada na sequência de uma moção similar.

Por seu lado, Daniel Shea, advogado de um dos três queixosos, disse que o segredo, nestes casos, representa uma conspiração para encobrimento do crime.

A promoção a Papa não o tornou apenas Santo (Padre), libertou-o dos pecados.

24 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Dois pesos, duas medidas

Numa altura em que os conservadores cristãos britânicos protestam e tentam boicotar a digressão do espectáculo «Jerry Springer: The Opera», muito contestado especialmente depois de a BBC ter transmitido uma gravação do espectáculo, simultaneamente preparam uma mega manifestação para protestar legislação que segundo eles… restringe a liberdade de expressão!!

De facto, numa demonstração óbvia da hipocrisia e multiplicidade de critérios características das religiões em geral e da cristã em particular, mais de 100 igrejas e denominações cristãs inglesas preparam-se para protestar a legislação, já aprovada na Câmara dos Comuns, que criminalizará o incitamento ao ódio por motivos religiosos.

Pessoalmente considero a proposta de lei completamente absurda mas por razões totalmente distintas das dos piedosos cristãos. Estes opõem-se à legislação, que define ódio religioso como «ódio contra um grupo de pessoas definidas em relação a uma crença religiosa ou ausência de crença religiosa», porque temem que sob esta legislação não possam proselitar à vontade. Como todas as religiões e variantes dentro da mesma religião se reclamam a única verdadeira, as mais viperinas manifestações de ódio religioso verificam-se nos púlpitos, onde os prelados das várias religiões atribuem os males do mundo aos desvios às suas «verdades absolutas», aos incréus e «relativismos» morais ateus e consequentemente atacam e denigrem não só o ateísmo e secularismo como as «falsas» religiões.

Para os piedosos cristãos, em Inglaterra como cá, liberdade de expressão é sinónimo de liberdade de expressão apenas para as suas «verdades absolutas». Sentem-se no direito de criticar livre e vigorosamente as outras religiões e o ateísmo mas não só protestam a alto e bom som a menor crítica, como carpem acusações de perseguição e cruzadas anti-cristãs quando essas «verdades absolutas» não são transcritas para a letra de lei. Para eles todas as vozes discordantes devem ser silenciadas. No caso inglês é-me completamente mistificante que estes preocupados crentes não se apercebam da hipocrisia subjacente a exigirem a «cristianização» da BBC, a censura da difusão pelos media de estilos de vida «alternativos» e de programas «blasfemos», enquanto protestam contra a ameaça à «liberdade de expressão».

Curiosamente durante a tão abominada ópera de Jerry Springer, que levanta questões éticas e morais importantes, nomeadamente sobre justiça e o problema do mal, o personagem representando o mítico fundador do cristianismo é confrontado com acusações e desafiado a responder a uma série de questões morais. O personagem não responde a alguma das questões, ignora as acusações e simplesmente exige «respeitem-me».

Quiçá a luta encarniçada dos cristãos contra o espectáculo seja exactamente porque o seu comportamento apenas reforça o estereótipo dos representantes do panteão católico caricaturados na peça. Os seus dogmas anacrónicos, aquilo que para eles passa por moral, não respondem aos muitos problemas éticos e sociais da actualidade, na realidade só os agravam, e, com total desrespeito pelos que não partilham as suas crenças, exigem não só que estas crenças sejam respeitadas mas, especialmente, que os seus dogmas sejam seguidos por todos!