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Dia: 19 de Setembro, 2005

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Mais religião e política: andante

As Filipinas constituem um dos últimos redutos da teocracia católica. A Igreja católica é toda-poderosa e consegue em pleno as suas máximas aspirações «morais» no país mais católico (e dos mais pobres) do mundo: tem financiamento q.b., directo, do (pouco) dinheiro do erário público e indirecto, porque não só está totalmente isenta de impostos como todo o dinheiro doado à Igreja está também isento de impostos. De igual forma, as Filipinas são talvez o único país do mundo que segue à risca as determinações da «santa» Igreja em matéria das consequências «colaterais» do sexo: os abominados métodos contraceptivos «artificiais» são anátema nas Filipinas, a defesa de óvulos e espermatozóides absoluta em território tão dominado pela ICAR. Assim como é total a defesa do «sagrado» matrimónio, e o divórcio não é permitido, excepto para a reduzida comunidade muçulmana na qual se aplica a… Sharia!

Assim, não há grandes problemas de no futuro próximo a Igreja de Roma perder a sua hegemonia sobre um dos países mais corruptos do mundo. Os pobres, com proles numerosas que simplesmente não conseguem sustentar, continuarão miseráveis e ignorantes, dependentes da «boa-vontade» e «boas acções» que a Igreja, com dinheiro alheio, magnanimamente distribui, sem qualquer hipótese sequer de aprenderem a controlar a sua fertilidade. A «santa» Igreja, que actua activamente na política do país, influenciando e determinando não só resultados eleitorais mas destituições de presidentes que não se ajoelharam convenientemente face à Igreja, já fez saber que negará comunhão a, e dados os antecedentes fará certamente campanha contra, qualquer político que tente promover políticas de controle de natalidade.

Entretanto os «piedosos» eclesiásticos vivem num estilo de vida interdito à maioria dos filipinos. Não só devido aos financiamentos já referidos mas porque mantêm uma tabela precisa do que cobram aos miseráveis crentes pelos rituais indispensáveis a um «bom» católico: missas pelas «almas no Purgatório», casamentos, baptizados e funerais. Ah, e já esquecia… tinham até há uns meses (e suspeito que têm ainda não obstante os protestos em contrário) financiamento milionário da Philippine Amusement and Gaming Corporation (PAGCOR). Os operadores dos poucos cristãos, segundo a «santa» Igreja filipina, casinos, jogo na Internet, etc..

Aliás, um dos bispos recipiente de magnânimas doações, para os pobres apressou-se a afirmar, é, certamente por coincidência, o dignitário máximo de uma das zonas do país que mais contribuiu em 2004 para a vitória, muito contestada, da presidente Gloria Macapagal-Arroyo.

Presidente que é mui católica, embora tenha cometido o pecado, na sua longínqua juventude, de recorrer a métodos contraceptivos, pecado de que se redime impedindo que as suas conterrâneas nele incorram.

Quiçá pelo empenho na redenção dos seus pecados, entregando-se plenamente aos ditames da «santa» Igreja, esta tenha contribuido activamente para impedir recentemente o impeachment de Arroyo, por fraude eleitoral. E claro, são detractores ignóbeis, quiçá ateus, que pretendem que Arroyo comprou a cumplicidade da Igreja com as contribuições milionárias da PAGCOR aos bispos. Como a ex-secretária de estado da Segurança Social, Dinky Soliman, que, demonstrando uma evidente falta de solidariedade, reproduziu a resposta da presidente Arroyo à proposta de substituição de Efraim Genuino, o chairman da PAGCOR:

«Preciso dele para sobreviver. Ele toma conta dos meios de comunicação social e dos bispos»!!

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Religião e política : variações sobre um tema

A Igreja católica não abdica de tentar impôr os seus dogmas anacrónicos e intolerantes imiscuindo-se de forma inaceitável na política. Curiosamente nos países em que a religião católica é a dominante, a Igreja de Roma tem uma actuação estritamente selectiva, apenas intervindo na cena política para condenar partidos ou governos que pretendam legislar em matérias relacionadas com sexo, contra os preceitos emanados do Vaticano, claro, ou os que lhes pretendam cortar o financiamento. Nunca se ouviu um protesto ou uma condenação dos atropelos aos direitos humanos nas muitas ditaduras nestes países!

Assim, caiu o Carmo e a Trindade numa Itália em período de pré-campanha para as eleições da próxima Primavera, quando Romano Prodi, o social-democrata que foi presidente da Comissão Europeia e que encabeça a coligação de centro-esquerda, se declarou a favor do reconhecimento dos direitos legais dos casais que vivem em união de facto, que representam uma percentagem crescente da população italiana e que, ao abrigo da lei actual, não têm qualquer tipo de protecção ou direitos legais. Como seria expectável no país que alberga a delegação central da Igreja Católica, o Vaticano e os dignitários eclesiásticos italianos reagiram com uma tempestade de protestos e chantagens políticas contra esta «ameaça à família».

O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, afirmou que Prodi estava a relativizar a família, uma instituição baseada no casamento (para os peritos no assunto, os celibatários do Vaticano). E a agência noticiosa dos bispos italianos, SIR, disse que a coligação encabeçada por Prodi pagaria politicamente nas urnas se tentasse imitar Espanha, que legalizou o casamento homossexual este ano.

Prodi insistiu que a medida não pretende legalizar o casamento homossexual mas apenas garantir os devidos benefícios sociais a mais de um milhão de italianos, equiparando as uniões de facto em termos administrativos e legais às uniões legalizadas no cartório.

Muitos comentadores italianos comparam o que se passa e o que prevêm se vai passar com a campanha milionária e empenhada organizada pelo Vaticano para impedir que o referendo sobre a fertilidade assistida passasse. Em consequência, a Itália tem uma lei retrógrada e aberrante que basicamente considera um embrião equivalente a uma pessoa nascida.

Certamente nos próximos meses veremos o Vaticano a apelar ao voto em Silvio Berlusconi, que pode ter … algumas «arestas» menos polidas, mas é um modelo de virtudes católicas. Especialmente naquilo que de facto interessa, defesa intransigente de embriões, óvulos e espermatozóides e determinação em acabar com educações ateias de evolucionismos e voltar aos bons ensinamentos criacionistas da tradição católica!

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

A teoria Siri

Não, não vou escrever sobre um dos meus pratos baianos favoritos mas sobre uma espécie de teoria da conspiração prevalecente em alguns meios católicos mais, se possível, conservadores e visceralmente opostos ao inspirado pelo Demo Concílio Vaticano II.

Segundo estes sedevacantistas (de sede vacante ou trono papal vazio) o Papa legítimo, eleito em 26 de Outubro de 1958, após a morte do por muitos apelidado Papa nazi, Pio XII, foi o Cardeal Giuseppe Siri, um genovês anti-comunista militante e um tradicionalista intransigente em matérias de doutrina, aparentemente o favorito de Pio XII para a sua sucessão.

Especialmente elaboradas são as páginas do Novus Ordo Watch, que incluem um «testemunho» de um ex-membro do FBI na enorme lista de documentos que para eles apoiam esta teoria. Mas o Papa de Vermelho, até pela sua referência a Fátima, é igualmente de ler assim como este site, um site tradicionalista e simultaneamente anti Opus Dei, que consideram … obra de judeus! Mas o mais «nacional» no sentido que elege Fátima como fonte de inspiração, é o site da Igreja em eclipse.