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Dia: 28 de Agosto, 2005

28 de Agosto, 2005 Carlos Esperança

Liberdade religiosa e totalitarismo

É interessante a notícia da Agência católica Ecclesia sobre a liberdade religiosa. No mínimo revela a concepção que a ICAR tem de liberdade.

Sob os auspícios da «Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS)», vai ser apresentada no próximo dia 12 de Outubro, em Lisboa, a sétima edição do Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo, documento apresentado por Marcelo Rebelo de Sousa.

Os conflitos militares, o terrorismo e as ditaduras são responsabilizados pelas situações mais alarmantes, que referem «Iraque, China, Cuba e Nigéria».

Nenhum desses países se distingue no respeito pela liberdade, não admirando que a religiosa seja aí precária ou inexistente. A única surpresa é Cuba, pois foi um destino do falecido JP2 onde predicou, distribuiu a eucaristia, abençoou quem quis e rezou o que lhe apeteceu. Mas porquê esses países e só esses?

No Vaticano há liberdade religiosa? Há pluralismo? Sendo uma ditadura está justificada a ausência de liberdade religiosa, compensada pela obrigatória religião autóctone.

Mas a surpresa continua. Será que a Arábia Saudita ou a Coreia do Norte serão mais indulgentes para a religião do que Cuba? A própria Polónia será um país que assegure a liberdade religiosa?

O Irão e o Iémen, por exemplo, ter-se-ão tornado países condescendentes com o clero de outras religiões e a prática de cultos alheios ao islão?

Fica a vaga ideia de que a liberdade religiosa é apenas vista em relação ao catolicismo romano, esquecendo o despotismo com que o islão impõe as suas práticas totalitárias num comportamento que a ICAR gostaria de imitar.

28 de Agosto, 2005 pfontela

Filhos e enteados

Quando se deram os trágicos atentados em Londres eu estava lá a viver e pude testemunhar e participar na recusa em deixar o terror dominar a civilização e sinto orgulho por ter feito parte desse momento. Independentemente da reacção do cidadão comum surgiram logo pessoas que perceberam que deixar os terroristas colocar propagandistas no coração do nosso mundo não é grande ideia e Tony Blair afirmou mesmo que «as regras do jogo mudaram».

As propostas em termos de mudanças de lei devem ser sempre encaradas com muito cuidado para não se cair no erro de injustiças baseadas em generalizações ou isolar e alienar ainda mais os grupos afectados. Mas o que parece ser senso comum é que não podemos continuar a permitir que os pregadores de ódio espalhem o seu veneno impunemente. Existe um limite à liberdade de expressão e esse limite é claramente ultrapassado quando se apela à violência contra terceiros (a derradeira violação da liberdade individual).

Mas existe entre os países ocidentais uma estranha dualidade de critérios quanto à definição de terrorismo e tudo o que lhe é associado. Se é verdade que os imãs muçulmanos anti-ocidentais foram banidos e se persistirem no seu crime correm o risco de ser presos e acusados de traição (ou extraditados imediatamente) a verdade é que nada se fez em relação aos seus equivalentes cristãos (Phelps, Robertson …).

Será que por mudar o nome do livro que seguem isso lhes confere impunidade para fazer o que quiserem? Que critérios são esses que são tão rigorosos para uns e tão escandalosamente permissivos para outros? O que torna o ódio de um fanático cristão diferente do seu equivalente muçulmano?

Seja qual for o tipo de fanatismo ou ideologia que promova o ódio ele deve ser parado sem dar qualquer valor à sua origem ou aos seus seguidores. Só assim se pode impedir que situações horrendas como o terrorismo, a teocracia ou qualquer tipo de totalitarismo se tornem realidade.

28 de Agosto, 2005 Palmira Silva

Universidade da Califórnia não admite criacionistas

A rede de Universidades públicas americanas mais prestigiada, a Universidade da Califórnia, UC, compreendida por 10 universidades que incluem a Universidade pública mais bem classificada no ranking das Universidades americanas Berkeley, a UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e a UCSD (Universidade da Califórnia, San Diego), apresenta padrões elevados de admissão aos excelentes cursos que ministra, requerendo que os candidatos tenham completado no liceu diversas disciplinas em ciência, matemática, história, literatura e artes.

Critérios de admissão que não são satisfeitos pelos alunos das escolas cristãs da Califórnia, que não ministram algumas das disciplinas obrigatórias para a UC ou só as ministram nominalmente. Seguindo a boa tradição cristã da mania da perseguição, ou seja, fazendo publicidade com muitos gritos de perseguição e acusações de discriminação sempre que os seus anacrónicos ditames não são universalmente aceites, na sexta-feira uma associação de escolas secundárias cristãs representando 800 escolas e a Escola Cristã do Calvário acusaram a Universidade da Califórnia de discriminação contra as escolas que ensinam o criacionismo e outros pontos de vista cristãos e interpuseram uma acção contra a UC. Na acção são citadas cartas que o conselho de admissão da UC escreveu à Escola do Calvário dizendo, como seria de esperar, que algumas das disciplinas que esta ministra são demasiado pouco abrangentes para serem aceitáveis. Informando ainda a escola cristã que não aprovaria disciplinas de biologia e ciência assentes em livros de duas editoras cristãs, cujo conteúdo é mais cristão que científico.

O conselho de admissão da UC instruiu ainda as escolas para «submeter à aprovação da UC um curriculum secular de ciência com textos e orientação dos cursos que abordem conteúdos e conhecimento aceite pela comunidade científica». Instruções que as escolas não seguiram e de que só agora se queixam, provavelmente porque os seus alunos não conseguiram entrar na UC.

Patrick H. Tyler, o advogado da associação Advogados para a Fé e Liberdade (um oxímoro) que ajuda os queixosos, afirmou que «Parece que a UC está a tentar secularizar as escolas cristãs e impedir que estas ensinem a partir de um ponto de vista cristão».

Por sua vez a porta voz da UC, Ravi Poorsina, informou não poder comentar os detalhes da acção legal uma vez que a UC ainda não a tinha recebido. Mas disse que a Universidade tinha direito, legalmente reconhecido, a determinar quais os critérios de admissão para os candidatos à UC em termos das disciplinas efectuadas. E referiu que «O que fazemos de facto é para benefício dos estudantes. Estes critérios de admissão foram estabelecidos cuidadosamente pela faculdade e corpo docente para assegurar que os estudantes que cá chegam estão completamente preparados com o conhecimento de espectro largo e as capacidades de pensamento crítico necessárias para terem sucesso». E «Embora as escolas privadas tenham o direito de ensinar o que quiserem, os estudantes dessas instituições podem ser admitidos na UC completando as disciplinas obrigatórias em instituições comunitárias».

Ravi Poorsina declarou ainda que os estudantes das escolas cristãs podem ser admitidos com base apenas nos seus resultados nas provas nacionais SAT (o equivalente aos nossos exames do 12º ano). Mas, quiçá porque os curricula das escolas cristãs não propiciem bons resultados nas provas nacionais, na acção interposta é dito que por esta via de acesso os alunos cristãos têm muito poucas hipóteses de admissão.

Pessoalmente acho que é precisa muita desfaçatez para querer impor às Universidades critérios de admissão que satisfaçam as IDiotias cristãs. E considero que as Universidades americanas de mais prestígio brevemente seguirão o exemplo da UC. Porque alunos que acreditam que a Terra tem menos de 10 000 anos, que o Grand Canyon foi formado num dia pelo grande dilúvio, que Deus «criou» todas as espécies que existem na Terra em seis dias sem margens para evoluções ateias, isto para não falar na total ausência de espírito crítico, não têm lugar numa Universidade séria e digna do nome. Quiçá os delírios criacionistas que infestam os Estados Unidos sejam refreados quando os pais se aperceberem que os filhos tão cristãmente educados só têm lugar em Universidades de 2ª e 3ª categorias.