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Dia: 15 de Janeiro, 2005

15 de Janeiro, 2005 Palmira Silva

Verdade ou ficção: fé e reabilitação

Sob a égide do presidente G. W. Bush multiplicam-se nos Estados Unidos iniciativas destinadas a promover a religião, seja sob a forma de estudos pseudo-científicos sobre o poder da oração, apoios de mais de um bilião de dólares a organizações baseadas na fé, a criação de um gabinete destinado a financiar e promover essas organizações, o White House Office of Faith-Based and Community Initiatives (OFBCI), e ainda uma organização que presta auxílio na disseminação de informação sobre programas existentes e nas formalidades necessárias para aceder ao financiamento. Para além da criação de um plano «cristão» de saúde destinado aos trabalhadores federais, que exclui contraceptivos, interrupção voluntária da gravidez, esterilização ou reprodução assistida. Tudo possível porque o presidente Bush, depois de não ter conseguido convencer o Congresso de tal decisão, alterou por sua iniciativa as leis federais de forma a ser possível financiar organizações religiosas e planeia agora alteração de mais leis de forma a permitir o mesmo em relação a financiamento estadual.

Todas estas iniciativas, que violam claramente a laicidade do estado, princípio basilar da Constituição dos Estados Unidos, têm a oposição de vários grupos cívicos de que se destaca a organização Americans United for Separation of Church and State.

Uma das iniciativas promovidas pelo presidente em 1997, na sua qualidade de governador do estado do Texas, foi o programa InnerChange Freedom Initiative ao cargo da Prison Fellowship, uma organização fundada pelo conselheiro de Nixon, Charles W. Colson, condenado em 1974 pelo seu envolvimento no caso Watergate, cujos objectivos consistem em levar o Evangelho aos reclusos e aprofundar o seu relacionamento com Cristo. Como se esperaria de tal organização, o programa consistiu em sessões contínuas de evangelização, oração e aconselhamento cristão para um grupo de 177 voluntários. Um grupo equivalente que não participou no programa serviu de controle à experiência. Os resultados do programa foram analisados pelo Centro de Investigação em Religião e Sociedade Civil da Universidade da Pensilvânia, e divulgados com grandes parangonas e elogios nos jornais como sendo prova irrefutável da necessidade de mais programas religiosos para promover a reabilitação de reclusos, já que, de acordo com as fontes oficiais, se verificou que os participantes do programa apresentavam uma menor probabilidade de virem a ser detidos (17.3% contra 35% do grupo de controle) ou condenados (apenas 8% contra 20.3%).

Na realidade, os números reais indicam que os participantes no programa tiveram resultados piores que o grupo de controle, ou seja, que reincidiram mais em actividades criminosas. O que se passou foi que dos 177 reclusos que participaram no programa a Prison Fellowship ignorou a maioria e divulgou os resultados referentes a apenas 75 reclusos. Ou seja, os dados foram viciados de forma a demonstrar o sucesso retumbante de uma iniciativa na realidade falhada! Iniciativa falhada que neste momento se repete em inúmeras prisões americanas…