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Dia: 17 de Outubro, 2004

17 de Outubro, 2004 Ricardo Alves

Explicando Fátima

Existem várias explicações plausíveis para o facto de Lúcia afirmar ter tido várias conversas com uma galilaica (mitológica), que apesar de ter (alegadamente) vivido e morrido há dois mil anos, teria aparecido em Fátima empoleirada numa azinheira para protestar contra alguns actos legislativos dos governos de Afonso Costa.

(1) Lúcia mente. Jacinta mentiu menos, já que só via e ouvia, não falava. Francisco mentiu ainda menos, pois não ouvia, só via. Como estes dois morreram de forma convenientemente precoce e Lúcia está reclusa, é impossível entrevistá-los.

(2) As três crianças tiveram alucinações, por passarem por privações deliberadamente (fome, sede, sono…) conforme está documentado (aliás, a ICAR não apenas admite que eles passaram privações como os gaba por isso, defendendo que passar fome e faltar às aulas para rezar é um comportamento modelar). É sabido que muitos presos políticos sujeitos à tortura do sono alucinaram. A fome e a sede conduzem igualmente a estados de consciência alterada.

(3) As crianças ingeriram substâncias alucinogéneas. É outra possibilidade. Seria interessante estudar que género de cogumelos existem na zona da Cova da Iria.

(4) Lúcia sofre de uma doença mental que lhe provoca alucinações, por exemplo a esquizofrenia. Esta hipótese é reforçada por Lúcia afirmar que teve outras «visões» mais de dez anos depois.

(5) As crianças foram vítimas de uma maquinação. É indubitável que as crianças caíram sob a tutela do clero local pelo menos a partir da primeira alucinação. O «milagre do Sol», com várias pseudo-testemunhas industriadas para dizerem que haviam visto «qualquer coisa» (variável segundo as mesmas «testemunhas») denota um grande esforço de organização. Convém recordar que António Sérgio (o intelectual e ensaísta) esteve presente no local em 13/10/1917 e só viu nuvens.

Pessoalmente, estou persuadido de que a explicação começa em (2), tem o seu ponto fulcral em (5) e continua em (1), mas não descarto nem (4) nem (3).

17 de Outubro, 2004 Palmira Silva

O poder da oração ou o poder da fraude?

Em Outubro de 2001 um artigo de investigadores de uma das faculdades de Medicina mais respeitadas no mundo, o Columbia University’s College of Physicians and Surgeons, deu origem a grandes parangonas nos jornais de todo o globo, clamando ter sido provado cientificamente o poder da oração! Ainda sob o choque do ataque às torres gémeas, muitos americanos acreditaram que o artigo era um sinal de Deus!

Mais discretamente, e sem merecer cabeçalhos da imprensa internacional, o jornal de Medicina Reprodutiva, The Journal of Reproductive Medicine, retirou recentemente da sua página o dito artigo, que pretendia demonstrar os benefícios da oração em tratamentos de fertilidade, após a comunidade científica ter levantado sérias suspeitas sobre a validade do mesmo.

As suspeitas de fraude, especialmente vocais da parte de Bruce L. Flamm, da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), foram acentuadas após um dos autores do estudo, o único sem ligações à Columbia University, se ter declarado culpado num tribunal da Pensilvânia de uma série de acusações de fraude e falsificação de identidade.

O autor, Daniel Wirth, e o seu associado Joseph Steven Horvath, também condenado por fraude, têm um longo currículo de publicações em estudos dúbios de fenómenos paranormais ou sobrenaturais, afiliados com uma misteriosa instituição, a Healing Sciences Research International, aparentemente presidida por Wirth.

Muitos cientistas americanos sentem-se ultrajados pelo financiamento de dois milhões e trezentos mil dólares concedidos pelo governo federal a projectos que pretendem estudar o suposto poder da oração, algo que consideram um completo desperdício de tempo e dinheiro.

Especialmente se considerarmos que a administração Bush, no ano passado, tentou impedir a atribuição de fundos a uma lista de projectos considerados imorais e indignos de financiamento pela The Traditional Values Coalition (TVC), uma organização que representa 43000 Igrejas americanas. A tentativa falhou por dois votos no Congresso americano. Mas este ano foi votado favoravelmente bloquear duas bolsas do NIH e do National Institute of Mental Health (NIMH).

Não há indicações que a TVC levante objecções ao financiamento de projectos pseudo-científicos sobre o poder da oração! Bem pelo contrário!

Esta promiscuidade entre ciência e religião (e não só) levantou sérios protestos e, a pedido de Henry A. Waxman, os democratas no Government Reform Committee da U.S. House of Representatives elaboraram um relatório sobre o assunto, disponível aqui.

17 de Outubro, 2004 Palmira Silva

Tolerância zero para a pedofilia na Igreja Católica?

O Papa João Paulo II nomeou em Maio passado como Arcipreste da basílica patriarcal de Santa Maria Maior, uma das quatro maiores basílicas de Roma, o Cardeal Bernard Francis Law, o Arcebispo de Boston que foi obrigado a renunciar à posição na sequência do escândalo de pedofilia que abalou esta diocese e levou ao encerramento de dezenas de paróquias em Boston.

Entre os problemas gravíssimos da Igreja Católica de hoje são proeminentes a pedofilia, e, mais grave ainda, a complacência da hierarquia com essa abominação, negando, encobrindo, transferindo padres quando a situação se torna insustentável, enfim abafando todos os casos de abuso sexual de menores.

O Papa condenou os casos de pedofilia de sacerdotes, exigindo tolerância zero. Mas foram apenas palavras… que os actos do Papa desmentem!

Obrigado ao Luís Rodrigues pela informação!

Interessante ainda a resposta do cardeal Joseph Ratzinger ao ser interrogado sobre abusos sexuais do clero, que atribuiu o «enfraquecimento moral de tantos cristãos, e até a própria crise da Igreja» ao «aumento do interesse pela ideologia social e política» considerando que «Não é um bom sinal que muitos ambientes cristãos se caracterizem hoje não pela fé na Trindade, mas na fé de uma tríade repetitiva como mágica: ‘Paz, justiça, respeito pela natureza’». Porque «No sentimental ‘amor ao homem’ perde-se de vista a perspectiva cristã: o homem é, em geral, execrável, indigno de ajuda, não é amável em si mas, no fundo, só por amor daquele Jesus, graças ao qual somos todos irmãos.»