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Dia: 7 de Fevereiro, 2004

7 de Fevereiro, 2004 André Esteves

O temor… Base da religião.

” A religião é fundamentada primeiramente e sobretudo no temor.

Por um lado é o terror perante o desconhecido, por outro, o desejo de sentir uma espécie de irmão mais velho que esteja ao nosso lado quando nos sentimos receosos ou em dificuldades.

O temor é a base deste problema – temor do misterioso, temor do malogro, temor da morte.

E o temor engendra a crueldade, razão porque a vemos de mãos dadas com a religião.

O temor está na base de uma e de outra.

Neste mundo, começamos a compreender as coisas, a dominá-las um pouco com a ajuda da ciência – que vai abrindo caminho pouco a pouco apesar da oposição da religião cristã, das igrejas em geral e de todas as superstições.

A ciência pode ajudar-nos a vencer esse covarde terror em que a humanidade têm vivido durante tantas gerações; a ciência pode ensinar-nos, e penso que o nosso próprio coração nos pode também ajudar, a não mais procurar apoios imaginários à nossa volta, a não mais forjar aliados nos céus, mas a concentrar todos os nossos esforços aqui na terra, a fim de fazer deste mundo um lugar onde se possa viver agradavelmente, ao contrário do que têm feito todas as igrejas através dos séculos. “

Do livro, Porque não sou cristão. de Bertrand Russel – livro baseado na conferência ao South London Branch da National Secular Society, UK em 1927

Vão 83 anos desde estas palavras… Não perderam o seu toque de verdade.

Que comece o bom combate.

7 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Recordar o beato Pio IX é impedir que se esqueçam os seus crimes



A fúria beatificadora / canonizadora do actual pontificado não podia deixar de incluir Pio IX entre os merecedores de devoção.

Pio IX foi o último papa detentor de poder temporal. Mandou fuzilar patriotas garibaldinos, construir em 1850 os muros do gueto de Roma, encorajou os padres a baptizarem em segredo crianças judias retiradas aos pais, condenou a separação da igreja do estado, excomungou os que negavam a soberania temporal dos papas, os liberais, os maçons, os socialistas e os comunistas, enfim, foi um reaccionário violento – mesmo para um papa católico.

É verdade que enriqueceu a igreja com o dogma da sua própria infalibilidade e dos seus sucessores e o da virgindade de Maria. Não ponho em dúvida que o milagre de ter curado, sem intervenção cirúrgica, uma carmelita que fracturara uma rótula, a troco de rezar duas novenas que lhe foram dedicadas, pesou na beatificação com que JP2 o distinguiu no Verão do ano da graça de 2000.

Mas, o anti-semitismo primário de quem chamava cães aos judeus, deixou marcas culturais que tiveram o seu epílogo no holocausto perpetrado por nazis e fascistas em que pereceram seis milhões de judeus. É a memória desta tragédia que não nos permite esquecer o branqueamento que JP2 pretendeu com esta beatificação.

Recorde-se a encíclica Sillabus errorum onde Pio IX afirmou que a Igreja era “inconciliável com o progresso e a civilização” – palavras proféticas que calaram fundo no coração de João Paulo II.