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Categoria: Cristianismo

15 de Setembro, 2010 Fernandes

Santos Papas

São mais de 300 páginas com centenas de histórias pouco santas sobre a vida sexual dos Papas da Igreja Católica. O livro do jornalista peruano Eric Frattini, recém-chegado às livrarias portuguesas e editado pela Bertrand, percorre, ao longo dos séculos, a intimidade secreta de papas e antipapas, mas não pretende causar “escândalo”. Apenas “promover uma reflexão sobre a necessária reforma da Igreja ao longo dos tempos”.

Alguns morreram assassinados pelos maridos das amantes em pleno acto sexual. Outros foram depostos do cargo, julgados pelas suas bizarrias sexuais e banidos da história da Igreja. Outros morreram com sífilis, como o Papa Júlio II, eleito em 1503, que ficou na história por ter inventado o primeiro bordel gay de que há memória.

Nos conventos rezava-se para que morresse. João XII era bissexual e obrigava jovens a ter sexo à frente de toda a gente. Gozava ao ver cães e burros atacar jovens prostitutas. Organizou um bordel e cometeu incesto com a meia-irmã de 14 anos. Raptava peregrinas no caminho para lugares sagrados e ordenou um bispo num estábulo. Quando um cardeal o recriminou, mandou-o castrar. Um grupo de prelados italianos, alemães e franceses julgaram-no por sodomia com a própria mãe e por ter um pacto com o diabo para ser seu representante na Terra. Foi considerado culpado de incesto e adultério e deposto do cargo, em 964. Foi assassinado – esfaqueado e à martelada – em pleno acto sexual pelo marido de uma das suas várias amantes.

* Ler aqui.

14 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

Um clérigo que abomina a liberdade religiosa

Uma delegação liderada pelo reverendo protestante Ian Paisley, ex-primeiro-ministro da Irlanda do Norte, irá esta semana a Edimburgo para protestar contra a visita do papa Bento XVI ao Reino Unido.

O ex-chefe do Governo da Irlanda do Norte (2007-2008) e fundador da Igreja Livre Presbiteriana, Paisley liderará um grupo composto por cerca de 60 pessoas para manifestar na Escócia sua oposição à presença de Bento XVI, cuja visita qualificou de “erro”.

9 de Setembro, 2010 Ricardo Alves

Proibir? Não.

A pequena igreja da Florida que tenciona queimar publicamente o Corão quer, principalmente, atenção. Está no seu direito.  E vai consegui-la. A atenção. Todos vamos ficar a saber que são fundamentalistas cristãos apostados numa «guerra santa» de isqueiro e papel.

Proibir a queima do Corão está fora de causa (e seria tão errado como proibir o Corão, já agora). O papel e o cartão não têm sentimentos e não vão chorar ao ser queimados. E nenhum país civilizado proíbe que se queimem símbolos ou textos em público (com a excepção, discutida, dos símbolos nacionais).

Hillary Clinton critica publicamente a anunciada fogueira. E está bem: cabe-lhe garantir a ordem pública interna e a afirmação externa. Não pode, pelo contrário, proibir o acto em si, como pede um senhor do Cairo. Ainda se está dentro dos limites da liberdade de expressão. Embora haja muita coisa que, sendo legal, é ética e politicamente condenável.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

6 de Setembro, 2010 Carlos Esperança

Humor eclesiástico

Na Universidade de Verão do PSD

O padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, saiu-se com esta “anedota” há dias em Castelo de Vide: “Costumo dizer q a igreja precisa mto das mulheres… senão quem é q fazia as limpezas?!”

Sem comentários…

(contado no Facebook pela Celia de Sousa, jornalista na Antena 1)
Publicada por Susana Barros

4 de Setembro, 2010 Fernandes

A minha educação sexual

Quando descobri que certas toques eram particularmente agradáveis, aproveitava todas as ocasiões para aumentar essa descoberta. Certa vez a minha mãe apareceu inesperadamente e disse-me em tom severo: «proíbo-te de tocares nisso, é um pecado grave, e vais acusar-te dele na próxima confissão.» Como o desejo era mais forte que o interdito, continuava episodicamente as minhas práticas masturbatórias, na angústia e no medo da condenação eterna. O problema da masturbação acompanhou-me durante toda a adolescência.
Ao domingo, toda a família ia à missa. Se por infelicidade me tivesse masturbado, e não tivesse tempo de me confessar, ia à comunhão com a certeza de cometer um pecado mortal. Mas preferia correr esse risco a ter de suportar o olhar inquisidor do meu pai e a atitude dolorida da minha mãe. Não comungar, era confessar oficialmente o meu vício, a minha “fraqueza”.
Fiz os meus primeiros estudos num colégio interno dos Salesianos. toda a minha educação foi dominada pela noção da culpabilidade e do pecado. Lá, tudo era pecado: Falar no dormitório, não ir à missa todos os dias, queixar-se da comida, isolar-se com um companheiro para conversar ou jogar, não saber o catecismo ou desinteressar-se das lições de religião e moral. Qualquer falta à perfeição era sancionada conforme a gravidade, com uma reprimenda, algumas orações na capela, ou com um dever suplementar que consistia em copiar algumas passagens do Evangelho. As faltas mais graves eram punidas com castigos como, ficar a um canto virado para a parede, ficar de joelhos, ou de pé com os braços abertos como Jesus.
A minha educação foi orientada por alguns grandes princípios:
1º Deus está em toda a parte e vê-me em cada momento da minha vida. Pedir-me-á contas, no dia do juízo final, mesmo das acções mais ocultas.
2º Devemos procurar sem descanso a perfeição. Só a perfeição nos pode aproximar de Deus, que é perfeito.
3º Devemos desconfiar dos nossos instintos e más tendências. O bom cristão deve estar sempre vigilante, pois o Demónio está sempre pronto a seduzir-nos e a afastar-nos de Deus.
Os meios preconizados para conseguir cumprir este código eram a oração, a abstinência, o sacrifício permanente de si próprio, a luta quotidiana contra os maus pensamentos, sobre tudo em matéria de sexualidade, e a busca da perfeição em todos os actos da vida.
O confessor repetia-me muitas vezes: «Deus vê-te e julga-te. Pensa no sofrimento de Jesus que foi crucificado pelos nosso pecados.»
Quando penso nesses tempos, ainda me sinto esmagado. Era uma autêntica espiritualidade do terror.
Os meus pais intervieram muito pouco na minha educação. Tinham-me posto no colégio interno dos senhores padres. Tinham cumprido o seu dever.
Meu pai era aquilo a que se chama um bom cristão cumpridor. Tinha uma vida cristã bem organizada entre missas e comunhões regulares; pagava escrupulosamente o seu contributo para as despesas da Igreja e do Padre. Era um homem bom, mas demasiado preocupado com a sua própria angústia existencial.
Como todas as boas famílias cristãs, também tínhamos o nosso oráculo: o meu tio, jesuíta, culto e respeitado. Vinha almoçar uma vez por mês a nossa casa, e nós éramos obrigados a suportar os seus discursos sobre as teorias sociais da igreja.
Uma vez agarrou-me pelo braço, puxou-me para o terraço e lembrou-me: «Sabes que a masturbação é proibida» disse-me com ar ameaçador. «Não se deve mexer nas calcinhas às raparigas. Se isso já te aconteceu tens de te confessar.»
No colégio fui castigado por ter ficado em cuecas durante alguns minutos no dormitório. «Não podes ficar em cuecas diante dos teus colegas, podes provocar maus pensamentos» – foi a justificação.
Já tinha catorze anos quando o meu pai me faz a seguinte recomendação:
«desconfia das raparigas, mesmo das que, aparentemente, são umas pombas de brancura. São umas manhosas.»
Mas o ensinamento mais importante foi-me dado pelo nosso oráculo do domingo: «o único método contraceptivo autorizado é o das temperaturas.»
Eis um resumo do que foi a minha educação sexual oficial e familiar. Tudo o mais aprendi-o como me foi possível; nas piadas dos meus colegas e algumas revistas pornográficas que passávamos uns aos outros.

30 de Agosto, 2010 Carlos Esperança

Maria Madalena_1

Madalena

( Crónica a partir da tradição popular, modificada.)

Naquele tempo, em Magdala, na antiga Palestina, uma multidão preparava-se para apedrejar Maria sobre quem recaía a acusação de ser pecadora. Fora um boato posto a correr, talvez por um corcunda da tribo de Manassé, ressentido por se ter visto recusado, que a sujeitara àquele veredicto popular de que não cabia recurso. O princípio do contraditório ainda não tinha sido criado nem era hábito ouvir o acusado, principalmente sendo mulher, nem a absolvição estava enraizada nos hábitos locais. A lapidação de Maria tinha transitado em julgado.

A lapidação era, aliás, um divertimento muito em voga, que deixava excitados os autóctones que habitavam as margens do rio Jordão que atravessava o Lago Tiberíade a caminho do mar Morto. Diga-se, de passagem, que esse desporto ainda hoje é muito popular em numerosos países, para imenso gáudio das multidões, e não faltam adeptos um pouco por toda a parte.
Aconteceu que andando o Senhor Jesus a predicar por aquelas bandas, depois de indagar o que se passava,  aproveitou a multidão para se lhe dirigir,  e disse:
–    Aquele de vós que nunca errou que atire a primeira pedra.

O nazareno tinha créditos firmados com vários milagres e até a cura de um leproso lhe era atribuída entre os galileus. Falava-se mesmo, com rancor entre os fariseus, que teria ressuscitado um morto de nome Lázaro. Vários independentes já lhe tinham manifestado apoio, como sucede sempre que o poder está em vias de mudança.

Todos pareceram hesitar. Muitos deixaram cair as pedras com que se tinham municiado. Havia mesmo alguma crispação nos que vieram de longe, com sacrifício, e um certo desapontamento de todos os que esperavam divertir-se. Só o Senhor Jesus continuava sereno, a medir o alcance das sua palavras. Mas, eis que da multidão se ergueu um braço e Maria de Magdala caiu derrubada por uma pedrada certeira.
Enquanto algumas pessoas a reanimavam, na esperança de repor o espectáculo que tão depressa se esgotara, o Senhor Jesus foi junto do atirador e disse-lhe:

–    Então tu, meu filho, nunca erraste?

–    Senhor, a esta distância, nunca.

23 de Agosto, 2010 Fernandes

O Espírito Santo

Um tema muito querido aos crentes é o do Espírito Santo.

Em latim “animus” era sinónimo de “spiritus”, e referia-se à respiração. Também correspondia a “animal”, entendido como ser animado, ou seja; que respira. Em sânscrito, os movimentos de respiração, designam-se por “brahman”, sopro ou expiração; e “atman”, inspiração. Em grego, “pnema” e “psyche”, e ambos deram origem ao “spiritus” latino.Resumindo, a alma não é mais do que o acto de respirar.

Não foi por acaso que Deus se limitou a “soprar” o seu alento nas narinas de Adão numa espécie de “animação” boca a boca, para divinamente lhe insuflar a vida.

A propósito de linguística teológica (ou teologia linguística), é interessante notar que a passagem do hebreu “ruach” para o grego “pneuma” e para o latino “spiritus” sofreu uma dupla transformação de género: de feminino a neutro, e depois a masculino. Para os linguistas, o assunto termina aqui. Para os teólogos começa uma das suas habituais diatribes metafísicas sobre o “género” do Espírito Santo”. Os adventistas do sétimo dia acham que deve ser feminino como no original hebreu.

As invenções mitológicas sobre o nascimento de Jesus, confiam ao Espírito Santo a tarefa da concepção virginal de Maria. Segundo Mateus; «Maria engravidou pelo poder do Espírito Santo»; mas em Lucas, é um anjo que diz a Maria: o Espírito Santo virá sobre ti.

A partir de então o dito Espírito Santo é apresentado sob a forma de línguas de fogo de pentecostes, imposição das mãos, ou sob a forma de uma pomba branca, em voo picado, descendo a partir de um céu desgarrado com muitas nuvens, raios e acompanhado de uma frota de anjos, como aparece pintado na nave central da basílica do Vaticano.

Se hoje em dia as expressões literárias acerca do Espírito Santo não nos aquecem nem arrefecem, no passado não sucedeu o mesmo.

O Credo promulgado em 325 pelo primeiro Concílio de Niceia terminava simplesmente assim: «creio no Espírito Santo». Mas no Concílio de Constantinopla, em 381, foi modificado e acrescentado: «procede do pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado». Esta versão ainda é usada hoje em dia, por gregos e russos, e católicos orientais, coptos, maronitas, caldeus, romanos, arménios, ucranianos…

Em 421, o Concílio de Éfeso decidiu que o Credo de Constantinopla era inalterável. Mas em 447 o Sínodo de Toledo por sugestão do Papa Leão I, alterou-o decidindo que: «procede do pai e do Filho». Para eliminar as possíveis conotações de que o filho poderia ser “inferior” ao Pai. Em 809 o Concílio de Aachen e o Papa Leão II, proíbem-no. Isso não impediu que fosse adoptado pelo Papa Benedicto VIII em 1014, para a coroação do imperador Henrique II. Em 1054, o Papa Leão IX e o patriarca Miguel I, devido a este assunto tão grave, excomungaram-se mutuamente dando início ao cisma.

Apesar das tentativas de reconciliação em 1274 e 1439, por altura do segundo Concílio de Lyon e de Basileia, continuam zangados, separados até aos dias de hoje. Ironicamente, cada uma delas apelida-se de «igreja una, santa, católica e apostólica» e acusa a outra de cismática, apesar das respectivas excomunhões terem sido retiradas em 1965 pelo Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras I.

Em 6 de Agosto de 2000 numa tentativa de superar o problema considerado anacrónico inclusivamente pelo Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, publicou uma Declaração Oficial firmada pelo então Cardeal Ratzinger, intitulada “Dominus Jesus”, que reproduzia o texto latino do Credo sem a cláusula que os dividia.

– Parafraseando Thomas S. Eliot em The Hollow Men [os homens ocos], assim termina a teologia: – não com um berro mas com um silêncio.

Não deixa de ser divertido, o Vaticano atribuir ao divino Espírito Santo, a responsabilidade de eleições “demasiado” humanas, para “validar” as sua mais diversas decisões, como a eleição do Papa ou os pronunciamentos doutrinários. Espírito Santo esse, que não é mais do que a “espiritualidade dos cães” de que fala Charles Darwin” na, Origem do Homem.

No entanto, o espírito Santo passou a escrever-se com maiúsculas, e foi promovido a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Para os mais ignorantes a Igreja esclarece que o espírito santo: «edifica, anima e santifica a Igreja».

23 de Agosto, 2010 Fernandes

Exorcismo e superstição

As “paixões” da culpabilidade podem ser causa de desequilíbrios psicossomáticos, e portanto factores de doença. «O logos do Pai, – escreve Clemente de Alexandria- , é o único médico que convém à fraqueza humana. Ele conserva a saúde, ele descobre os males, ele aponta as causas das doenças, ele corta as raízes dos apetites malsãos, ele prescreve um regime de vida, ele receita todos os contravenenos que podem salvar do mal.» Por seu lado, Orígenes escreve: «Nós curamos com o remédio da fé!»

Levando esta teoria às últimas consequências, os cristão chegaram a considerar ilícito o uso de medicamentos, como se só da oração e do exorcismo se pudesse esperar a saúde. Taciano, permitia o uso de remédios aos pagãos, mas proibia-o aos cristãos. « A cura pelos remédio» escreve ele, «provém em todos os casos, dum engano, pois se alguém é curado pela sua confiança nas propriedades da matéria, sê-lo-á muito mais se se abandonar à força de Deus.»

É verdade que nunca os cristãos pensaram que podiam curar sem a ajuda de Deus. Recorriam sempre à oração dos presbíteros e à unção sacramental. Em certos casos, pensava-se que a doença era devida a possessões demoníacas, e utilizou-se, por vezes em excesso, o exorcismo, sempre praticado em nome de Cristo.

Pouco a pouco, nas franjas do cristianismo, apareceram superstições e pseudomilagres, que ainda estão muito em uso no mundo cristão, mesmo esclarecido. É interessante registar que este tipo de “religiosidade”, com exorcismos, relíquias, amuletos e cerimónias mágicas, começou logo nos primeiros anos. Superstição e falsos milagres médicos, sempre andaram de mãos dadas na religião. Para o facto contribuiu o próprio Cristo: «Ide-vos embora» ordena Cristo aos dois doentes possessos de Gerasa. «Cala-te e sai deste homem», diz ele ao possesso dum espírito imundo da sinagoga. Hoje essas doenças pertencem ao campo da epilepsia e histeria.

Há alguns anos, o apresentador de televisão Pierre Dumayet, fez na televisão uma emissão sobre os ritos mágicos de que se serviam alguns camponeses para proteger o seu gado, cuja morte inexplicável era atribuída ao Demónio. O Prior da freguesia aparecia complacente no pequeno écran para explicar que recitava as orações do exorcismo e que isso dava excelentes resultados. Era mais eficaz e menos caro do que o veterinário. É interessante que os camponeses chamavam sempre o veterinário. Se, estatisticamente, os resultados obtidos com as orações exorcizantes fossem satisfatórios, não recorreriam a ele.

O objectivo da educação cristã deveria, pois, ser o de fazer homens livres, responsáveis, capazes de se conhecerem e aceitarem na plenitude que permite o dom generoso de si próprio. E não o de  espalhar a superstição.