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O Espírito Santo

Um tema muito querido aos crentes é o do Espírito Santo.

Em latim “animus” era sinónimo de “spiritus”, e referia-se à respiração. Também correspondia a “animal”, entendido como ser animado, ou seja; que respira. Em sânscrito, os movimentos de respiração, designam-se por “brahman”, sopro ou expiração; e “atman”, inspiração. Em grego, “pnema” e “psyche”, e ambos deram origem ao “spiritus” latino.Resumindo, a alma não é mais do que o acto de respirar.

Não foi por acaso que Deus se limitou a “soprar” o seu alento nas narinas de Adão numa espécie de “animação” boca a boca, para divinamente lhe insuflar a vida.

A propósito de linguística teológica (ou teologia linguística), é interessante notar que a passagem do hebreu “ruach” para o grego “pneuma” e para o latino “spiritus” sofreu uma dupla transformação de género: de feminino a neutro, e depois a masculino. Para os linguistas, o assunto termina aqui. Para os teólogos começa uma das suas habituais diatribes metafísicas sobre o “género” do Espírito Santo”. Os adventistas do sétimo dia acham que deve ser feminino como no original hebreu.

As invenções mitológicas sobre o nascimento de Jesus, confiam ao Espírito Santo a tarefa da concepção virginal de Maria. Segundo Mateus; «Maria engravidou pelo poder do Espírito Santo»; mas em Lucas, é um anjo que diz a Maria: o Espírito Santo virá sobre ti.

A partir de então o dito Espírito Santo é apresentado sob a forma de línguas de fogo de pentecostes, imposição das mãos, ou sob a forma de uma pomba branca, em voo picado, descendo a partir de um céu desgarrado com muitas nuvens, raios e acompanhado de uma frota de anjos, como aparece pintado na nave central da basílica do Vaticano.

Se hoje em dia as expressões literárias acerca do Espírito Santo não nos aquecem nem arrefecem, no passado não sucedeu o mesmo.

O Credo promulgado em 325 pelo primeiro Concílio de Niceia terminava simplesmente assim: «creio no Espírito Santo». Mas no Concílio de Constantinopla, em 381, foi modificado e acrescentado: «procede do pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado». Esta versão ainda é usada hoje em dia, por gregos e russos, e católicos orientais, coptos, maronitas, caldeus, romanos, arménios, ucranianos…

Em 421, o Concílio de Éfeso decidiu que o Credo de Constantinopla era inalterável. Mas em 447 o Sínodo de Toledo por sugestão do Papa Leão I, alterou-o decidindo que: «procede do pai e do Filho». Para eliminar as possíveis conotações de que o filho poderia ser “inferior” ao Pai. Em 809 o Concílio de Aachen e o Papa Leão II, proíbem-no. Isso não impediu que fosse adoptado pelo Papa Benedicto VIII em 1014, para a coroação do imperador Henrique II. Em 1054, o Papa Leão IX e o patriarca Miguel I, devido a este assunto tão grave, excomungaram-se mutuamente dando início ao cisma.

Apesar das tentativas de reconciliação em 1274 e 1439, por altura do segundo Concílio de Lyon e de Basileia, continuam zangados, separados até aos dias de hoje. Ironicamente, cada uma delas apelida-se de «igreja una, santa, católica e apostólica» e acusa a outra de cismática, apesar das respectivas excomunhões terem sido retiradas em 1965 pelo Papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras I.

Em 6 de Agosto de 2000 numa tentativa de superar o problema considerado anacrónico inclusivamente pelo Vaticano, a Congregação para a Doutrina da Fé, publicou uma Declaração Oficial firmada pelo então Cardeal Ratzinger, intitulada “Dominus Jesus”, que reproduzia o texto latino do Credo sem a cláusula que os dividia.

– Parafraseando Thomas S. Eliot em The Hollow Men [os homens ocos], assim termina a teologia: – não com um berro mas com um silêncio.

Não deixa de ser divertido, o Vaticano atribuir ao divino Espírito Santo, a responsabilidade de eleições “demasiado” humanas, para “validar” as sua mais diversas decisões, como a eleição do Papa ou os pronunciamentos doutrinários. Espírito Santo esse, que não é mais do que a “espiritualidade dos cães” de que fala Charles Darwin” na, Origem do Homem.

No entanto, o espírito Santo passou a escrever-se com maiúsculas, e foi promovido a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Para os mais ignorantes a Igreja esclarece que o espírito santo: «edifica, anima e santifica a Igreja».