Loading

Categoria: Política

25 de Dezembro, 2017 Carlos Esperança

O PR francês e a laicidade

Le Figaro.fr e a AFP informaram que o PR francês, Sr. Macron, recebeu no Palácio do Eliseu, representantes das ‘seis principais religiões’ (i.e., as de maior poder financeiro e peso eleitoral).

Na sequência da audiência concedida, no dia 21 deste mês de dezembro, aos dignitários das Igrejas católica, protestante, ortodoxa, muçulmana, judia e budista, afirmou-lhes que estaria “vigilante” quanto ao risco de uma “radicalização da laicidade”.

Não se admitindo que o PR francês desconheça a matriz centenária da Constituição, que o obriga a defender a laicidade, só a demagogia explica a prometida vigilância, como se a maior virtude e exigência das democracias fosse crime.

Quanto à “radicalização da laicidade”, paradoxo que só pode nascer na cabeça obtusa de um clérigo ou na subserviência torpe de um político sem coluna vertebral, urge explicar-lhe que a radicalização da neutralidade, seja no que for, é uma impossibilidade conceptual.

«A França tornou-se oficial e expressamente um Estado laico a partir da promulgação de sua Constituição de 1958, tendo os limites do conceito de laicidade sido positivados desde 1905, na “Lei de Separação”, onde consta:
Art. 1º: A República assegura a liberdade de consciência. Ela garante o livre exercício das religiões.
Art. 2º: A república não reconhece, não assalaria e não subsidia nenhuma religião.»

Macron esquece os deveres a que está obrigado para salvaguardar o seu futuro político, mas hipoteca a vigilância do proselitismo que dilacera a sociedade, na luta religiosa pela quota ou hegemonia do mercado da fé.
Não há democracia nem liberdade religiosa sem a laicidade, isto é, sem a neutralidade religiosa do Estado, a quem cabe defender todas as crenças, descrenças e anti crenças.

Parece ignorar as guerras religiosas que dilaceraram a Europa, até à paz de Vestefália, e que continuam a ensanguentar o mundo!

17 de Agosto, 2016 Carlos Esperança

Laicidade – O que esconde o Burkini?

Em França, os autarcas estão a proibir progressivamente o ‘burkini’ em praias e piscinas públicas, em nome da segurança, depois de conflitos violentos entre islamitas e não islamitas.

A religião tem um potencial de detonação de violência e ódio que não pode surpreender-nos, e adiar decisões que minimizem os conflitos não é a melhor solução.

O burkini, feito do mesmo tecido do biquíni, não pode ser proibido em nome da higiene, e o respeito pelas liberdades individuais devia admiti-lo pois, ao contrário da burka e do capacete das motos, não ocultam a identificação que as razões de segurança impõem.

A questão reside no confronto que o Islão procura e a extrema-direita europeia aplaude, uma exibição da pertença religiosa que faz parte do proselitismo e que o comunitarismo estimula para fazer prova de força e provocar o martírio que atrai indecisos para a jihad.

A Europa, que amoleceu a defesa da laicidade, encontra-se sem armas e sem razão para proibir no espaço público, que deixou confiscar por outras religiões, adornos que visam o confronto, e é obrigada, em nome da democracia, a defender os provocadores.

Todas as religiões têm uma agenda política, e os monoteísmos prosélitos não descuram o seu cumprimento. O cristianismo não deixa de impor nomes de santos a cidades, vilas, aldeias, bairros, ruas e aeroportos, e tenta colocar a parafernália pia, crucifixos, imagens de santos e da Senhora de Fátima, nos corredores das enfermarias dos hospitais públicos e nas paredes dos edifícios do Estado e das autarquias, em Portugal.

Quando tal acontece com o cristianismo, cuja repressão sobre o clero, levou à aceitação da laicidade, sabe-se o que acontece com o mais implacável dos monoteísmos, na fase atual, em obediência ao guerreiro a quem atribuem a cópia grosseira do judaísmo e do cristianismo, sem Renascimento, Reforma, Iluminismo e Revolução Francesa!
Não é por mera devoção que, aos fins de semana, hordas de muçulmanos de várias localidades invadem Paris e fecham ruas ao trânsito para rezarem virados para Meca.

As religiões são associações de crentes, que devem ser respeitadas e submetidas a todas as obrigações legais de qualquer outro tipo de associação. Sem imposição do laicismo, sem efetiva separação das Igrejas e do Estado, as medidas avulsas estão condenadas ao fracasso.

O burkini não esconde o corpo da mulher (direito que lhe assiste), exibe a submissão à religião e ao homem e indica a vontade de provocação a uma sociedade secularizada e cosmopolita que o Islão está apostado em destruir.

burkini_Islamo

14 de Agosto, 2016 Carlos Esperança

Há 80 anos – A Guerra Civil espanhola e o massacre de Badajoz (14-08-1936)

É dos horrores mais sinistros cometidos pelos homicidas de Franco no início da sublevação que derrubou a República espanhola.

O governo legal tinha contra si o fascismo, que se expandia na Europa, e a feroz hostilidade da Igreja católica. A sublevação, além de apoiada por Hitler e Salazar, foi abençoada pelo Vaticano que concedeu o carácter de Cruzada às forças rebeldes e jamais quebrou o silêncio perante as atrocidades dos seus.

Em Badajoz, após violentos combates, iniciados no dia 12, os resistentes renderam-se a 14. E foram prontamente fuzilados pelas tropas sublevadas, comandadas pelo general Juan Yagüe, que, após a guerra civil, viria a ser ministro da Força Aérea, de Franco. Ficou conhecido como ‘o carniceiro de Badajoz’.

Os historiadores admitem que possam ter chegado a 4.000 (10% da população da cidade) as vítimas do massacre, sumariamente fuziladas e cuja investigação foi [e é] impedida.

Como nota de nojo pelo regime salazarista, deve acrescentar-se que a GNR prendeu as vítimas que se refugiaram do lado de cá da fronteira e entregou-as para serem fuziladas, enquanto os sediciosos foram protegidos em solo português antes da rendição.

Faz hoje 80 anos e a Espanha ainda sangra.

11 de Agosto, 2016 Carlos Esperança

Atropelo à laicidade_2

Silly season – A Casa da Moeda e o fervor religioso

Os responsáveis pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda, atentos aos anseios do País, tinham programado lançar uma moeda de dois euros com a efígie do Papa Francisco. A ideia de cunhar tal moeda devia merecer a severa condenação dos poderes públicos ou uma valente gargalhada, o que não aconteceu, por falta de ética republicana, no primeiro caso, ou de sentido de humor, no segundo.

A tentativa de cunhar uma moeda de 2 euros com a efígie do papa Francisco não nasceu na sacristia, surgiu num organismo do Estado onde o proselitismo religioso é descabido e a laicidade uma exigência legal. Valeu-nos a recusa do Vaticano e a condenação da deputada Isabel Moreira, para salvar o País da vergonha.

É de crer que, depois de uma moeda de 2 euros com o Papa, surgisse uma de 1 euro com o patriarca de Lisboa, outra de 50 cêntimos com o rabino de Lisboa e moedas de 20 e 10 cêntimos, para os trocos, respetivamente com o sheik Munir e um pastor da IURD.

Finalmente, a Casa da Moeda havia de querer cunhar uma moeda de ouro de 500 € com a imagem da Sr.ª de Fátima e, talvez de 1000, com o próprio Deus. Foi preciso travar a Administração.

A falta de pudor republicano e a iliteracia cívica produzem estas parvoíces.

https://www.noticiasaominuto.com/politica/634909/era-o-que-faltava-o-pais-andar-com-uma-moeda-com-a-cara-do-papa

18 de Julho, 2016 Carlos Esperança

O golpe de Estado na Turquia

Não imagino o que pretendiam os militares amotinados, nem faço juízos de valor sobre o golpe de Estado num país cuja democracia serviu a Erdogan para tomar o poder e não mais o largar.

Ele tem o hábito de prender jornalistas e calar os órgãos de comunicação social que lhe fazem oposição. Militares e juízes eram guardiões da laicidade, os primeiros de forma democraticamente inaceitável, mas os segundos legitimados pela separação de poderes e pela Constituição.

Agora passará a ter um exército dócil. O afastamento de 2745 juízes, que dificilmente pode implicar no golpe, revela a determinação de remover todos os obstáculos ao poder absoluto.

O golpe não terá sido inspirado por Erdogan, mas parece. Foi a «dádiva de Deus», que referiu, e dificilmente teria sido organizado sem conhecimento da rede islâmica que o apoia. A cínica frieza com que o aguardou nunca será provada, mas os objetivos dos revoltosos passarão a ser os que ele entender. Os motivos dos amotinados serão os que o sultão quiser. A Turquia estava condenada a um regime autoritário, laico ou confessional.

As liberdades vinham a ser sucessivamente limitadas, com a perseguição de jornalistas e juízes, com a restrição das liberdades individuais e a progressiva reislamização.

A forma rápida e segura como o Sultão chegou ao aeroporto de Istambul revela que os mecanismos do poder estavam controlados.

A UE tem mais um problema. A Turquia é a jangada que se afasta dos valores europeus a caminho das mesquitas, com o poderoso exército da Nato atrás.

Erdogan, permitiu uma rota jihadista de voluntários e armas para a Síria e a organização de células do Estado Islâmico no País. Agora, quando o EI estava a virar-se contra ele, em vez de ser um alvo, pode disputar à Arábia Saudita a sua inspiração e controlo.

O Sultão neo-otomano, liquidado o legado de Atatürk, reforçou condições para reprimir os curdos e os arménios, abolir as liberdades individuais e tentar reinventar o Califado, mas o mais provável é fazer deslizar o País para o caos que devasta o Médio-Oriente.

17 de Julho, 2016 Carlos Esperança

Turquia – a segunda morte de Atatürk?

Por

E-pá

Por natureza cívica (civil) e por formação democrática (representativa) não nutro qualquer tipo de simpatia por golpes militares.
A política – entendida com um civilizado terreno de luta doutrinária com vista ao bem comum – não pode ter as suas reservas morais sediadas em casernas ou paradas. Como não pode ficar contida nas paredes das igrejas ou mesquitas.
Contudo, estas preposições de princípio não podem inibir uma análise dos factos (sem atribuir-lhe um conteúdo meramente justificativo) e uma interpretação de todas as consequências (reais, possíveis e até especulativas).
A tentativa de golpe militar ocorrida ontem na Turquia tem uma elevada capacidade intrínseca para alterar frágeis equilíbrios no Médio-Oriente, já que este país, está colocado no epicentro de numerosos conflitos (guerra civil síria, colapso do Iraque, etc.) e altas tensões políticas (Irão) e sociais (migratórias).
No entanto, as grandes consequências serão internas, isto é, no regime. O 15 de Julho poderá ficar na história do Levante como o fim de uma já manietada democracia turca, onde a liberdade de expressão (fecho de órgãos de comunicação e prisão de jornalistas), a separação de poderes (depurações do edifício judicial), a independência das forças militares (decapitação selectiva das cadeias de comando) e os direitos das minorias (genocídio arménio e repressão sobre curdos) são diariamente constatadas e violadas, com a olímpica complacência do Ocidente.
O golpe fracassado de ontem vai possibilitar o desmantelamento da república turca criada por Atatürk, em 1923, na sequência da derrocada do califado otomano. A Turquia vai encetar, a todo o gás, uma deriva para estabelecer um Estado Islâmico. A laicidade – a separação entre a política e a religião – que foi um apanágio da nova republica turca vai dar lugar à sharia. Os primeiros indícios estão aí link.
Ficam no ar, para a posteridade, várias questões:
– A Turquia vai continuar a ter condições para ser o braço armado da NATO na região?
– A Turquia vai ressuscitar, sob a sombra tutelar de Erdogan, o velho califado e assimilar o Daesh?
– A Turquia e a UE vão continuar as conversações sobre uma eventual adesão ou associação?
Não deverá demorar muito até termos respostas para estas questões.
Entretanto, no rescaldo do golpe, devem celebrar-se as exéquias da República. Tudo indica que Atatürk foi vitimizado com uma segunda morte.
5 de Julho, 2016 Carlos Esperança

Filipinas – País de mais de 7 mil ilhas de insânia e catolicismo primitivo

O insólito acentua-se e a democracia não o impede. Rodrigo Duterte, o novo presidente das Filipinas, tomou posse e, numa das primeiras declarações, incita o povo a matar os toxicodependentes. A sanidade mental deixou de ser obrigatória para o cargo.

O déspota conquistou, aos 71 anos, a presidência do país de 100 milhões de habitantes, com a promessa de ser ‘ditador’ e ‘chacinar os maus’, se necessário com execuções sumárias e esquadrões da morte.

Deve à frequência de colégios católicos a esmerada formação cultural, mas a violação, por um padre pedófilo americano, talvez tenha contribuído para o carácter violento que é seu apanágio desde a juventude.

Rodrigo Duterte era acusado de ter conduzido, durante mais de 20 anos, uma campanha de execuções extrajudiciais, como presidente da cidade Davao e prometeu, de facto, aplicar em Manila a sanguinária gestão autárquica. «As funerárias vão ficar repletas. Eu levo os cadáveres» – garantiu na campanha o implacável assassino.

As razões que o teriam levado à cadeia, num país civilizado, por incitamento ao crime, garantiram-lhe a eleição numa república presidencialista.

Organizações de direitos humanos responsabilizam Duterte por mais de 1700 execuções sumárias, enquanto autarca. Quantas serão efetuadas no mandato de seis anos que inicia com o apelo ao povo para exterminar os toxicodependentes? O fascismo católico mostra aqui a sua expressão no país onde os jovens se fazem crucificar em manifestação de fé. crucificacao

17 de Junho, 2016 Carlos Esperança

O PR e as peregrinações

Depois do beija-mão ao Papa, um ato de subserviência pia que transforma um País num protetorado do Vaticano, o PR volta a esquecer a função e participa em maratonas pias.

O cidadão Marcelo pode defumar-se em incenso, viajar genufletido à vota do oratório de casa e empanturrar-se de hóstias, o que não pode é submeter a República à benzedura de um bispo, participar como Comandante Supremo das FA em peregrinações, novenas, missas de ação de graças ou penitências pelos pecados próprios e alheios.

Um jurista eminente, não pode esquecer a Constituição, no êxtase da transubstanciação da hóstia, no consolo do borrifo da água benta ou na persignação ao ritmo do comando de um clérigo.

A ética republicana é incompatível com exibições públicas de fé, propaganda religiosa e devaneios beatos.
Uma lufada de ar fresco do novo PR ressarciu o País da horrenda herança do antecessor e não pode transformar o ar que tornou mais respirável num gás poluído pela sacristia.

Assim, não! A laicidade é um valor que não pode estar à mercê das crenças do PR.

17 de Junho, 2016 Carlos Esperança

Uma vergonha nacional e um atentado à laicidade

Ordinariato Castrense: Militares e polícias peregrinam ao Santuário de Fátima em encontro nacional

Presidente da República participa na peregrinação jubilar esta sexta-feira

Lisboa, 16 jun 2016 (Ecclesia) – A Peregrinação Militar Nacional a Fátima começa hoje e o bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Manuel Linda, revelou à Agência ECCLESIA que o presidente da República Portuguesa vai participar na Eucaristia de encerramento esta sexta-feira.