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Mês: Novembro 2006

19 de Novembro, 2006 lrodrigues

The God Delusion

«Hoje qualquer um de nós poderia dar uma aula a Aristóteles. Poderíamos mesmo maravilhá-lo até ao mais profundo do seu ser. É este o imenso privilégio de termos vivido depois de Newton, Darwin, Einstein, Plank, Watson, Crick e todos os seus colegas».
– Richard Dawkins

Richard Dawkins nasceu em Nairóbi, no Quénia, no dia 26 de Março de 1941.
É actualmente professor na Universidade de Oxford.

Ateu convicto, Richard Dawkins tornou-se famoso com a publicação em 1976 do seu livro «O Gene Egoísta» em que defende uma visão evolucionista centrada no gene, e mais tarde , em 1982 com o livro «O Fenótipo Estendido».
Autor de uma extensa bibliografia, Richard Dawkins publicou recentemente o livro «The God Delusion», onde se manifesta exasperado com os seus colegas que procuram na ciência uma justificação para as suas convicções religiosas.

No dia 23 de Outubro de 2006 Richard Dawkins fez uma extraordinária apresentação precisamente do seu último livro «The God Delusion», numa Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos.
Nestes dois filmes Richard Dawkins lê (no primeiro) alguns excertos do livro, e depois responde (no segundo) a algumas perguntas dos alunos.

Absolutamente imperdível!!!

The God Delusion:

Perguntas e Respostas:

(Publicado simultaneamente no «Random Precision»)

18 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Referendo à talibanização nacional

Como há muito alertamos, a conjuntura internacional que vivemos torna as populações vulneráveis aos ataques dos fundamentalistas de todas as religiões. Um pouco por todo o Ocidente, assistimos a um ataque sem tréguas das várias versões do cristianismo aos valores em que assenta a nossa sociedade democrática, tolerante e supostamente laica. Valores humanistas desde sempre especialmente combatidos pela Igreja de Roma.

Para além de unidos pelo ódio aos que não se subjugam aos ditames neolíticos do cristianismo, os responsáveis eclesiásticos de todos os flavours do cristianismo estão igualmente unidos na responsabilização da laicidade na crise que atravessamos. Crise que, paradoxalmente, tem na sua génese exactamente a panaceia que recomendam: o fundamentalismo religioso!

Por outro lado, os moderados de todas as fés desculpam por norma os excessos cometidos em nome da respectiva religião, já que confundem fanatismo e fundamentalismo com convicção ou coerência religiosas. Aliás, numa das suas homilias de segunda o nosso cavaleiro da pérola redonda, o J.C. das Neves que não faz a mínima ideia o que seja tolerância, ululava contra a laicidade e o oxímoro «fanatismo laico», carpindo serem os «fanáticos religiosos» «desequilibrados mas fiéis à sua fé» enquanto os tais «fanáticos laicistas» – que segundo o spin doctor do catolicismo mais ultramontano elegeram a tolerância como dogma – são «inconsistentes» já que não «toleram» ser regidos pelas patetadas debitadas como «valores radicados na natureza mesma do ser humano».

Os exemplos que nos chegam de todo o mundo e de todas as confissões religiosas indicam claramente que precisamos despertar desta complacência e não transigir no mínimo desvio à laicidade! A defesa da laicidade é de facto absolutamente essencial para que não assistamos ao retrocesso civilizacional que as diferentes versões do cristianismo querem impor nos países onde são maioritárias, com constantes ululações de «blasfémias» e afins, pressões políticas e mediáticas, e uma inadmíssivel imiscuição no Direito desses países!

Como o filósofo Sam Harris explica, a atitude complacente em relação às religiões é uma ameaça latente para o modelo de sociedade que queremos construir, uma sociedade tolerante assente em princípios democráticos e na defesa dos direitos do Homem.

Ameaça latente que cá no burgo se vai explicitar muito em breve, já que Portugal vai referendar não apenas a IVG mas igualmente a influência da delegação nacional da Igreja de Roma na esfera política! Apenas os mais distraídos – ou os mais ingénuos – ainda não se aperceberam que o desmesurado empenhamento da ICAR e seus apaniguados no referendo que se aproxima não reflecte qualquer «defesa intransigente da vida» mas sim uma defesa intransigente do poder político da Igreja!

Trinta anos passados sobre o 25 de Abril e acabada a travessia do deserto que a promiscuidade entre a ditadura e a Igreja impôs no Portugal democrático, os representantes mais fanáticos do catolicismo jurássico metralham em força os seus dislates nos orgãos da comunicação social nacional para recuperar o integrismo perdido na revolução dos cravos.

Não tenhamos ilusões: o referendo ao aborto não o é de facto. Não há qualquer razão objectiva, biológica, ética ou de Direito, para criminalizar a IVG. Há apenas arrogância católica explícita nos muitos vociferadores em nome de Deus que consideram legítima a criminalização dos «pecados» e condicionamento social católico naqueles que rejeitam motivação religiosa para a sua objecção ao livre arbítrio sobre o tema.

Assim, o que vamos decidir nas mesas de voto é o modelo de sociedade que queremos seja a nossa, isto é, o que vamos referendar é apenas se queremos a talibanização de Portugal!

Ninguém pense que se os pró-prisão vencerem o referendo a Igreja se contenta com tão pouco! O referendo é um teste que se ultrapassado será apenas o primeiro passo para a regressão civilizacional ao totalitarismo católico medieval por que o Vaticano tanto almeja!

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18 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Carta da Associação República e Laicidade

Transcrevo uma carta da Associação República e Laicidade à Comissão Nacional de Eleições a propósito do referendo à IVG.

1. Relativamente ao próximo referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, a Associação Cívica República e Laicidade tomou conhecimento, através da Comunicação Social, de declarações dos responsáveis máximos da Igreja Católica portuguesa, segundo as quais a referida Igreja «não pode reconhecer ao poder constituído, na sua vertente legislativa, competência para liberalizar ou descriminalizar o que, por sua natureza, é crime», sustentando ainda que «carece de qualquer razoabilidade e sentido falar do ‘direito’ de abortar por parte da mulher».

As declarações que citamos, a partir do Diário de Notícias de 14/11/2006, são de Jorge Ortiga, Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), a instância dirigente da Igreja Católica em Portugal. Na mesma ocasião, o Secretário da referida estrutura, Carlos Azevedo, «deixou um apelo aos que ‘estão convictos do Não’ para que não deixem de votar» (conforme citado na notícia da Agência Ecclesia de 15/11/2006 titulada «Bispos aprovam nota sobre PMA e apelam ao ‘Não’ no referendo sobre o aborto»).

Estas declarações foram reforçadas pelo comunicado da CEP de 16/11/2006, onde se apela aos que tencionam votar «não» para que «marquem presença num momento tão decisivo», e vem na sequência de um documento da CEP datado de 19 de Outubro (a nota pastoral «Razões para escolher a vida») em que se dizia explicitamente aos «fiéis católicos» que «devem votar ‘não’»
A Associação Cívica República e Laicidade – tal como certamente sucede à maioria dos cidadãos – entende que, desta forma, a Igreja Católica portuguesa está a assumir e a reiterar uma posição clara perante o referendo sobre a Interrupção Voluntária de Gravidez, posição essa de apelo explícito ao voto «não»

Simultaneamente, a Associação Cívica República e Laicidade tem conhecimento da existência de símbolos religiosos católicos (de crucifixos, designadamente) em vários locais de funcionamento de assembleias de voto e, mais concretamente, em salas de aulas de escolas públicas.

A Associação Cívica República e Laicidade, considerando a posição expressa da CEP perante o referendo, entende que a realização da votação referendária em locais nessas condições constitui uma evidente infracção do disposto no artigo 133º da Lei Orgânica do Regime do Referendo (Lei 15/A-98, de 3 de Abril), onde se afirma que «é proibida a exibição de qualquer propaganda dentro das assembleias de voto (…) por propaganda entende-se também a exibição de símbolos (…) representativos de posições assumidas perante o referendo».

Nesta situação, a Associação Cívica República e Laicidade vem solicitar aqui à Comissão Nacional de Eleições que torne efectiva a proibição de propaganda nos locais de voto, concretamente mandando retirar quaisquer símbolos da Igreja Católica que ali se possam eventualmente encontrar.

Com os nossos melhores cumprimentos,

a bem da República,

Lisboa, 16 de Novembro de 2006
Luís Mateus (presidente) Ricardo Alves (secretário)

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17 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Genoma Neanderthal parcialmente descodificado


Como já referi, durante muito tempo pensou-se que o Neanderthal foi um degrau na evolução do homem, isto é que a árvore filogenética do homem seguiu uma única linha entre o Australopithecus, Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis e o Homo sapiens sapiens. Hoje em dia acredita-se que o Neanderthal é um ramo paralelo, sem sucesso, da evolução dos descendentes do Homo heidelbergensis, que seguiram duas linhas de evolução diferentes, respectivamente na Europa e em África.

A datação de ossos através do carbono-14 permitiu concluir que homem de Neanderthal – assim como o Homo erectus, um ramo do Homo Ergaster – e o Homo sapiens foram contemporâneos. O que levanta várias questões, não só sobre as razões da extinção do Neanderthal mas sobretudo sobre a possibilidade de cruzamento genético entre ambas as espécies.

Nomeadamente, as descobertas no Vale do Lis, especialmente o fóssil conhecido como «menino do Lapedo», permitiram a uma equipa de cientistas que inclui o português Zilhão afirmar que houve cruzamento do Neanderthal com o sapiens. Mas a maioria dos cientistas da área contesta as conclusões de Zilhão e existem muitas dúvidas sobre se o menino do Lapedo é de facto um híbrido de sapiens e Neanderthal.

Mais recentemente, uma equipa de cientistas publicou as conclusões da sua análise dos esqueletos encontrados na caverna Petera Muierii (caverna da velha mulher) na Roménia, em que afirmam ter existido mistura do sapiens com o Neanderthal e como tal a hipótese de que o Neanderthal é um beco sem saída evolutivo deve ser abandonada.

O projecto do genoma do Neanderthal é a única forma de esclarecer inequivocamente esta questão. De facto, apenas por comparação do genoma do Neanderthal com o genoma do homem se poderá averiguar se existiu contribuição genética do Neanderthal para o homem moderno. A comparação conjunta com o genoma do chimpanzé permitirá ainda lançar luz sobre o que significa geneticamente ser humano, isto é, permitirá determinar exactamente que parte do genoma humano nos é único e caracteriza a nossa espécie.

Projecto cujos primeiros resultados foram publicados nas edições desta semana das revistas Nature – que se foca no genoma do Neanderthal– e Science.

Mais de um milhão de pares de bases de ADN fossilizado foi analisado usando uma técnica adequada ao tratamento do ADN antigo e degradado proveniente de um exemplar, o Vindija Neanderthal com 38 000 anos, descoberto na Croácia.

Apesar de apenas uma pequena parte do genoma Neanderthal ter sido descodificada os resultados parecem indicar que não houve cruzamento entre o sapiens e o Neanderthal e permitiram concluir que ambas as espécies partilharam um ancestral comum há aproximadamente 706 000 anos e a separação das populações ancestrais respectivas aconteceu há cerca de 370 000 anos, antes do aparecimento dos homens anatomicamente modernos.

Estes resultados preliminares levantam outras questões que será interessante ver como são analisadas pelos teólogos cristãos que negam a (macro)evolução do homem. Isto é, a descoberta da caverna de Blombos na África do Sul e as descobertas arqueológicas em Skhul, Israel, e Oued Djebbana, Argélia, permitiram concluir que a capacidade cognitiva e o comportamento associado ao ser do homem evoluiu com o próprio homem, tendo estado presentes no Neanderthal e nas populações Sapiens mais antigas. Ou seja, não são exclusivas ao homem anatomicamente moderno!

Isto é, e como já apontei, se o homem evoluiu lenta e progressivamente de um organismo unicelular primevo, desenvolvendo gradualmente o que nos torna diferentes das outras espécies – o tal «princípio vital» que possibilita as nossas capacidades senciente e intelectual únicas – como justificar o pecado original e a necessidade de um mítico salvador/caçador de «almas»?

E em que ponto da evolução fomos mimoseados com almas que necessitam ser «salvas»? Teria o Neanderthal alma? Se sim, que «pecado original» cometeu para «merecer» a extinção?

16 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Linha dura do Vaticano reafirmada (de novo)

Sofreram mais uma desilusão os que ainda acreditavam ser possível um suavizar das posições neolíticas do Vaticano.

De facto, foi divulgado há minutos pela sala de imprensa da «Santa» Sé, as conclusões da reunião de Bento XVI com os presidentes dos Dicastérios da Cúria Romana para analisar o chamado «caso Milingo», os pedidos de readmissão de padres casados e os pedidos de dispensa do celibato.

Sem grandes surpresas, Bento XVI voltou a frisar a importância fundamental do celibato, mais concretamente:

«Foi reafirmado o valor da escolha do celibato sacerdotal, segundo a tradição católica».

16 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

Padres casados

Parece que o Sapatinhos Vermelhos está em vias de recrutar 150 mil padres católicos que desertaram para o matrimónio.

Basta um compromisso oral. Passarem a ser castos.

O orgasmo será sempre, para este Papa, um genocídio.

16 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

O Vaticano e a prostituição

Nesta última terça-feira o cardeal Renato Martino considerou que o tráfico humano, que força mulheres a prostituírem-se, é pior agora que o comércio de escravos africanos no passado» – DN, 15-11-2006.

Tem razão o cardeal e, apesar do se ter dedicado ao comércio de escravos, o Vaticano há muito que não está ligado à prostituição.

Mas esteve. Até a legalizou no Vaticano.

16 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Os parasitas do fundamentalismo

Os Manuscritos do Mar Morto continuam a despertar uma intensa curiosidade e a merecer destaque na imprensa mundial. Depois de, como tive ocasião de indicar no Diário Ateísta, dois arqueólogos terem asseverado que Qumran não tem nada a ver com essénios, conventos ou mesmo com os pergaminhos, o último número da revista Revue de Qumran tem um artigo deveras interessante que não só contraria esta hipótese como permite olhar para a comunidade dos ultra-fundamentalistas essénios com uma nova luz.

Uma equipa internacional multidisciplinar, por indicação de James Tabor da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte que relembrou as histórias deveras bizarras descritas por Flávio Josefo sobre as práticas de latrina seguidas pelo secto, procurou a latrina comunitária descrita em dois dos Manuscritos, o Manuscrito da Guerra e o Manuscrito do Templo.

De facto, estes fundamentalistas judaicos seguiam à letra a Torah, mais concretamente a parte em que Moisés diz ao povo para construir as latrinas fora do campo e para tapar religiosamente os dejectos depois da sua utilização. Josefo menciona que os essénios, seguindo estritamente o seu livro sagrado, não saíam do campo ao sábado – e não podiam assim utilizar a latrina nem satisfazer qualquer necessidade fisiológica!

A análise bacteriológica do local permitiu localizar inequivocamente a latrina dos essénios – no local indicado nos pergaminhos o que indica ter sido Qumran de facto uma comunidade essénia – e esclareceu algo que intrigava os arqueólogos que investigam o local.

De facto, todos os dados disponíveis indicam que os essénios eram muito selectivos em relação a quem aceitavam na comunidade: jovens saudáveis – e existia um exame de saúde – de pelo menos 20 anos ( e preferencialmente bem parecidos já que para os essénios o aspecto físico traduzia a «pureza» da alma).

No entanto, de acordo com Zias da Universidade de Jerusalém «O cemitério de Qumran é o grupo menos saudável que já estudei em 30 anos». Menos de 6% dos homens (e esta era uma comunidade masculina, claro) chegavam aos 40 anos, enquanto os cemitérios de Jericó, a uns meros 12 km, indicam que na mesma altura quase metade dos homens viviam mais de 40 anos!

Mas a religiosidade dos essénios, que seguiam estritamente os ditames da Torah, não só em relação a latrinas como em relação às purificações rituais que se seguiam à sua utilização, fazia com que proliferassem – em vez de morrerem ao sol – todos os parasitas intestinais cujos ovos foram abundantemente encontrados nos locais escavados. Parasitas que os rituais de «purificação» que envolviam imersão total (olhos, boca, etc.) em piscinas de água da chuva – isto é, água parada renovada uma vez por ano, um excelente fermentador para ténias, lombrigas e restantes parasitas – garantiam infectar toda a comunidade!

Como nota Zias, os essénios «mostram o que acontece quando se leva as coisas bíblicas demasiado fundamentalista ou literalmente, como fazem em muitas partes do mundo, e quais são as consequências últimas [desse fundamentalismo]».

Mas como acrescenta Tabor, mesmo a saúde miserável deveria ser interpretada «biblicamente» pelos alucinados essénios:

«Os homens de Qumran eram muito pouco saudáveis, mas eu creio que isso provavelmente alimentou o entusiasmo religioso dos essénios. Eles deveriam ver as suas enfermidades como um castigo de Deus pela sua falta de pureza e então devem ter tentado ainda mais arduamente a purificação [garantindo que todos estavam efectivamente infectados com pelo menos os quatro parasitas encontrados nas escavações]».

Estranhamente o «Deus» que tanto punia os essénios era francamente mais simpático com os vizinhos de Jericó, uns hereges «liberais» sem sequer vestígios de obsessões fundamentalistas ou de pureza! E menos atormentados por vermes sortidos…

15 de Novembro, 2006 Carlos Esperança

Os bispos uivam

Houve quem esperasse da ICAR uma postura urbana em relação ao referendo sobre a IVG, para o que contribuiu a serenidade, fingida ou sincera, do patriarca Policarpo a referir-se ao aborto como problema essencialmente político, mais do que religioso.

Era preciso não conhecer o ódio que o cio recalcado desenvolve, ignorar a intolerância de que o clero é capaz e a subserviência à única teocracia europeia – o Vaticano -, para ver nos bispos um exemplo de tolerância e espírito democrático.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), espécie de confederação patronal católica, reuniu segunda-feira, em Fátima, local especialmente dedicado ao embuste e ilusionismo místico. Num acto de subversão, traindo o País a soldo de um Estado estrangeiro e totalitário, contestaram a legitimidade da Assembleia da República para legislar no que respeita à «liberalização ou descriminalização do aborto».

O Sr. Jorge Ortiga, bispo de Braga e presidente da CEP, nega à Assembleia da República o direito legislativo sobre o que ele considera «crime». Presume-se que fala em nome de Deus como se este tivesse direito de voto e de veto nos países democráticos.

Como pode um Papa, ditador vitalício, intrometer-se na vida interna das democracias e soltar o exército de bispos, padres e diáconos contra o sufrágio livremente expresso?

O Estado português não controla a qualidade das hóstias, não analisa a água benta, nem legisla sobre o valor das orações e indulgências para a salvação das almas. No entanto, os celibatários reunidos na CEP negam à mulher quaisquer direitos e querem substituir o direito penal pelo direito canónico.

Compreende-se o gozo que dá às reverendíssimas criaturas ver as mulheres condenadas à prisão, a excitação erótica de as saber escutadas nos seus telefonemas, o delírio psicopata de obrigar o Estado a guardar-lhes as barrigas, enfim, a pequena desforra dos autos-de-fé de que os privaram.

O resultado do escrutínio, seja ele qual for, é assunto de portugueses, não é matéria que esteja ao arbítrio das sotainas, uma decisão que possamos tolerar aos agentes infiltrados do Sapatinhos Vermelhos.