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Dia: 11 de Agosto, 2006

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Deus é o meu arquitecto

O pastor Jeff Carroll da Cedar Grove Methodist Church, no Alabama, parece pensar que o governo não deveria ter direito de se imiscuir em assuntos da Igreja (embora o contrário não seja verdade) mesmo em «pequenos» detalhes como licenças de construção. Por isso, não se deu ao trabalho de obter uma quando «ajudou» a sua congregação a construir a sua nova igreja. Para que é necessária a permissão de um qualquer inspector quando à partida se tem a permissão mais «sagrada» que existe?

Mas aparentemente o divino arquitecto tem um sentido de humor algo bizarro e resolveu destruir todo o trabalho da congregação no momento em que este foi completado: o telhado da novissima igreja ruiu numa quinta-feira à noite. Claro que o pastor se apressou a agradecer ao «divino» brincalhão ter resolvido fazê-lo quando ninguém se encontrava lá dentro:

«Graças a Deus ninguém ficou ferido. Ele escolheu deixar o telhado cair numa quinta-feira à noite quando ninguém estava lá».

Na atribuição das culpas do sucedido Carrol, claro, procura causas mais mundanas. Que segundo ele nada teriam a ver com o facto de que «as plantas para a igreja foram feitos por um dos membros da Igreja e pela sua filha depois de olharem para figuras na internet» mas com traves «defeituosas».

Carroll, ele próprio um construtor civil e que acha ser a ignorância uma desculpa para pôr em risco a vida de 500 pessoas, afirmou não saber serem necessários quaisquer requisitos legais para a dita construção e diz que permanece céptico sobre a legitimidade de um orgão governamental ter algo a dizer acerca de como uma igreja deve ser construída:

«Se a Igreja e o estado estão separados não percebo porque eles pensam que têm jurisdição».

Carroll esperava que o seguro da nova igreja cobrisse o colapso do telhado mas a companhia de seguros em questão não aceitou o pedido de indemnização.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Pedofilia e assassínio

Em Fevereiro último, referi dois casos de assassinato por um padre católico, Ryan Erickson, que assassinou Daniel O’Connell e James Ellison.

Erickson, um padre ultra conservador, que se seguia por canônes pré-Vaticano II, um moralista que estava encarregue da educação sexual dos jovens da St. Patrick’s School, estava particularmente interessado em suprimir comportamentos sexuais «pecaminosos», especialmente a masturbação.

A obsessão de Erickson pela masturbação, o pecado máximo, pode ser apreciada neste «pensamento do dia» enviado por e-mail aos seus seguidores: «Nem a missa de domingo está a salvo dos trajes imodestos de alguns demónios. Elas aparecem para ler, distribuir a santa comunhão,etc…. parecendo um anúncio. Os seus trajes imodestos dizem a todos os presentes: Eu sou fácil! Vão para casa e masturbem-se pensando no meu corpo fantástico. O que é triste é que alguns fazem-no».

O misógino padre assassinou O’Connel em Fevereiro de 2002 quando este o confrontou com acusações de pedofilia. Ellison era apenas uma testemunha incómoda que foi por isso eliminado.

Ninguém o ligou aos assassinatos, excepto o padre que o perdoou pelo seu «pecado», até meados de 2004. Em Dezembro de 2004, o padre Erickson suicidou-se na igreja para onde fora transferido, St. Mary’s of the Seven Dolors, em Hurley, Wisconsin. Um dia depois de os polícias que investigavam o caso terem revistado a sua casa em busca de evidências que o ligassem aos assassinatos. Descobriram pornografia infantil no seu computador…

Erickson coleccionava armas e pornografia, consumia regularmente bebidas alcoólicas com os adolescentes a seu cargo e fora confrontado com acusações de abuso sexual anteriormente. E a hierarquia católica … recomendou aconselhamento psicológico como resposta! Três vezes! E transferiu-o do local do crime para bem longe…

Agora a família de um dos homens mortos, Daniel O’Connell, fartos do que consideram conivência da Igreja católica com os seus padres pedófilos interpuseram uma acção contra a conferência episcopal americana, em que nomeiam 200 bispos, na qual pedem os nomes e localização dos 5 000 padres acusados de abusar sexualmente de crianças, apenas nos Estados Unidos, claro.

Considerando que há menos de 30 000 padres em exercício nos Estados Unidos, este número dá uma ideia da dimensão do escândalo de pedofilia que tem abalado a ICAR americana. Mais de 17% dos padres acusados de pedofilia, um número significativamente superior aos 4% indicados como minorante do valor real no relatório de 2002. Claro que este relatório cobria um período de 52 anos, ou seja, os valores elevados dos últimos anos eram diluídos por décadas sem qualquer queixa…

11 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Os sinos da minha aldeia

Na aldeia o sino da torre ainda insiste nas meias horas e, com intervalo curto, na repetição das horas diurnas. Calam-no, de noite, para não perturbar o sono de citadinos em férias. O relógio comunitário ignora os seus homólogos, no pulso dos cidadãos, a sua fiabilidade e a facilidade da consulta.

À força de se repetir vão-se as pessoas esquecendo de escutá-lo e de lhe prestar atenção. Se acaso parar poucos darão pela falta e o abandono será o destino fatal que já o condena. Viverá enquanto não se partir a corda e o maquinismo não encravar.

Mingua nas presas a água que regava os campos à claridade da aurora. Secaram as fontes que alimentavam regatos, mantinham viçosos os prados e os defendiam da canícula.

Falta a água, seca a erva, ficam maninhos os campos. Os velhos vão mirrando enquanto os novos se fizeram à vida e abandonaram as terras e os pais.

Também na igreja o sino chama os paroquianos para os actos litúrgicos com o som triste de quem envelheceu com as pessoas e trina por hábito, sem convicção nem entusiasmo dos que ainda o escutam.

Só os emigrantes iludem, neste mês de Agosto, a solidão e abandono a que o interior de Portugal está votado. Foi longo o processo, mas eficaz, penoso e irreversível.

Deus emigrou há muito e nem as férias o convencem a regressar.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Turquia e Estados Unidos iguais em fundamentalismo

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A revista Science (hiperligação para o material suplementar do artigo) publicou hoje os resultados da análise de sondagens internacionais conduzidas entre 1985 e 2005 que pode explicar porque aberrações como as descritas no post anterior acontecem nos Estados Unidos. De facto, dos países constantes, 32 países europeus, os Estados Unidos e o Japão, apenas na Turquia a percentagem de pessoas que não acreditam na evolução é superior à encontrada nos Estados Unidos.

Como um dos autores do artigo, Jon Miller da Michigan State University, indica «O protestantismo americano é mais fundamentalista que todos excepto talvez o fundamentalismo islâmico, e por isso nós estamos tão próximos da Turquia».

Recomendo as análises do artigo no Pharyngula e no Panda’s Thumb.

11 de Agosto, 2006 Palmira Silva

Criacionistas vs Universidade da Califórnia

Há um ano escrevi sobre uma acção interposta contra a Universidade da Califórnia, UC, uma rede pública compreendida por 10 universidades que incluem a Universidade pública mais bem classificada no ranking das Universidades americanas, UCBerkeley, a UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles) e a UCSD (Universidade da Califórnia, San Diego) por uma uma associação de escolas secundárias cristãs e a Escola Cristã do Calvário que acusaram a Universidade da Califórnia de discriminação contra as escolas que ensinam criacionismo, que consideram integrante da liberdade de expressão e religião.

A acção, interposta pela Association of Christian Schools International, (uma organização que à data integrava 800 escolas cristãs e hoje mais de 4000) e a Escola Cristã do Calvário em Murrieta, é defendida por Robert H. Tyler, pertencente a uma organização anti-ACLU, o oxímero Advogados para a Fé e Liberdade, e Wendell R. Bird, um ex-membro de outro oxímero, o Institute for Creation Research.

Os queixosos pretendem acabar com os ateus critérios de admissão da UC, isto é, com a política «ateísta» da Universidade em rejeitar disciplinas de biologia que sejam «inconsistentes com o conhecimento aceite universalmente na comunidade científica». Nomeadamente disciplinas que assentem nos livros de (pseudo)biologia publicados pela Bob Jones University Press e A Beka Books. Segundo a acção, esta política viola os direitos dos queixosos de «liberdade de expressão, liberdade de discriminação com base em opiniões, liberdade de religião e associação, liberdade de discriminação arbitrária, igual protecção das leis e liberdade de hostilidade contra a religião».

Nunca pensei que o caso tivesse pernas para andar mas aparentemente essa não foi a opinião do juíz S. James Otero, que embora descartando parte das alegações permitiu, numa decisão provisória, que a acção prosseguisse com base na liberdade de expressão, associação e religião. De facto, o juíz demonstrou preocupação por apenas uma escola evangélica integrar o processo, enquanto escolas católicas, judaicas e islâmicas não têm problemas com os critérios de admissão da UC.

Esperemos que antes da decisão definitiva o juíz possa apreciar que a razão do que considerou discriminação contra os evangélicos não tem nada a ver com religião mas sim com os curricula anti-científicos das escolas evangélicas. Se não vejamos alguns exemplos:

Logo na introdução de um dos livros em questão os autores avisam que:

«As pessoas que prepararam este livro tentaram consistentemente pôr em primeiro lugar a palavra de Deus e a ciência em segundo»

Continuando desancando os ateus cientistas que ignoram a palavra de deus e se arrogam a

«afirmar que o gafanhoto evoluiu há 300 milhões de anos. E pode-se encontrar a descrição de um qualquer insecto a partir do qual supostamente o gafanhoto evoluiu e uma descrição dos insectos que os cientistas dizem ter evoluído do gafanhoto. Pode mesmo encontrar-se uma explicação ‘científica’ da praga bíblica de gafanhotos no Egipto. Estas afirmações são conclusões baseadas em ‘ciência suposta’. Se as conclusões vão contra a palavra de Deus, então as conclusões estão erradas, não importa quantos factos científicos parecem suportá-las».

A minha favorita continua a ser a definição de falácia encontrada no livro:

«Falácia: tudo o que contradiz a verdade revelada de Deus, não importa quão científico, quão estabelecido ou quão aparentemente consistente e lógico pareça».

11 de Agosto, 2006 Carlos Esperança

Terrorismo religioso em Londres

O incitamento ao crime e extermínio dos infiéis é um desígnio divino que vem expresso nos livros sagrados dos monoteísmos e é impresso na mente dos fiéis pelos clérigos.

Deus será infinitamente bom mas com um feitio irascível e humor lábil, incompatível com a civilização e a felicidade da humanidade.

Um Deus de Londres incumbiu uns dementes, cheios de fé e orações, de derrubar aviões repletos de infiéis ainda que neles viajassem alguns crentes que ele identificaria quando chegassem ao Paraíso.

Pensou Deus em seu pensamento como seria divertido fazer explodir, durante o voo, aviões que circulassem entre Londres e os EUA. Logo quiseram agradar-lhe os fiéis, contrariados pela polícia londrina, pouco dada à fé e aos seus desvelos, prendendo os piedosos crentes cheios de orações e explosivos.

Gorada a divina festa ficaram por ajustar contas que o Deus dos detidos tinha mandado saldar.

Sabendo-se que os templos são as escolas onde Deus manda ensinar a arte de destruir os fiéis do Deus concorrente, há um só processo de contrariar a vontade divina: manter os templos sob vigilância apertada e a vontade de Deus submetida ao Código Penal.

Na impossibilidade de meter Deus numa enxovia, é preciso descobrir, julgar e punir os executores da sua vontade e reservar-lhes um calabouço onde, por direito próprio, devia apodrecer Deus.

Os pregadores do ódio não podem andar à solta. Não se julgue cada crente um terrorista, mas vai sendo tempo de ver no Corão uma bíblia carregada de ódio e fanatismo sem que os clérigos renunciem à palavra de Deus.