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Mês: Outubro 2019

28 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

A tortura das mulheres e a fé

A mutilação genital feminina não é apenas uma crueldade inqualificável, é uma mistura de religião e tribalismo, um ato de demência religiosa que vê no prazer da mulher uma fonte de imoralidade.

No cristianismo a sexualidade feminina é uma abominação que Agostinho condenou quando a idade e o múnus o fizeram o casto. No islão é uma ofensa ao profeta, que os mullahs vigiam, e um perigo que as madraças e mesquitas se encarregam de erradicar.

No mundo muçulmano, onde a Idade Média floresce nas teocracias que embrutecem e constrangem socialmente, todas as sevícias e atos de crueldade contra as mulheres são formas de perpetuação do poder clerical e do carácter misógino do Corão.

Nos países cristãos a mesma demência, contida pela secularização, é uma herança da cultura judaico-cristã, a obsessão do clero e o desatino retrógrado dos dignitários.

Nos EUA o presidente Bush, em demência homofóbica, quis a revisão da Constituição para que os casamentos homossexuais fossem interditos.

No Vaticano, ínica teocracia europeia, o ditador resignatário ordenou aos sicários que lhe serviam de correia de transmissão, que defendessem a ortodoxia, que se opusessem à emancipação da mulher e lhe reprimissem a sexualidade, numa cruzada pela castidade e por aquilo que designava de bons costumes.

A ICAR levou o preconceito e a chantagem a qualquer lugar onde os direitos humanos fossem interpretados de igual forma para ambos os sexos. Nem o passado obsceno que guardam os muros do Vaticano morigeram os Papas.

O atual, conformado com a modernidade, pretendeu resgatar um passado que pode servir de mortalha à Igreja que dirige. Tem contra ele a máquina do Santo Ofício e o peso das mitras e sotainas, e já mudou alguma coisa para que sobreviva a Igreja e ele próprio. Mas falta mudar muito.

27 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Professora perseguida por respeitar a Laicidade

Por

ONOFRE VARELA

Na Ilha da Madeira, em Junho último, a educadora Isabel Teixeira, colocada na Escola EB1 PE de Ponta Delgada e Boaventura (Jardim de Infância e 1.º Ciclo), no concelho de S. Vicente, negou-se a participar, com os seus alunos, em actos puramente religiosos que nada têm a ver com a missão de uma professora ou educadora, e que contrariam a Constituição da República. Em consequência está a ser perseguida e desrespeitada pela directora da escola onde lecciona (Ana Cristina Moura Abreu), ela sim, confirmando-se os actos que lhe são imputados, desrespeitadora da lei da República, ditadora e prepotente, que não deve exercer o cargo que lhe foi confiado, por demonstrar falta de competência democrática para tal. Conhecedora do facto, a Associação Ateísta Portuguesa defende a razão da professora perseguida e enviou uma reclamação ao Ministério da Educação. Ei-la:

“A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) acaba de tomar conhecimento de uma situação insólita que, a ser verdadeira, representa uma iniquidade intolerável e uma grave ofensa à Constituição da República Portuguesa, à escola pública, à liberdade religiosa e à laicidade. Depois de um contacto prévio da visada com a AAP, um conhecido jornal nacional, edição de hoje [DN, 24/10/2019, edição on line], dá nota de que uma Educadora de infância foi penalizada por não ter participado numa actividade na igreja, ao recusar-se a receber aí o bispo católico; como antes já tinha recusado levar as crianças à missa, porque entende que não se deve misturar a escola com a religião. A educadora Isabel Teixeira acabou punida, e o termo é adequado, pela diretora da escola, Ana Cristina Abreu, por se ter recusado a participar nessa atividade em que os alunos estiveram presentes. É a própria diretora que especifica as razões da avaliação que a penaliza e que a AAP transcreve: «A docente de facto participou nos diferentes projetos propostos no Plano Anual de Atividades, mas recusou-se a participar em algumas atividades, [sic] propostas pela diretora/parceiros e aprovadas por maioria em conselho escolar. Exemplificando: saída do Pão por Deus à Câmara, desfile de Carnaval, receção ao Sr. Bispo no adro da igreja», especifica a diretora. As atividades propostas são já, no ponto de vista da AAP, claramente censuráveis e dignas da reclamação que ora faz a AAP, mas a punição, na avaliação, de quem cumpre o espírito e a letra da CRP é um ato discricionário e malévolo do foro disciplinar e indigno de quem tem responsabilidades educativas. Assim, a AAP pede que seja rapidamente reavaliada a docente punida e que a Diretora da Escola seja imediatamente suspensa e sujeita ao processo disciplinar que avalie a gravidade da sua conduta. Receosa do regresso aos tempos de Fátima, Futebol e Fado, a AAP considera ética e civicamente lamentável a promoção do ensino confessional por órgãos do Estado ou pelas escolas. Em defesa da ética republicana e do carácter laico do Estado, a Associação Ateísta Portuguesa solicita ao senhor ministro da Educação que se digne mandar averiguar eventuais ilícitos na matéria exposta e proceder em conformidade.Aguardando que V. Ex.ª se digne esclarecer esta Associação, apresentamos-lhe os nossos melhores cumprimentos”.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

25 de Outubro, 2019 Administrador

Reclamação ao Ministro da Educação

A seguir se transcreve a missiva que a AAP – Associação Ateísta Portuguesa enviou, ontem, ao Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.

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INÍCIO DE TRANSCRIÇÃO

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Exmo. Senhor Ministro da Educação

Prof. Dr. Tiago Brandão Rodrigues

Av. Infante Santo, n.º 2

1350-178 Lisboa

CC: Comissão da Liberdade Religiosa

Assunto: Reclamação.

Excelência:

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) acaba de tomar conhecimento de uma situação insólita que, a ser verdadeira, representa uma iniquidade intolerável e uma grave ofensa à Constituição da República Portuguesa, à escola pública, à liberdade religiosa e à laicidade.

Depois de um contacto prévio da visada com a AAP, um conhecido jornal nacional, edição de hoje, dá nota de que uma Educadora de infância foi penalizada por não ter participado numa atividade na igreja, ao recusar-se a receber aí o bispo católico; como antes já tinha recusado levar as crianças à missa, porque entende que não se deve misturar a escola com a religião.

A educadora Isabel Teixeira acabou punida, e o termo é adequado, pela diretora da escola, Ana Cristina Abreu, por se ter recusado a participar nessa atividade em que os alunos estiveram presentes.

É a própria diretora que especifica as razões da avaliação que a penaliza e que a AAP transcreve:

«A docente de facto participou nos diferentes projetos propostos no Plano Anual de Atividades, mas recusou-se a participar em algumas atividades, [sic] propostas pela diretora/parceiros e aprovadas por maioria em conselho escolar. Exemplificando: saída do Pão por Deus à Câmara, desfile de Carnaval, receção ao Sr. Bispo no adro da igreja», especifica a diretora.

As atividades propostas são já, no ponto de vista da AAP, claramente censuráveis e dignas da reclamação que ora faz a AAP, mas a punição, na avaliação, de quem cumpre o espírito e a letra da CRP é um ato discricionário e malévolo do foro disciplinar e indigno de quem tem responsabilidades educativas.

Assim, a AAP pede que seja rapidamente reavaliada a docente punida e que a Diretora da Escola seja imediatamente suspensa e sujeita ao processo disciplinar que avalie a gravidade da sua conduta.

Receosa do regresso aos tempos de Fátima, Futebol e Fado, a AAP considera ética e civicamente lamentável a promoção do ensino confessional por órgãos do Estado ou pelas escolas.

Em defesa da ética republicana e do carácter laico do Estado, a Associação Ateísta Portuguesa solicita ao senhor ministro da Educação que se digne mandar averiguar eventuais ilícitos na matéria exposta e proceder em conformidade.

Aguardando que V. Ex.ª se digne esclarecer esta Associação, apresentamos-lhe os nossos melhores cumprimentos e subscrevemo-nos,

Atenciosamente,

Carlos Esperança,

Presidente da Direção — 917 322 645

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O documento também pode ser consultado na página principal do nosso site.

24 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado e os direitos humanos

É sempre com uma ponta de comiseração que, nos meus passeios diários, pela cidade de Coimbra, observo o Carmelo onde a Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado ou, simplesmente, Irmã Lúcia, para os amigos, passou seis décadas de intensa clausura.

Saía apenas para votar na União Nacional quando as listas eram únicas, guardada por outras freiras, e, durante a democracia, de que a Virgem nunca lhe falou, para votar não se sabe onde. A estas saídas precárias acrescentou duas idas a Fátima, para ser exibida com dois Papas de turno, Paulo VI e João Paulo II, em distantes 13 de maio.

Já antes passara cerca de 25 anos enclausurada, primeiro no Porto, desde os 14 anos, por decisão do bispo de Leiria, para ser protegida de peregrinos e curiosos, no Colégio das Doroteias, antes de professar, como doroteia, em Tui, em 1928. Regressaria a Portugal em 1946 onde estagiou para carmelita, tendo professado três anos depois nessa rigorosa Ordem. Esteve ininterruptamente enclausurada quase 84 anos, tornando-se a mais antiga prisioneira do mundo.

Penso que a renúncia à liberdade é um direito da própria liberdade que, se Lúcia o fez de livre vontade, não merece qualquer reparo. Todavia, se foi coagida, houve da parte do Estado português um atentado, por omissão, não lhe garantindo direitos, liberdades e garantias que a Constituição consagra a todos os cidadãos portugueses.

O facto de estar convencida de que Salazar foi enviado pela Providência para governar Portugal, segundo confidenciou ao cardeal Cerejeira, que, por sua vez, o transmitiu ao ditador, leva à presunção de que precisaria de uma consulta médica especializada. Mais do que o prurido da sarna que a atormentou, as conversas com Cristo, em Tui, e a visita ao Inferno, posteriormente abolido sem efeitos retroativos, indiciam confusões mentais à espera de um acompanhamento médico. E o Estado não cumpriu o seu dever para com uma cidadã que já em criança via, enquanto guardava cabras, uma Virgem a saltitar de azinheira em azinheira e a pedir-lhe para rezar pela conversão da Rússia.

Dos três pastorinhos de que o clero se serviu, primeiro contra a República, e contra o comunismo, depois, a Irmã Lúcia foi a única que viu e ouviu a Senhora de Fátima, já que a Jacinta só ouvia e não via, e o Francisco não via nem ouvia. Esta singularidade merecia que o Estado a não tivesse abandonado e lhe levasse o apoio médico de que carecia. Nunca saberemos se Lúcia suportou de motu proprio o mais longo cativeiro de que há memória ou se foi vítima de cárcere privado para propaganda religiosa.

A liberdade é um bem que não pode ser deixado ao poder discricionário de quaisquer instituições privadas nem ao capricho exótico de um deus qualquer.

22 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Direitos da mulher

Quando se verifica uma regressão política e ideológica na civilização, que concluiu que não há direitos humanos fora da igualdade entre os sexos; quando a mulher continua a ser a maior vítima da violência doméstica e a mais sacrificada nas tarefas; quando, salvo um módico de esperança na Igreja católica do Papa Francisco, as religiões são o instrumento de domínio do homem sobre a mulher, é urgente a denúncia da iniquidade e a batalha contra ela onde quer que exista.


Não há islamofobia, que é doença do foro psiquiátrico, há medo de uma religião anacrónica onde à mulher está reservado o quinhão maior de sofrimento e a sua posse assume as raias da demência de que só o fascismo islâmico é capaz.

Só a igualdade nos torna livres a tod@s, seja onde for.

20 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O 17.º aniversário da canonização de Santo Escrivá

Não sei como pude esquecer o 17.º aniversário da canonização do bem-aventurado servo de Deus, monsenhor Escrivá de Balaguer, que, depois de percorrer os degraus de Venerável e Beato, chegou a Santo em 6 de Outubro de 2002, graças a dois milagres aprovados – o primeiro no campo da oncologia e o segundo do foro da dermatologia. Com 13 dias de atraso, aqui fica a reparação devida ao taumaturgo.

O apoio ao ditador Franco e a obsessão por dinheiro, poder e honrarias podem ter arredado o clérigo da bem-aventurança eterna mas não lhe tolheram a canonização.

O virtuoso bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria e o impoluto ministro de Estado e da Defesa, Dr. Paulo Portas, destacaram-se então entre os portugueses bem formados, convidados a deslocar-se a Roma para a cerimónia. Não terão deixado de rezar para que se esquecessem as ligações da Prelatura ao mundo da alta finança e os inúmeros escândalos financeiros em que se viu envolvida no passado ( Rumasa, Matesa, Banco Ambrosiano, etc.) já que não iriam rezar pelos escândalos vindouros.

A tentativa de criar o governo teocrático universal sonhado por Paulo, a sua aliança com a Mafia internacional e a pseudo maçonaria financeira, ou o abuso indiscriminado do negócio milagreiro, documentados por Juan G. Atienza (Los Pecados de La Iglesia), são acusações esquecidas.

Os aspetos negativos da personalidade de Escrivá, referidos pela colaboradora e secretária de muitos anos, Maria del Carmen Tapia, no livro “Uma vida na Opus Dei”, e as denúncias de Robert Hutchison em “O Mundo Secreto do Opus Dei” desvanecem-se com o tempo.

Regozijemo-nos, pois, por ter sido Monsenhor Escrivá “o justo entre os justos mais rapidamente elevado aos altares em toda a história da Igreja”, 17 anos exatos após a sua morte ( Ob. citada de J. Atienza, Pág. 342).

Já então 1750 sacerdotes e 80 mil fiéis – um exército de prosélitos sob a omnímoda autoridade de um prelado que dispunha de amplos recursos financeiros e sólidos apoios políticos em todo o mundo – não deixaram de proclamar a santidade do “Pai”.

Dez anos e 13 dias depois da canonização, quem não puder beneficiar da graça divina por intercessão do poderoso santo, evite desafiar a ira da Prelatura. Os recursos financeiros e o poder político não deixaram de se multiplicar e globalizar.

19 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O catolicismo, o poder e a política no início deste milénio

As religiões não toleram a perda de influência. Depois de criarem um deus verdadeiro, de o promoverem e enfrentarem a concorrência, vieram o iluminismo, a laicidade e a democracia a estorvar o proselitismo.

A pedagogia ativa com que combatiam heresias e converteram réprobos já não pode ser aplicada porque a tortura é proibida e as fogueiras tornaram-se obsoletas, para desespero dos padres e eterna perdição das almas.

Quando os jesuítas anunciaram na China a boa-nova de que o filho de deus tinha vindo ao mundo, espantaram-se os chineses como, durante tanto tempo, ninguém os avisou. E, talvez por isso, preferiram ao deus, que se deixou pregar na cruz, um homem que sorriu quando lhe disseram que era eterno – Buda.

Apesar dos reveses, os deuses dos monoteísmos gozam de sólida reputação. Os humores e idiossincrasias não os destroem mas sabe-se que, quando a repressão abranda, germina o ateísmo e, sempre que o poder do clero se debilita, a confiança esmorece.

As religiões, não podendo destituir, em nome da fé, os mandatários do povo, sufragados por eleições, pedem, por amor de deus, que sejam eleitos governantes tementes a deus e generosos com os seus devotos servidores.

Em Chipre, em 2001, os padres rezaram muito para que o partido comunista perdesse as eleições e interromperam as orações a vê-lo ganhar. Os resultados eleitorais provaram que deus não estava na ilha e que as orações eram placebo.

Nessa altura, em Itália, andou o Vaticano numa azáfama a pedir orações por Berlusconi, um cristão que pouco deve à santidade. Ganhou as eleições mas houve quem pensasse que influíram mais a comunicação social e o dinheiro do que o deus do Vaticano.

Em Espanha a Conferência Episcopal jogou tudo na luta contra o PSOE que, entre outras maldades, legalizou as uniões homossexuais, permitiu-lhes a adoção de crianças e tornou facultativa a aula de religião católica nas escolas públicas. As eleições foram entre Zapatero e a Conferência Episcopal e o primeiro ganhou-as.

Penso que, um dia, em qualquer país, ganhará as eleições quem tiver a animosidade do clero. Deus perdeu influência. Até para obrigar as crianças a comer a sopa.

Em Roma está, de facto, em perda. Infelizmente, de Jerusalém, Meca e Medina, onde os monoteísmos germinaram, há um surto epidémico de consequências imprevisíveis.

18 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

O Islão e a liberdade religiosa

Ao contrário do que as religiões desejariam, a liberdade religiosa é o direito às crenças, descrenças e anti-crenças, e a única obrigação do Estado democrático, necessariamente laico, é garantir esse direito a todos os cidadãos.

A Igreja católica, a mais popular em Portugal, só aceitou a liberdade religiosa, durante o Concílio Vaticano II, 1960 anos depois de ter sido criada.

Cem anos antes, ainda Pio IX excomungava o panteísmo, o naturalismo, o racionalismo, o indiferentismo, o socialismo, o comunismo, a maçonaria, o judaísmo, as outras igrejas cristãs, enfim, o livre-pensamento e todos os livres-pensadores.

Ler a encíclica Quanta Cura, acompanhada pelo famoso Syllabus errorum, é conhecer o pensamento de um talibã romano. Não foi por acaso que João Paulo II beatificou o autor.

As Igrejas tendem a tornar-se partidos políticos totalitários e se a Igreja católica acabou liberta, provavelmente obrigada, está hoje, com um papa humanista, em desvantagem perante as outras Igrejas.

O Partido Republicano dos EUA é hoje uma perigosa seita evangélica capaz de impedir a docência a um professor que ensine o evolucionismo em detrimento do cristianismo. O termo ‘fundamentalismo’ foi cunhado no início do século XX, para designar o protestantismo evangélico americano.

Todavia, o mais implacável dos monoteísmos, é o Islão, um partido político de vocação fascista, à escala global, a seduzir jovens que a violência e o fanatismo atraem.

Já foram identificados portugueses que se radicalizaram no jihadismo islâmico em Portugal. Não surpreende quem conhece o manual terrorista que o Arcanjo Gabriel ditou a Maomé e a devoção com que é recitado.

O que surpreende é a liberdade dos formadores e dos formandos em cursos com ou sem subsídios da UE. Portugal não pode consentir escolas de terrorismo, sob a capa de uma ‘religião revelada’, nem permitir o proselitismo agressivo de mesquitas e madraças.

Um padre católico que faça propaganda eleitoral através do púlpito pode ir preso, apesar da cobardia dos governos em atuar. E, depois de revelado que há formação jihadista em Portugal, não se entregam à justiça os incitadores do ódio e fabricantes de monstros?

Há uma guerra religiosa em curso na Europa e a laicidade permanece descurada. Parece que a vocação suicida nos conduz para o abismo, sem respeito pela civilização herdada do Iluminismo e da Revolução Francesa. Ou estamos à espera de que as Igrejas cristãs se radicalizem de novo para fazerem frente à ameaça e voltarem ao combate dos infiéis?

Os muçulmanos podem duplicar as rezas, aumentar jejuns e recitar mais versículos, mas acabem com a lapidação, a pedofilia, a poligamia, a excisão do clitóris, a decapitação de infiéis, o terrorismo e todas as malfeitorias de que são capazes em nome do Deus que outros inventaram e eles tornaram mais sádico.

Exigir respeito pelos princípios cívicos e democráticos da civilização europeia não é um ataque a uma religião, é a defesa do direito à prática ou não prática de todas e de cada uma.

16 de Outubro, 2019 Carlos Esperança

Texto escrito em 2013 contra JP2.

A indústria da santidade e a inflação de beatos por quem não se arrepende

Para vergonha da Igreja católica, descontados os crimes de épocas recuadas, que podem sempre ser atribuídos aos costumes bárbaros da época, mas comprometem a inspiração divina de que se reclama, bastava a cumplicidade e o silêncio perante um dos maiores genocidas da Humanidade – Francisco Franco –, para exigir o pedido de perdão sincero de quem herdou o ferrete da ignomínia.

Todos sabemos que a violência atingiu na Guerra Civil espanhola limites inauditos de crueldade dos dois lados da barricada. Não houve bons e maus, apenas maus. Não podemos esquecer a violência cruel do anticlericalismo dos anarquistas e liberais e, em menor medida, dos marxistas, cujo ódio à Igreja, implicada com a pior direita, rivalizou com o empenhamento do clero nos crimes mais perversos.

Há, no entanto, duas diferenças capitais entre os que se bateram de um e outro lado da barricada. Do lado da República, o facto de ter resultado de eleições livres sufragadas pelo povo, e, do lado dos sediciosos, a intenção derrubar o Governo legal e instalar a ditadura. A segunda diferença, assaz sinistra, resulta do facto de, vencida a guerra, insistirem nas execuções sumárias, perseguições cruéis, assassinatos programados e nas valas comuns, cujos vestígios querem apagar, para onde atiraram as vítimas, fuziladas por divertimento sádico e violência sectária.

As crianças roubadas a mulheres, que assassinavam após o parto, foram distribuídas por casais inférteis de sequazes do fascismo espanhol. Não houve ignomínia, crueldade ou sadismo que os franquistas não cometessem, depois da guerra onde Hitler experimentou o armamento com os aviões da Legião Condor, Mussolini colaborou com submarinos e avões, a Igreja católica concedeu o estatuto de Cruzada aos revoltosos e Salazar apoiou a retaguarda, permitindo o recrutamento dos Viriatos, o abastecimento aos franquistas e impedindo o refúgio das tropas leais ao Governo.

Franco teve o apoio entusiasta do Opus Dei, que nunca lhe faltou com bênçãos, missas e ministros para o Governo. Balaguer, além de ter colaborado na guerra, ainda o felicitava entusiasticamente, quase duas décadas depois, em carta de 25 de maio de 1958, carta que a filha do ditador conservou extasiada com a veneração do futuro santo ao déspota.

Depois da dolorosa memória que dilacera Espanha, depois de mais de 400 mil mortos e centenas de milhares de exilados, impede-se a exumação das vítimas do franquismo e exonera-se um juiz corajoso, Baltasar Garzón, que quis identificá-las e reparar a sua humilhação e esquecimento, exumando as valas comuns. Para trás fica o horror galego onde o franquismo instaurou, depois da guerra, o método dos “passeios” –, ir às casas das pessoas buscá-las para as “passear”, isto é, fuzilá-las à noite e deixá-las nas valetas.

Através dos sinistros “passeios”, dos conselhos de guerra contra civis, dos fuzilamentos maciços de prisioneiros e de confrontos armados com a guerrilha, morreram, só na Galiza, 197.000 galegos (fonte “La Guerra Civil en Galicia” edic. La Voz) durante o regime franquista, continuando a grande maioria em valas comuns. Nesse período, cerca de 200 mil galegos exilaram-se noutros países, sorte que não tiveram os que escolheram Portugal e foram entregues para fuzilamento pelas polícia de Salazar.

João Paulo II beatificou 233 vítimas religiosas da repressão republicana, ignorando o sofrimento coletivo dos espanhóis e Bento XVI reincidiria com nova beatificação de outras 498 vítimas, a maior beatificação da história da Igreja Católica.

A decisão destes dois papas, profundamente reacionários e comprometidos com o Opus Dei não surpreendeu, apenas indignou os familiares das vítimas republicanas e todos os que ansiavam pelo esquecimento do ódio que dilacerou Espanha.

Com mais de duas mil valas comuns por abrir, surpreende que o Papa atual, de quem se esperava que não deitasse mais ácido nas feridas por sarar, cerca de cinco centenas de beatos serão elevados ao altar do franquismo numa manifestação de demência episcopal da Espanha que não perdoa e não se deixa julgar.

Este Papa, depois da lixivia gasta a limpar as nódoas do Vaticano, maculou as vestes e deixou recordar as boas relações que manteve com Videla.