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França aprova lei ‘contra os muçulmanos’

21 de Fevereiro de 2021  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Comentar

Uma comissão extraordinária da Assembleia Nacional da França aprovou a “carta de valores republicanos”, proposta em 2 de outubro de 2020 pelo presidente Macron para combater o “separatismo islâmico”. As organizações do Conselho de Culto Islâmico da França (CFCM) denunciaram a “carta de princípios”, reiterando a coexistência do Islão com as outras religiões no país.

De facto, o Islão coexiste com as outras religiões, em França, o que não acontece nos países onde é maioritário e, mesmo em França, não coexiste com o respeito pelas leis da República, igualdade de sexos e civilização.

O Governo francês apresentou o projeto ao Conselho de Ministros a 9 de dezembro, no dia do 115.º aniversário da lei de 1905 que instituiu a liberdade religiosa e a separação entre Igreja e Estado, em França.

Submetido à Assembleia Nacional da França foi largamente aprovado, apesar de críticas por discriminar a comunidade islâmica e impor restrições arbitrárias à vida quotidiana de cidadãos islâmicos. O texto, que reafirma o “respeito pelos valores da República”, teve 347 votos a favor, 151 contra e 65 abstenções, e, a partir de 30 de março, prossegue o seu processo no Senado.

A nova lei autoriza a intervenção e invasão a mesquitas e associações responsáveis pela administração, além de controlar as finanças de entidades e organizações não-governamentais pertencentes a muçulmanos. Em 2004 já a lei proibiu o uso ou exibição pública de símbolos religiosos nas escolas francesas, e proscreveu o ensino doméstico.
Qualquer das leis não é dirigida ao Islão, visa a defesa da República e da laicidade, uma resposta à apropriação do espaço público por manifestações pias, e a defesa da cidadania contra o comunitarismo.

Depois do Senado, serão os deputados da Assembleia Nacional a ter a última palavra sobre qualquer emenda. Tudo leva a crer que entrará brevemente em vigor.

O Partido Socialista Francês (social-democrata) considera uma abordagem repressiva a nova lei, e o grupo esquerdista ‘La France Insoumise’ que estigmatiza os muçulmanos. É essa cobardia, na procura de votos em autarquias de grande densidade de muçulmanos que leva à defesa do multiculturalismo contra a cidadania, à indiferença perante o apelo ao ódio em madraças e mesquitas onde se recrutam crentes para a Jihad.

A lei impõe neutralidade religiosa aos trabalhadores dos serviços públicos, protege-os de pressões radicais, e condiciona a concessão de subsídios públicos ao respeito dos valores republicanos, como o secularismo e a igualdade de género, às associações que os solicitam. Haverá aqui qualquer exigência antidemocrática?

Esta lei impede que as regras religiosas se sobreponham à legislação nacional e defende a penalização da emissão dos certificados de virgindade e o reforço de controlos contra casamentos forçados que, já proibidos, afetam atualmente cerca de 200.000 mulheres, de acordo com os números das organizações não-governamentais. Esta lei é injusta?

A decapitação, em 16 de outubro, do professor de liceu Samuel Paty, depois de ter mostrado caricaturas de Maomé nas aulas, o ataque ao Charlie Hebdo, o ataque de Nice, o massacre dos jornalistas do Charli Hebdo e numerosos assassinatos ao som do grito selvagem Allahu Akbar (Deus é grande), não são alheios a esta necessidade legislativa, assim como o facto de, desde 2014, 1.500 franceses aderirem ao Estado Islâmico na Síria e Iraque.

Há quem deixe para os fascistas o monopólio da luta contra o fascismo islâmico, a favor do fascismo católico ou protestante, quem minimize o perigo para a paz, a democracia e a civilização, ao permitir que as investidas beatas de qualquer religião contra a laicidade do Estado democrático.

O título deste texto, que não consegui mais curto, é enganador. A lei em que me revejo não é contra os muçulmanos, geralmente as maiores vítimas da fé que os envenena, é a favor da República e da laicidade, assumindo a superioridade dos valores civilizacionais sobre a vontade divina interpretada pelo seu clero, de diversas religiões.

Todos somos ateus em relação aos deuses dos outros. Os ateus só o são em relação a mais 1.

Fontes: Jornais franceses, espanhóis e portugueses.

 

A origem da biodiversidade

12 de Fevereiro de 2021  |  Escrito por João Monteiro  |  1 Comentário

Celebra-se hoje, a nível internacional, o aniversário do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882). Aproveitamos esta data para relembrar um pouco do seu contributo para o nosso entendimento da realidade que nos rodeia.

Têm sido várias as propostas, ao longo da história da humanidade, para explicar a origem da vida e da multiplicidade de formas de seres que nos rodeiam. Houve quem tivesse defendido uma criação divina ou, pelo contrário, um surgimento da vida através de reações químicas; houve quem tivesse argumentado que as espécies atuais são exatamente as mesmas que habitaram no passado longínquo (fixismo) ou que estas tinham alterado a sua forma ao longo do tempo (transformismo). Para cada uma destas hipóteses foram apresentados os mais variados argumentos, desde espirituais ou religiosos, até materialistas e científicos. Vários pensadores, religiosos e cientistas contribuíram para este debate, ao longo da nossa história, mas foi Charles Darwin quem apresentou uma explicação que se mantém válida até hoje: a evolução das espécies pelo mecanismo de seleção natural (há também outros mecanismos como a seleção sexual ou a deriva genética).

Em bom rigor, a teoria de Charles Darwin, proposta no seu célebre livro “A Origem das Espécies” (1859), não fala da origem da vida mas apresenta, sim, uma hipótese para explicar a origem da biodiversidade que nos rodeia.

Podemos resumir esta teoria em torno de quatro princípios: 1) numa população os indivíduos apresentam diferenças entre si (podem ser morfológicas, comportamentais, bioquímicas, etc.); 2) ao reproduzirem-se, a população cresce originando um aumento do número de indivíduos e das suas respetivas características; 3) perante uma pressão seletiva (predador, doença, alteração ambiental, barreira geográfica, etc.) só os indivíduos com certas características, ditas vantajosas (naquele período e para aquele local) sobreviverão (ou viverão mais tempo) deixando assim mais descendentes com essas mesmas características, que por sua vez também viverão mais tempo e passarão as mesmas características, enquanto os indivíduos com as características ditas menos vantajosas (naquele período e para aquele local) morrerão (ou viverão menos tempo), deixando menos descendentes (ou nenhuns) com essas características; 4) com o tempo e ao longo de várias gerações teremos uma nova população com características diferentes da população inicial, e quanto mais tempo passar as características podem tornar-se tão diferentes entre populações originando isolamento reprodutivo e, por conseguinte, uma nova espécie – formando um novo ramo na árvore da vida.

Para Darwin, este era um processo lento e gradual e que implicava que todos os seres vivos no nosso planeta estavam ligados genealogicamente entre si, pois se recuarmos nos ramos desta árvore genealógica iremos encontrar um antepassado comum.

Convém relembrar que o trabalho de Darwin influenciou muitas outras áreas para além da biologia, tais como a psicologia ou a agricultura. É por causa de todos esses contributos que celebramos hoje o aniversário deste cientista.

Créditos: Imagem de Gordon Johnson por Pixabay

 

Salazar ou Cristo-Rei?

9 de Fevereiro de 2021  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Comentar

As pagelas que começaram a circular em Portugal no pós-guerra, guerra de que o Diabo terá sido responsável, atribuem à intervenção de Cristo a paz que imperou em Portugal, embora outras pagelas de igual proveniência a atribuam a Salazar.

Fosse de quem fosse o mérito, embora do primeiro se esperasse que tivesse evitado a guerra, o que admira são os títulos nobiliárquicos atribuídos pelo mais alto empregado de Deus, o cardeal Cerejeira, à família celeste.

Desde Cristo-Rei à Rainha dos Portugueses, esta a Senhora da Conceição, um de muitos heterónimos dados à mãe do primeiro, é de harmonia monárquica que se fala em plena ditadura, onde a Pide era mais expedita a manter a paz do que a família real celeste.

O comovedor pedido das criancinhas de Portugal, para que fosse erguido o monumento a Cristo-Rei, não surpreendeu quem as sabia pouco assíduas na escola, mas devotas da catequese. O que surpreende, ainda hoje, é o Cristo-Rei, vestido de Menino Jesus e com carácter reivindicativo, a afirmar categoricamente “Eu é que livrei Portugal da Guerra” e a exigir, de forma autoritária, pouco adequada à ternura que lhe está associada, “Quero o Monumento que Portugal me prometeu em troca”.

Esta linguagem parece mais própria do cardeal Cerejeira do que de crianças cuja oração, ‘indulgenciada com 100 dias’ pelo referido prelado, pedia à Senhora da Conceição, apelidada de Rainha dos Portugueses: “Fazei que Portugal erga depressa o Monumento a Cristo-Rei”, pressa que pode ter sido trágica para a estética, e reconfortante para a fé.

Ámen!

 

O que é mais perigoso: o teatro ou a missa?

18 de Janeiro de 2021  |  Escrito por João Monteiro  |  Comentar

Devido à situação pandémica que estamos a viver, o governo viu-se na obrigação de tomar medidas para controlar o progresso da pandemia em território nacional. Com o aumento do número de casos e com o agravamento da saúde dos cidadãos, o governo optou por adotar um discurso em que endureceria as medidas advogando um confinamento mais rigoroso. Se concordo com a intenção, porque a situação assim o exige, a verdade é que o confinamento rigoroso tornou-se num confinamento suave repleto de exceções. Isto apesar de alguns estabelecimentos fecharem de facto, como os cabeleireiros e outros terem sido alvo de restrições de funcionamento, como os restaurantes.

Mas se conseguimos compreender nalguns casos, mesmo que isso afete a vida das pessoas e da economia, como é o caso dos exemplos referidos dos cabeleireiros e restaurantes, por serem espaços fechados onde se aglomeram pessoas (mesmo sabendo que a atividade destes espaços se adaptou durante a pandemia, com diversas medidas como o distanciamento e a desinfeção mais cuidada), já temos mais dúvidas relativamente a outras medidas como o fecho de atividades culturais, como teatros, bibliotecas ou arquivos. E essas dúvidas aumentam quando comparamos com outras medidas de exceção como é o caso da realização de missas.

Antes de avançarmos, quero começar por deixar a minha opinião geral sobre o tema do confinamento, que considero importante para se compreenderem as minhas motivações. Considero que tem de haver confinamento e que quaisquer que sejam as medidas apresentadas haverá sempre concórdia e discórdia, pois, como todos sabemos e já diz o ditado popular, é impossível agradar a gregos e a troianos. Mais considero que a situação pandémica veio a dificultar a atuação do governo, e que mesmo não concordando com todas as medidas (por um lado, considero que pecam por defeito; por outro lado, elogio o governo por não tratar os cidadãos de modo paternalista), o governo conta com o meu apoio nesta situação difícil de saúde pública que, direta ou diretamente, nos afeta a todos. Ou seja, a crítica que de seguida apresento visa o desequilíbrio das medidas atribuídas à prática cultural e a religiosa.

Vejamos. Por um lado vemos as atividades culturais suspensas. Foram teatros, concertos, convívios, tertúlias, museus, bibliotecas que se encerraram. Atividades que já tinham sido numa primeira fase suspensas e em que numa segunda fase de reabertura se souberam adaptar, com ensaios distanciados e com máscara, com assentos do público também com distanciamento, com entradas e saídas ordenadas (em vez de multidões aglomeradas), enfim, com consciência cívica desde os organizadores ao público. Todas as pessoas precisam de cultura. Por outro lado temos as missas, que com a pandemia também assistiram a limitações à sua atividade, mas cuja atividade também se soube adaptar às circunstâncias, limitando o espaço disponível, aumentando o distanciamento e alterando algumas práticas ritualísticas. Compreendo que algumas pessoas, nesta fase, precisem do consolo que creem que a espiritualidade e a religião lhes possam dar.

É precisamente nesta descrição que fiz que reside a minha incompreensão: ambas as atividades se souberam adaptar às circunstâncias, mas a cultura é para todos e as missas são só para alguns. Por isso, questiono-me porque é que umas veem as portas encerradas enquanto outras mantêm as portas abertas. E já nem comento o facto desta medida discriminatória ter tido lugar num Estado Laico! Com isto, não posso deixar-me de questionar: será que ir ao teatro é mais perigoso para a minha saúde do que ir à missa? Não creio.

Por fim, o que esperava era que, no mínimo, a decisão de abertura ou fecho fosse idêntica para as duas atividades. Mesmo que se optasse pelo encerramento geral, as pessoas podem sempre orar em casa. E nós, não crentes? Aproveitemos esta fase de confinamento para ler, para ouvir música, para visitarmos museus online, para assistirmos a musicais no youtube, para escrever, desenhar ou pintar, que são outras maneiras de nos mantermos ligados à cultura.

Imagem de Mustangjoe
 

Crentes, ateus e humor

11 de Janeiro de 2021  |  Escrito por Onofre Varela  |  Comentar

Por Onofre Varela

Amos Oz foi um escritor israelita que nos deixou em 2018 contando 79 anos de idade. Era um defensor dos palestinianos e da paz que considerava dever existir entre Israel e Palestina. Uma voz discordante das relações azedadas entre os dois povos vizinhos, que não conseguiu fazer-se ouvir pelos (ir)responsáveis políticos que fazem a guerra em vez de construírem a paz. É dele a frase: “O sentido de humor é uma grande cura. Jamais vi, na minha vida, um fanático com sentido de humor”. Ao contrário dos fanáticos que militam numa qualquer religião, há ateus que alimentam um saudável sentido de humor (também os haverá sisudos!). Lembro que há mais de uma vintena de anos participei, em Coimbra, numa reunião preparatória para a legalização da Associação Ateísta Portuguesa. O evento aconteceu num hotel onde se encomendou um almoço para aquele grupo de ateus que se reunia pela primeira vez, sob o lema: “Vale mais o primeiro almoço do que a última ceia”.

Christopher Hitchens, escritor e jornalista britânico, autor do livro “deus não é Grande” (Dom Quixote, 2007), soube que, em consequência do cancro que lhe encurtava a vida, havia quem fizesse apostas na Net sobre se se converteria quando sentisse estar às portas da morte, e declarou com sarcasmo: “Se me converter é porque acho preferível que morra um crente do que um ateu”.

Voltaire, no seu leito de morte, teve à cabeceira um padre que pretendia convertê-lo para exibir a sua conversão como troféu. Ao aperceber-se da intenção do clérigo que queria ouvir o pensador a negar o diabo, Voltaire disse-lhe: “Não é o momento apropriado para criar inimigos”.

Também Jesus Cristo era um homem cheio de humor, embora o Novo Testamento não o afirme… mas também não diz que ele respirava!… O escritor espanhol Félix Caballero Wangüemert escreveu o livro “Jesús Humorista – Comicidad, Humorismo y Sátira en los Evangelios” (Madrid, 2019). O autor fez um estudo dos Evangelhos e escreveu 316 páginas, referindo o humor que neles encontrou. É evidente que para uma análise deste tipo o leitor tem de deixar a religiosidade no bengaleiro e ler o Evangelho com olhos de céptico.

Um bom exemplo do humor de Jesus pode ser aquela descrição da transformação de água em vinho na boda de Canaã na Galileia (João 2: 1-11), para a qual Jesus e os seus discípulos foram convidados. O vinho acabou-se antes de terminada a refeição, e Jesus mandou que enchessem seis talhas com água e a servissem como se fosse vinho. Quando o mestre-sala o provou, comentou: “Habitualmente é servido o melhor vinho em primeiro lugar, quando os convidados ainda estão capazes de o apreciar. Mas aqui guardaram o melhor para depois!”.

Conseguir um bom vinho usando no seu fabrico, apenas água, dispensando as melhores cepas… convenhamos que, não sendo truque de magia, só pode ser humor!

Tenham uma Boa Festa da Família em recato, resguardados do vírus que por aí anda. Abraço-vos.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

 

SER BOA PESSOA É SER CRENTE?

11 de Janeiro de 2021  |  Escrito por Onofre Varela  |  Comentar

Texto de Onofre Varela

A resposta à pergunta formulada no título desta crónica pode ser encontrada por cada um de nós no juízo que fazemos do comportamento das pessoas que conhecemos, incluindo familiares, amigos e pessoas públicas. É verdade que o juízo é nosso e nada garante que possamos ser correctos na avaliação, porque obedecemos a preconceitos que alteram a honestidade da nossa apreciação.

Eu parto do princípio que o Ser Humano é igual em qualquer parte do mundo. Todos temos as mesmas emoções. Somos capazes de fazer o amor… mas também fazemos a guerra! As sociedades regem-se por valores éticos que não são muito diferentes entre elas. O respeito pelo outro parece-me ser a marca comportamental de todos nós, e na sociedade cristã onde nasci, fui criado e vivo diariamente, há uma ética comportamental que, se fosse observada por todos, viveríamos no melhor dos mundos. Obviamente que há sempre excepções que confirmam a regra… mas no essencial acredito que o Ser Humano é bom e fraterno por imposição não só das leis, mas também, se não principalmente, de uma ética natural ditada pelo cérebro que possuímos e registada na herança genética que recebemos e que a evolução vai aprimorando. O simples facto de haver regras sociais democráticas, comprova a nossa boa intenção, porque fomos nós quem as criou!

Steven Weinberg é um académico dos EUA que recebeu o Prémio Nobel da Física em 1979. É dele esta frase lapidar: “Com ou sem religião teremos sempre boas pessoas a fazer coisas boas, e más pessoas a fazer coisas más. Mas para termos boas pessoas a fazer coisas más, para isso, precisamos de uma religião”. Para comprovar a verdade da sua frase, basta-nos ver os actos bárbaros de religiosos muçulmanos fundamentalistas que matam excelentes pessoas sem outra “razão” que não seja a fé que têm de que “Deus quer vê-las mortas”. A barbárie religiosa muçulmana fundamentalista dos nossos dias pede meças com as históricas Cruzadas (1096-1270) que alimentaram uma guerra religiosa entre cristãos e muçulmanos por quase dois séculos.

Hoje, para além dos actos terroristas de religiosos muçulmanos (os mais recentes ocorrem no norte de Moçambique), também temos, no ocidente, dois casos de governantes que professam a fé cristã e são exemplos negativos pelas suas acções políticas: Bolsonaro no Brasil e Trump nos EUA. Ambos são profundamente crentes (Bolsonaro até se deixou “benzer” pelo explorador da fé Edir Macedo Bezerra, fundador da seita IURD). Usam o nome de Deus nos seus discursos, não respeitam etnias, agridem o ambiente e não esboçam qualquer gesto de combate à pandemia Covid, transformando os seus países em cemitérios de vala-comum para sepultar milhões de vítimas, não só do Covid, mas principalmente das suas atitudes perante os outros, imbuídos de um poder dado pelo povo… que já o retirou a Trump. É necessário retirá-lo, também, a Bolsonaro… e ao Edir, já agora!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

 

O proselitismo e a violência

10 de Janeiro de 2021  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Comentar

O pior que algumas religiões encerram é o seu proselitismo. Não lhes bastam os crentes próprios, exigem a conversão dos alheios ou a sua eliminação. A evangelização cristã é hoje, felizmente, uma tara acalmada com a repressão política sobre o clero. Abandonou há muito os métodos cruéis de evangelização que usou em vários continentes e, de forma particularmente violenta, na América do Sul.

Na Europa , a paz de Vestefália, pôs fim à sangrenta Guerra dos 30 Anos e a Igreja católica só aceitou a liberdade religiosa na década de 60 do século passado, no concílio Vaticano II. O azedume de João Paulo II e de Bento XVI apenas fez mal aos próprios e foi irrelevante para a liberdade religiosa europeia onde o secularização dos países tornou impensável qualquer perseguição.

O Islão, pelo contrário, na cópia grosseira do cristianismo introduziu a guerra como um instrumento de contágio e submissão, agravado pela decadência da civilização árabe e o ressentimento dos crimes de que foi alvo por países saqueadores de matérias primas, em especial o petróleo.É incontestável que os crentes não são piores nem melhores do que os não crentes mas ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e satisfação como os que são movidos pela fé.

Não é inocentando os crimes sectários das religiões que se estabelece um modus vivendi num mundo onde as diferenças deviam ser fatores de enriquecimento e não motivos de conflito.

Quando os crentes se convencerem de que as suas religiões refletem as formas de pensar da época em que surgiram e não palavras ditas por um ser ilusório, sem aparelho fónico, podem cumprir os preceitos que se habituaram a observar, desde crianças, e deixar no templo a obsessão de submeter os outros às suas próprias convicções.

Ao proselitismo não se podem tolerar outras armas para além da palavra e do exemplo e as armas devem ser banidas da evangelização. As democracias, por mais que sangrem, não podem ultrapassar os limites do Estado de Direito contra o terrorismo, sob pena de perdermos o Estado e o direito e ficarmos apenas reféns do terrorismo recíproco.

 

DIZEM

24 de Novembro de 2020  |  Escrito por Abraão Loureiro  |  Comentar

DIZEM – Foi uma vez, um menino que não foi concebido por amor nem por prazer, foi encomendado a um intermediário.
Criado numa família desajustada, a criança não abraçou a profissão do padrasto e pela mãe parece não ter nutrido grande afeição.
Desligado de tudo, fez-se à estrada e aí começou a conquistar amigos por onde passava.

Há boatos, que ele era um ótimo falador e politicamente virado à esquerda, fazendo afronta à direita contra os vendilhões e contra os ricos exigindo que a riqueza fosse mais bem distribuída. Enfim, quem não tem guarda chuva… molha-se. Caiu mal no goto dos políticos corruptos e fizeram-lhe a folha. Souberam que ele ajuntara 12 correligionários para espalhar fake news, boca a boca por que na época não havia nem telefone nem internet nem papel A4 para imprimir na clandestinidade.
Não tardou e foi acusado por um membro do grupo que usufruiu da delação premiada. Julgado em mais que uma instância, pois nem todos os juízes interpretam as leis com o mesmo raciocínio (o cérebro tem coisas que não lembram nem ao diabo), acabou condenado à morte. Foram-se os bons tempos de putas e vinho verde e ainda por cima teve de ir a pé até ao local indicado sem direito a transporte oficial do estado.
No final lembrou-se de tudo e acusou, PAI, PORQUE ME ABANDONASTE?

 

A ciência, os milagres e a santidade

23 de Novembro de 2020  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Comentar

Pensava eu, em meu pensamento, que os milagres cientificamente comprovados no laboratório do Vaticano, no mínimo de dois, eram as provas académicas de acesso à santidade que, comparadas com o mundo profano, equivaleria o primeiro milagre ao mestrado e o segundo ao doutoramento.

Pensava ainda, em meu pensamento, que a canonização, sem numerus clausus, atribuiria um alvará para novos milagres, sendo os dois primeiros as provas de exame no apertado filtro da canonização que, com o defunto ausente, fariam da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, a Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra, com a dignidade de Prefeitura.

Compreende-se que os santos precisem de provas para poderem continuar no ramo dos milagres, sendo os primeiros obrados à experiência e os seguintes já com provimento definitivo. Isso justifica as alegadas exigências postas na comprovação científica dos prodígios pela Congregação oficial para não se repetir a exclusão do Livro dos Santos, como sucedeu a S. Guinefort que, apesar de mártir, foi exonerado quando se descobriu tratar-se de um cão e o templo, em sua honra, foi mandado arrasar pelo Papa de turno.Um santo, depois do alvará de canonização, tem direito a biografia no Livro dos Santos, acompanhada da oração dedicada ao mesmo, de uma imagem clássica e do patronato e dia consagrado dento do culto católico.

Não admira, pois, a exigência de três médicos que confirmem os milagres e a dificuldade acrescida dos defuntos em obrarem milagres de jeito, depois da evolução farmacológica e dos avanços médicos. Exceto na oncologia, os milagres andam agora pelas varizes, furúnculos, queimaduras, moléstias da pele e, às vezes, pela fisiatria. Acontecem sempre na área da medicina e nunca na economia, física ou matemática, isto é, a santidade está confinada a medicinas alternativas. Mas o que surpreende é a inércia dos santos reconhecidos e o frenesim dos candidatos. Lembro-me de que Nuno Álvares Pereira, depois da brilhante cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo fervente de fritar peixe, e logo canonizado, nunca mais curou um simples furúnculo, hemorroides ou uma fratura do colo do fémur, o mesmo acontecendo com os milhares de canonizados dos três últimos pontificados.

A canonização, se a política da santidade se mantiver, deixa de ser o diploma para obrar milagres é passa a mero pergaminho com a jubilação assinada e com lacre do Vaticano.

A canonização de São João Paulo II veio dar razão a um adágio popular português que se aplicava às cadelas:

»Papas apressados parem santos cegos».

Não sabiam que o defensor e amigo de Pinochet protegia o silêncio sobre a pedofilia do clero.

 

Infantilidade religiosa

21 de Novembro de 2020  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Comentar

Por

ONOFRE VARELA

A RTP2 mantém diariamente, ao princípio da tarde, o programa “A Fé dos Homens”, onde algumas das igrejas estabelecidas entre nós divulgam os seus recados religiosos, na conviccção de estar a prestar serviço público. 

Confesso que não sei se serviço público é alimentar credos religiosos dando voz a quem vive da exploração da fé, ou se será, pelo contrário, mostrar a realidade da vida, do Homem e do mundo, sem fantasias, na procura de melhor formação científica para os cidadãos. Curiosamente a RTP não dá espaço idêntico a ateus! 

No dia 31 de Julho, pelas 15 horas, o canal passou um episódio produzido pela “Aliança Evangélica Portuguesa”, dedicado a contar “super histórias bíblicas” dirigidas às crianças, à moda dos contos do Capuchinho Vermelho e dos Três Porquinhos. Com a coordenação, apresentação e pré-edição de Sara Narciso, os episódios foram posteriormente publicitados em pacote, como sendo “uma série especial de programas «Luz das Nações» para crianças, que passaram na RTP às 15h no espaço «Fé dos Homens», alegadamente como oportunidade excelente para se reviver as aventuras de grandes heróis da Bíblia, como Abraão, Moisés, Daniel na cova dos leões, entre muitas outras. Com grandes músicas e até palhaçadas”. Vi o programa. As músicas anunciadas não estavam lá. Mas as palhaçadas preencheram-no! 

Começou com o sorriso e a voz angélica da apresentadora (os vigaristas também sorriem e falam maviosamente) que esqueceu o nariz vermelho no camarim, para dizer como se fosse coisa séria: “Vocês conhecem alguém muito chato, que se porta assim muito mal, rebelde e que não queira saber nada de Deus? Há pessoas assim meio tortas. Mas, sabes, Deus não desiste de ninguém”. E cantou apalhaçadamente: “Homenzinho torto, estrada torta, casa torta, encontrou a Bíblia e tudo o que era torto Jesus endireitou”. Lindo!… 

A seguir, o seu camarada de programa e de crença, Daniel Barros, veio contar a história de S. Paulo na versão que à sua fé interessa, transformando Paulo num dos Três Porquinhos, precisamente o mais inteligente deles, como se fosse o João Ratão que conseguiu não cair no caldeirão! 

Houve telespectadores que se sentiram incomodados com tais disparates apresentados por um serviço público, e queixaram-se ao Provedor do Telespectador, e a Associação Ateísta Portuguesa também lavrou o seu protesto, como lhe competia. Quando eu tive conhecimento do programa e da polémica, procurei-o na internet para o ver. Na verdade não se trata de nenhum programa didáctico, mas de pura fé. Não ensina quem foi Saulo, ou Paulo, nem o que o motivou a perseguir os cristãos e depois juntar-se a eles. 

Enquanto programa de fé motivou-me riso e pena. Riso, pela palhaça apresentadora; e pena, por se incutir nas crianças, que eventualmente tenham visto o programa, a crença em vez da sabedoria. A Sara Narciso não sabe que os ateus sabem mais de Deus do que ela pensa saber, porque, na verdade, ela não sabe. Ela crê!… E crer não é saber.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

 
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