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18 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Um dia de sorte para Maria Madalena

Naquele tempo, em Magdala, na antiga Palestina, uma multidão preparava-se para apedrejar Maria sobre quem recaía a acusação de pecadora. Fora um boato posto a correr, talvez por um corcunda da tribo de Manassé, ressentido por se ter visto recusado, que a sujeitara àquele veredicto popular de que não cabia recurso. O princípio do contraditório ainda não tinha sido criado, nem era hábito ouvir o acusado, principalmente sendo mulher, nem a absolvição estava enraizada nos hábitos locais. A lapidação de Maria tinha transitado em julgado.

A lapidação era, aliás, um divertimento muito em voga que deixava excitados os autóctones que habitavam as margens do rio Jordão que atravessava o Lago Tiberíade a caminho do mar Morto. Diga-se, de passagem, que esse desporto ainda hoje é muito popular em numerosos países, para imenso gáudio das multidões, e não faltam adeptos um pouco por toda a parte.

Aconteceu que andando o Senhor Jesus a predicar por aquelas bandas, depois de indagar o que se passava, aproveitou a multidão para se lhe dirigir, e disse:

– Aquele de vós que nunca errou que atire a primeira pedra.

Todos pareceram hesitar. Muitos deixaram cair as pedras com que se tinham municiado. Havia alguma crispação nos que vieram de longe, com sacrifício, e um certo desapontamento de todos os que esperavam divertir-se. Só o Senhor Jesus continuava sereno, a medir o alcance das suas palavras. Mas, eis que da multidão se ergueu um braço e Maria de Magdala caiu derrubada por uma pedra certeira.

Enquanto algumas pessoas a reanimavam, na esperança de repor o espectáculo que tão depressa se esgotara, o Senhor Jesus foi junto do atirador e disse-lhe:

– Então tu, meu filho, nunca erraste? *

– Senhor, a esta distância, nunca.

* Segundo um evangelho apócrifo o Mestre terá exclamado: Mãe!!! **

** De acordo com os exegetas esta exclamação deve-se ao facto de a mãe de Jesus estar convencida de que era virgem mais de 18 séculos antes de Pio IX lhe ter atribuído essa qualidade com efeitos retroactivos.

17 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Sodoma

Naquele tempo, andava Deus na divina ociosidade a que se remeteu depois de ter criado o Mundo, quiçá arrependido do estratagema que engendrou para que os animais se multiplicassem, a ruminar uma desculpa por ter incluído a macieira quando fez as plantas, sabendo que sem Eva e sem maçã estaríamos todos, ainda hoje, condenados ao Paraíso e ao tédio.

Tinha acontecido o dilúvio e a engenharia ousado edificar a torre de Babel. O primeiro foi um susto bem pregado e uma experiência radical e a segunda um enorme fracasso e uma grande confusão.

Pela planície do Mar Morto espreguiçavam-se cinco cidades que tinham níveis diferentes de desenvolvimento, costumes variados e interesses diversificados. Distinguiam-se Sodoma e Gomorra pela sua enorme riqueza, com um nível de vida de causar inveja, graças ao sector terciário que então não tinha ainda designação adequada, por não haver economistas encartados. As outras eram menos importantes, a acreditar no primeiro livro do Pentateuco.

Vinha do Norte o ar quente que, depois de percorrer e acariciar as águas do mar, entrava suavemente em Sodoma para animar os corpos e dar energia à alma, soltar toda a imaginação de que o mundo era capaz na sua difícil infância e produzir um indizível arrebatamento.

Homens e mulheres contavam os minutos das poucas horas que o expediente dos escritórios lhes tomava para cultivarem a seguir todos os prazeres febrilmente sonhados. Mesmo nas horas de trabalho não se coibiam de ser felizes e soltarem a imaginação. Os afazeres que o desenvolvimento tecnológico se tinha encarregado de aligeirar eram cada vez mais um mero resquício para justificar a maldição bíblica que viria a ser criada com efeitos retroactivos. Sendo o trabalho um bem muito escasso ninguém exagerava na sua apropriação.

Como os livros ainda não tinham sido inventados todos liam o livro da vida através dos sentidos. Tinham-se habituado a usar o corpo e a dar-lhe alma. Eram imensamente felizes a ponto de esquecerem Deus e os seus ensinamentos, as suas ameaças e maldições, o sofrimento e a cultura que o criara. E, porque eram felizes, não os atingia a doença, a fome, o medo ou a guerra.

Imagina-se o seu grau de felicidade pela intensidade da cólera divina, que enviou o fogo que destruiu Sodoma e, com ela, as outras cidades, e, com os que se divertiam, as crianças, que ainda o não sabiam fazer, e também os velhos que tinham esquecido já os divertimentos, se algum dia os souberam, e provavelmente algum anjo que tivesse tentado pôr termo ao pecado e acabou violado, chamuscadas as penas no desejo e esturricado, também ele, nas labaredas.

Ao longe Abraão assistia ao espectáculo que o seu Deus lhe servia à hora da sesta, tirando moncos do nariz, enquanto Loth, seu sobrinho, por bambúrrio da sorte ou por morar nos subúrbios, se esgueirava com as filhas e a mulher, tendo esta olhado para trás, apesar da recomendação divina em contrário, e sido transformada em estátua de sal, por ser nela maior a curiosidade que a obediência.

Para dizer alguma coisa ou por ter-se arrependido do fogo que ateara, ou para simplesmente criar factos que dessem conteúdo ao Êxodo, ao Levítico e a outros escritos, fez Deus umas promessas a Abraão que acabariam por dar origem a Israel, muito tempo depois, e dado a Jacob e aos seus 12 filhos o Egipto para se instalarem e cumprirem a profecia.

Sabe-se que Sodoma ficou na memória oral dos povos pelos hábitos sexuais de uma escassa minoria. Conhecendo-se hoje melhor Deus e os seus humores, a fé e os seus preconceitos, a devoção e a sua intolerância, somos levados a crer que seriam deliciosas as vitualhas, capitosos os líquidos, requintados os hábitos, agradáveis as relações, enfim, felizes os seus habitantes, a ponto de Deus perder a paciência e ser tomado por aquela cólera que o celebrizou.

Terá sido Loth o autor do boato a que se deve a criação do verbo, a partir do nome da cidade desaparecida. Ou um qualquer viandante saído antes do fogo e rendido aos encantos do pirómano.

[Texto elaborado de acordo com a memória que guardo das catequistas]

17 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Sob o título «O ópio dos intelectuais» (EXPRESSO, 10/01/04, João Carlos Espada (JCE) associa-se ao ataque generalizado que, em Portugal, acolheu a proposta francesa sobre a laicidade. JCE reduz a França aos intelectuais do Quartier Latin, acoima a lei de «fundamentalismo, (…) impotente e patético» e atribui-a à ignorância da História por parte de Chirac.

Ora, a guerra dos véus, iniciada por duas alunas francesas, foi uma provocação instigada por clérigos que vêem com bons olhos a burka, a proibição da carne de porco, a excisão e a poligamia, em nome da pureza do islamismo – uma tentativa de desafiar a laicidade do Estado, em vigor desde 1905.

A proposta de lei não põe em causa a liberdade religiosa – como alega JCE – mas apenas que seja usada para perseguir os legítimos direitos das mulheres e impedir que a discriminação se perpetue por constrangimentos sociais. É por isso que há na sociedade francesa um consenso apenas quebrado por comunistas, verdes e trotsquistas. Não tendo a sociedade francesa ensandecido somos levados a crer que, pelo menos, haja motivos fortes para tal decisão.

Os sectores mais reaccionários da igreja católica apoiam a reivindicação islâmica, unidos no proselitismo, à espera de ajuste de contas posterior. A sábia decisão francesa acautela o direito de poder ter qualquer religião, ou nenhuma, perante anacronismos que consideram a apostasia e a blasfémia crimes hediondos merecedores de julgamento sumário e penas perpétuas.

Neste, como noutros casos, a comunicação social tem-se revelado um excelente veículo de difusão de notícias mas um medíocre espaço de confronto de ideias.

Injustamente para a França.

10 de Janeiro, 2004 jvasco

Querem ver uma discussão pseudo-filosófica GIGANTE?

Eu apresentei a tese de que um Deus único, Omnisciente, Criador e Omnipotente é incompatível com a nossa liberdade. O Tiago não concordou com o raciocínio apresentado. E uma discussão AVASSALADORA começou.

Está tudo no fórum do www.ateismo.net, em particular aqui.

4 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Qualquer dia, quem sabe, se os islâmicos conseguirem levar as suas intenções avante, talvez tenhamos este busto da República:

4 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Continuando com o humor:

31 de Dezembro, 2003 Hugo Charneca

Sec I

«Ora porque eu sou BOM!……..NÃO!…..Eu sou muito, muito BOM !!»

(Jesus Cristo depois de alguém lhe perguntar como tinha conseguido fazer o milagre da multiplicação dos pães)

Sec XXI

«Ora porque eu sou BOM!……..NÃO!…..Eu sou muito, muito BOM !!»

(Paulo Portas depois de alguém lhe perguntar como tinha conseguido fazer o milagre da multiplicação dos Euros no Orçamento de Estado)

31 de Dezembro, 2003 Hugo Charneca

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(Crianças a caminhar no parque)

CRIANÇA 1: Eu tenho muito orgulho no meu pai!

Ele é bombeiro, apaga os fogos, e ainda faz trabalho comunitário.

CRIANÇA 2: E o meu pai é médico, salva muitas vidas!

(criança 3 pára)

CRIANÇA 3: O meu pai faz coisas importantes pelo nosso paí­s!

O meu pai é do Opus Dei, ajuda a separar o lixo humano!

VOZ OFF: Separe todo o lixo humano: Muçulmanos, protestantes, hindus, budistas, espíritas, homosexuais, quem abortou, quem não vai à missa, quem não dá o dí­zimo, quem tenha relacções antes do matrimónio, quem use preservativo, quem tenha prazer algum.

Separando o lixo humano, no bairro em que vive, ajuda-nos a reciclar*.

Ajude você também a criar um melhor paí­s e um futuro risonho às nossas crianças.

*Depois de devidamente queima…reciclado o lixo transforma-se num importante adubo agrícola.

30 de Dezembro, 2003 Mariana de Oliveira

“Vale mais o primeiro almoço do que a última ceia” foi o slogan que o Carlos Esperança arranjou para o nosso encontro, o primeiro, do último Sábado. Tendo como pano de fundo a cidade de Coimbra e a Universidade, alguns dos intervenientes da lista Despertar, depois de muitas mensagens de correio electrónico trocadas, conheceram-se, conviveram e discutiram. A Associação República e Laicidade e a embrionária Associação Ateí­sta Portuguesa também marcaram presença.

Pela mesa passaram assuntos como os privilégios fiscais concedidos à  Igreja Católica, o aborto, a negociação velada da nova Concordata e a laicização do ensino. Muito ficou ainda por discutir, mas agora temos a certeza que não faltarão temas para encontros futuros.

23 de Dezembro, 2003 Mariana de Oliveira

Como esta altura do ano é propí­cia para contos, aqui vai um muito educativo:

A mulher chega ao consultório do ginecologista com a filha de 17 anos.

– Doutor! A minha filha perdeu o apetite, não pára de vomitar, tem tonturas… Por favor, veja o que a minha criança tem!

Depois de um rápido exame, o médico conclui:

– Minha senhora, a sua “criança” está à  espera de outra criança! Ela está grávida de dois meses!

– O quê??? – grita a mãe, indignada – A minha menina nunca esteve sozinha com um homem! Não é, filhota?

– Claro, mamã! Eu sou virgem!

O médico vai até a janela e fica calado, a olhar para o céu.

– O que é que o senhor está a fazer? – pergunta a miúda, visivelmente nervosa.

– Da última vez que isso aconteceu, nasceu uma estrela no Oriente e chegaram três Reis Magos. Desta vez eu não quero perder o espectáculo!