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Categoria: Ateísmo

9 de Março, 2010 Carlos Esperança

Considerações sobre religiões (2)

O Império Romano foi cimentado pelo cristianismo, mas a Europa moderna – e essa é uma singularidade sua – foi construída pelas suas elites políticas e intelectuais, através da separação da Igreja e do Estado, em contínuo confronto com o catolicismo romano, avesso à modernidade.

Os países dominados pelo cristianismo ortodoxo, onde o direito tem natureza política, não conseguiram a laicidade do Estado e essa é a principal razão para que nenhum país ortodoxo tenha conseguido um Estado moderno.

Mas, talvez a mais dramática das sequelas da moral religiosa tenha sido a obsessão pela repressão sexual que causou a infelicidade, o medo e o trauma do pecado em relação a uma fonte de prazer e de realização humana. E, o pior de tudo, o carácter misógino que impediu a emancipação da mulher, o direito à sua determinação social, profissional e cívica, reprimida pelos mais boçais e cruéis preconceitos patriarcais.

Neste ano do Centenário da República Portuguesa, precisamos de um sobressalto cívico, laico e republicano, que ecoe pelo Planeta e ponha termo às guerras religiosas que a fé faz detonar e ao terrorismo de quem julga cumprir a vontade de um deus cruel, violento e vingativo, uma criação obscena do desvario dos seus crentes.

O diálogo de religiões é uma impossibilidade teórica e prática. Pode – e deve – haver um diálogo de culturas. Aliás, as culturas contaminam-se, no sentido sociológico, e acabam por ser a síntese de várias, o produto da convivência entre comunidades diversas, o resultado da assimilação mútua e recíproca dos usos e costumes de todas e de cada uma.

O diálogo das religiões é diferente, é uma utopia, na melhor das hipóteses e, na pior, uma operação de marketing para facilitar o proselitismo e disfarçar a aversão recíproca. A religião, qualquer que ela seja, considera-se a única que interpreta a vontade divina e exige que todos se submetam à vontade do seu Deus.

Os homens podem entender-se mas os deuses exigem o confronto. O boato de que os livros sagrados são a expressão da vontade divina, ditados por anjos ou intermediados por profetas transforma as palavras em dogmas e os recados de Deus em sentenças de obediência obrigatória.

8 de Março, 2010 Carlos Esperança

Considerações sobre as religiões

Não podemos deixar-nos iludir pelo aparente carácter benigno do cristianismo actual, confiantes de que a luta contra a tirania eclesiástica e os seus interditos foi ganha pelo Iluminismo, pela Revolução Francesa e pela secularização em curso na Europa. Não há vitórias definitivas. O Deuteronómio, que inspirou os inquisidores e não foi revogado, ordena explicitamente aos fiéis que matem qualquer pessoa que professe simpatia por deuses estrangeiros e exige ainda que as pessoas demasiado susceptíveis para tomar parte nas chacinas religiosas devem, também elas, ser mortas. (Ob. Citada 17:12-13).

A raiva e frustração árabe contra o Ocidente, que está na origem do terrorismo suicida e assassino, bem como do seu atraso económico, social e político, é consequência dos versículos do Corão que intoxicam e enlouquecem os crentes. Ler esse plágio grosseiro dos versículos bíblicos, imune à influência da cultura grega e do direito romano, mostra  a escassez da compaixão em detrimento da violência, a submissão humana à vontade do deus – o clemente – que um profeta analfabeto imaginou.

As páginas do Corão apelam constantemente à destruição dos infiéis, da sua cultura e civilização, bem como dos judeus e cristãos (por esta ordem) em nome do mesmo Deus misericordioso que alimenta a imensa legião de clérigos e hordas de terroristas.

Como entender que haja quem creia, e, pior, quem aceite impor a tolice criacionista nas escolas e que a Terra, apenas a Terra, nasceu no Sábado, 22 de Outubro de 4004 A.C., às seis horas da tarde – como infantilmente calculou o famoso arcebispo James Ussher de Armagh –, num universo que terá começado há cerca de 12 mil milhões de anos?

Com que cara fitaria hoje, cada um de nós, homens civilizados, a nossa mãe, a mulher, as nossas filhas ou as irmãs, se cumpríssemos a recomendação do Talmude – manual de maus costumes, como diria Saramago –, o livro sagrado mais antigo, em uso contínuo, que ordena ao crente que agradeça todos os dias ao criador por não o ter feito mulher?

É essa misoginia que observamos em Paulo de Tarso, judeu de cuja dissidência nasceu o cristianismo, quando expressava medo e desprezo pelas mulheres, que o A.T. afirmava terem sido criadas para uso e consolo do homem. Que demência pode justificar o medo primitivo de que metade da raça humana fosse simultaneamente suja e impura como atestam os textos religiosos?

Se os funcionários de deus não tentassem inculcar a religião de forma coerciva, não teríamos necessidade de uma vigilância contínua e de autodefesa, mas estamos longe do arrefecimento do entusiasmo prosélito e do totalitarismo das religiões que disputam o mercado da fé. Santo Agostinho continua a ser uma referência ética da Igreja católica, o santo doutor que argumentava que se a tortura era adequada para aqueles que violavam as leis dos homens era-o ainda mais para aqueles que violavam a lei de Deus. (O Fim da Fé, Sam Harris, pág. 94)

7 de Março, 2010 Carlos Esperança

Razões para ser ateu (3)

As religiões foram algumas vezes perseguidas, sempre por razões políticas, mas as suas perseguições foram motivadas por crenças. Ninguém combate os talibãs por acreditarem que deus é grande ou que Maomé seja o seu profeta, nem por rezarem cinco vezes ao dia ou por jejuarem, mas sim  pelos atentados que perpetram, pela guerra santa (jihad) que promovem e pelos actos terroristas que praticam. O terrorismo pio invoca a vontade divina e é motivado pelo ódio aos infiéis e pela ânsia da conquista do Paraíso.

O que terá levado o Vaticano, o arcebispo de Cantuária e o rabino supremo de Israel a tomarem uma posição favorável ao aiatola Khomeini quando, na sua pia demência, condenou à morte Salman Rushdie pelo abominável crime de…ter escrito um livro?

Para as horrendas criaturas estava em causa um crime hediondo – a blasfémia –, um crime de sabor medieval que é um direito cívico de liberdade de expressão e o dever de abandonar uma religião – apostasia –, religião que no seu implacável proselitismo ameaça vergar o mundo, pela guerra, à vontade de Maomé. Os dignitários admitiram os assassinatos cometidos para cumprir a fatwa, e a vida dos tradutores, editores, livreiros e do próprio autor foram irrelevantes perante a fúria demente de quem julga ter rios de mel e dezenas de virgens, a título perpétuo, pela prática de um crime.

É perigoso deixarmos iludir-nos pelo carácter aparentemente benigno do cristianismo actual, confiantes de que a luta contra a tirania eclesiástica e os seus interditos foi ganha pelo Iiluminismo, a Revolução Francesa e a secularização em curso na Europa. Não há vitórias definitivas. O Deuteronómio, que inspirou os inquisidores e não foi revogado, ordena explicitamente aos fiéis que matem qualquer pessoa que professe simpatia por deuses estrangeiros e exige ainda que as pessoas demasiado susceptíveis para tomar parte nas chacinas religiosas devem, também elas, ser mortas. (Ob. Citada 17:12-13).

6 de Março, 2010 Carlos Esperança

Razões para ser ateu (2)

É difícil provar a inexistência do que quer que seja. Não é possível demonstrar que não existem, por exemplo, o abominável Homem das Neves, o monstro de Loch Ness ou as Sereias, ainda que destas últimas haja testemunhos numerosos e, alguns, de pessoas tão respeitáveis como Cristóvão Colombo que referiu, por escrito, tê-las avistado na costa da América, mas não nos esqueçamos de que o ónus da prova cabe a quem afirma a existência de deus e, sobretudo, a quem vive à sua custa. Se as religiões continuassem a dominar as mentes, a busca da verdade e a investigação científica teriam sofrido um atraso grave.

Como Bertrand Russell, estou tão firmemente convencido da nocividade das religiões como estou da sua falsidade (in Porque não sou cristão – Brasília Editora – Porto).

B. R. previu que “a condenação, pelo catolicismo, do controlo da natalidade, caso viesse a impor-se – como aconteceu –, tornaria impossível a supressão progressiva da miséria e a abolição das guerras”. Denunciou igualmente o sofrimento inútil causado pelas crenças hindus sobre o carácter sagrado da vaca e a suposta imoralidade da viúva que se casa de novo. E não lhe passaram despercebidas as várias abominações provocadas pela crença comunista na ditadura de uma minoria de verdadeiros crentes. (id, ibidem).

Não resisto a registar esta ironia certeira de Russel: « os protestantes gostam de ser bons e inventaram a teologia para que se conservassem assim, enquanto os católicos gostam de ser maus e inventaram a teologia a fim de fazer com que os seus vizinhos se conservem bons» (id. Ibidem).

5 de Março, 2010 Carlos Esperança

Razões para ser ateu

Não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que deus exista, nem ele, alguma vez, fez prova de vida. Não há qualquer evidência de que exista o ser que os homens criaram à sua imagem e semelhança, onde se notam traços evidentes das tribos patriarcais que há cerca de seis mil anos o inventaram.

Há razões intelectuais para descrer de um deus de que não existe qualquer prova, apesar dos risíveis milagres que lhe atribuem para perpetuar uma crença inculcada, quase sempre na infância, e alimentada pelos constrangimentos sociais e na perpetuação dos medos como mecanismos de manutenção do poder.

São razões morais as mais fortes para que o ateísmo não se transforme numa convicção pessoal silenciosa, pois jamais alguém matou ou foi morto por duvidar do movimento de rotação da Terra ou da lei da gravidade, mas diariamente se mata e morre em nome de um deus verdadeiro que cada crente julga ser o seu. Não há lapidações, fogueiras ou decapitações para quem não acredite numa lei da física ou numa teoria da biologia mas corre perigo quem manifesta dúvidas sobre a sanidade mental dos profetas ou sobre os ensinamentos que cada religião propaga.

Não podemos conformar-nos com o ódio que os sunitas sentem pelos xiitas, os cristãos pelos judeus, os muçulmanos pelos hindus e, todos, por quem não acredita nos poderes invisíveis que controlam o universo.

Temos de ter presente que as religiões monoteístas, cheias de interditos, são herdeiras e guardiãs dos preconceitos morais de uma época mais cruel e intolerante do que hoje. Há, pois, razões morais para nos opormos à vingança, crueldade, violência, espírito misógino e homofobia que as religiões propagam e às relações de poder que desejam perpetuar, nomeadamente à subordinação a que querem submeter a mulher.

3 de Março, 2010 Raul Pereira

As provocações do Sr. Henrique Raposo

O Sr. Henrique Raposo diz que não é possível dialogar com ateus. Nós provamos que isso é uma inverdade.

I – O Sr. Henrique Raposo comete vários erros: primeiro, não há qualquer «pulsão religiosa» nos homens, há apenas desconhecimento e questões que se querem respondidas atribuídas a uma ideia de divino. Este conceito funciona como um escape que logo justifica o inexplicável e evita demais explicações. Isto não é «pulsão», é falta de paciência na capacidade que nós temos de resolver os grandes problemas que o universo nos coloca e que devemos encarar sempre como desafios. Depois, na ânsia de perseguir os «esquerdistas», esquece que há ateus de direita, de esquerda, do centro, de cima e de baixo. Bem, de cima talvez não, porque raramente algo de bom vem do céu. E nem sequer estamos a falar em deus, que é assunto que não deveria interessar a ninguém, de inócuo que é, mas de fezes de pombas, meteoritos, chuva torrencial, canícula e aviões com terroristas (fanáticos) aos comandos.

Insiste que Hitchens não deveria travestir a religião de fascismo. De facto, poucos são os pontos comuns das religiões com o fascismo e é um erro grosseiro se nos atrevermos a enumerá-los. Vejamos, são mesmo mínimos e não custa nada: quase todas apresentam normalmente um líder que cultiva uma imagem ridícula, preceitos e regras a serem cumpridos sem recurso, alianças forjadas (com outros regimes fascistas) quando convém, incentivos para lutar até à morte defendendo a causa, policiamento regular de quem não cumpre e, se alguém quiser abandonar o fascio na valeta, é o cabo dos trabalhos! A única diferença é que hoje, nos países ocidentais, temos a felicidade de optar pertencer ou não ao grupo. No entanto, se não nos chatearmos em demasia com isso, o nosso nome continuará lavrado nos livros empoeirados dos arquivos e fará sempre parte das estatísticas que são usadas, amiúde, com grande habilidade.

II – Novamente no mesmo argumento do fascismo. O Sr. Henrique Raposo esquece-se é do seguinte: que para ler os «originais» mais vale ler os clássicos e começar com «As Nuvens» de Aristófanes, por exemplo, que já no séc. V antes de um tal de Cristo, apesar de criticar duramente os filósofos ateus, demonstra com esse ataque a expressão e importância que estes tinham na sociedade helénica. Sempre houve, portanto, gente a viver da escrita de uma «novidade» que não o é; chama-se apenas «racionalidade» e, como parece comprovar um estudo científico publicado a semana passada, talvez inteligência. Esta, Sr. Henrique Raposo, existe desde que há homens e mulheres.
Ah, claro, fez-nos rir com a luta da religião contra os regimes totalitários, mas essa história está tão batida que já nem cola. Apenas dizer que são certamente de louvar (não sei se esta será a palavra indicada) os esforços que muitos religiosos empreenderam contra Hitler e Franco, mas todos nós sabemos que esses, falando em hierarquias, normalmente não eram os que assentavam o barrete cardinalício nas nucas, mas antes os que arrastavam penosamente as pobres sotainas. Onde contava ter o apoio dos religiosos, eles fecharam-se em copas e preferiram negociar, ficar em silêncio ou saudar o ditador com o bracinho no ar, em toda a sua graça. O Sr. Henrique Raposo esquece-se também de que, se houve padres, também houve milhares de ateus que lutaram pelos ideais da liberdade e que foram presos ou tiveram de se refugiar. [Apontamento: ler isto isto ao som de Béla Bartók]

III – Hitchens não deve nada a deus – ninguém deve. Nem sequer ao conceito, que é ao que se estava a referir. Deve ao código genético que herdou, à sua educação e à sua vivência pessoal. Se não existissem religiões, Hitchens estaria (e está, certamente) contra os que negam a eficácia das vacinas, por exemplo. Aliás, basta ver que a sua ascensão pública nada teve a ver com ateísmo. Disto se infere que Cristopher Hitchens nunca precisou de deus para ser quem é. Ele é simplesmente assim, um homem de causas e convicções fortes.
O contrário parece ser o caso do Sr. Henrique Raposo, que nos deixou ligeiramente preocupados quando afirma que não se admite ateu simplesmente por causa de homens «cool» como Hitchens e prefere afirmar-se agnóstico. É a mesma coisa que dizer: «Eu sou benfiquista, mas agora sou sportinguista porque está lá o Jesus. Se Jesus não fosse tão «cool», continuava benfiquista. Se não, ai Jesus!, ainda posso ficar como ele e começar a jogar muito pela esquerda!».
Os ateus, como em todos os grupos humanos, há-os intolerantes, activos, não dialogantes, tolerantes, dialogantes, escondidos na sombra ou a sofrerem muitas vezes pelo simples facto de o serem e não o poderem revelar. O que incomoda pessoas como o Sr. Henrique Raposo é que, se durante milénios andamos calados e perseguidos, agora, estamos finalmente protegidos sob a capa da Liberdade e, com a Internet e os novos media como ferramentas, conseguimos elevar mais um pouco a nossa voz neste mar irracional. É como ter numa sala aquele relógio muito antigo ao qual um dia damos corda e que começa a incomodar-nos com o barulho do pêndulo. Mas a verdade, Sr. Henrique Raposo, é que esse relógio é uma obra de arte e poderá muito bem indicar no futuro as horas a uma humanidade perdida.
A intolerância, diremos nós, é de quem não nos deixa falar, nos critica por qualquer coisinha que dizemos ou nos olha com desconfiança quando o tentamos fazer de igual para igual. Como num diálogo, sabe?

28 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Considerações sobre o ateísmo (5)

Nenhum acto bom é exclusivo dos religiosos e, para se  ser bom e ter valores, a religião é escusada. Mas, facilmente vemos actos e valores condenáveis associados a práticas religiosas, desde sacrifícios humanos e da Inquisição até aos ataques bombistas e à mutilação genital feminina. Em síntese, afirmou que a fé é inútil para se ser bom e é a causa de muitos actos condenáveis. Referiu boas razões para um ateísmo combativo: a persistência das superstições que impedem mais justiça, as tentativas obstinadas das religiões para interferirem na política das democracias e o islamismo radical que designou como fascismo islâmico.

Diariamente vemos condenações à morte por adultério em países islâmicos, a absoluta ausência de liberdades das teocracias, bem como os inúmeros interditos do catolicismo romano a proibir o planeamento familiar, o divórcio e o uso do preservativo em países dizimados pela Sida.

Não esqueçamos o que leva as pessoas a crerem em Deus: não são os argumentos mas, quase sempre, o hábito de o fazer desde criança. É essa tradição que, a ser quebrada, conduzirá o fenómeno religioso para nichos pouco relevantes. Mas, antes, é preciso erradicar os constrangimentos sociais e as severas punições que as teocracias ainda têm força para levar a cabo.

28 de Fevereiro, 2010 Carlos Esperança

Considerações sobre o ateísmo (4)

O medo do ateísmo e a força da palavra fez nascer, em 1866, a Liga Nacional Contra o Ateísmo. A «Guerra a Deus» foi o grito de revolta de Paul Lafargue em 1865 e, em 12 de Maio de 1870, Gustave Florens escreve num artigo de «La Libre Pensée»: “O inimigo é Deus, essa espantosa mentira que, desde há seis mil anos, irrita, embrutece e humilha a humanidade”. É curiosa a observação de Ferdinand Buisson, referindo «aqueles que, no fundo, têm medo das palavras e que, sem se saber porquê, não pronunciam a palavra ‘ateísmo’ como qualquer uma outra» .
(Isto será particularmente compreendido por aqueles que viveram na ditadura salazarista e sabem como, mesmo em família, se pronunciavam as palavras PIDE, comunismo ou maçonaria).

Convém recordar que, nos finais do século XIX, era preciso guardar os moribundos ateus para evitar que os padres entrassem e lhes aplicassem a unção, para dizerem aos crentes que o ímpio se arrependeu à hora da morte. Não lhes bastava o medo que incutiam, não renunciavam à desonra de quem tinha uma pituitária avessa ao incenso e a pele alérgica à água benta, farejando a morte e pressionando a família. Foi assim que o ateu Émile Littré foi atacado com dois sacramentos à hora da morte, baptismo e extrema-unção, para gáudio do clero que se vangloriou, perante a cólera dos livres-pensadores de que se fez eco «L’Anticlérical» que intitulou um artigo, em 11 de Junho de 1881: «Mais um cadáver roubado. Mais uma infâmia que os padres acabam de cometer».

Christopher Hitchens, numa magnífica conferência realizada na Casa Fernando Pessoa, em 18 de Fevereiro p. p., em sintonia com o seu livro «deus não é grande», sustentou que a religião envenena tudo, quer pelos seus efeitos quer pelos seus princípios.