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Autor: dsottomaior

1 de Novembro, 2007 dsottomaior

Ateísmo em Piracicaba

Piracicaba é uma pacata cidade do interior do estado de São Paulo. Ela certamente tem sua fração de ateus como no resto do país, mas sabemos agora que um deles está disposto a dar voz e movimento ao seu ateísmo. Dias atrás, o estudante Daniel A. B. Modolo escreveu a excelente Apologia ao Ateísmo, que merece não apenas ser lida mas também comentada.

O jornal certamente recebeu comentários fortes dos religiosos, o que pode estigmatizar ainda mais a posição dos descrentes. Por isso é da maior importância contrabalançar esses comentários e deixar saber à sociedade Piracicabana quantas pessoas existem, aqui e alhures, que concordam com aquele texto. Envie sua mensagem por aqui.

2 de Abril, 2007 dsottomaior

Que Jesus proteja o nosso… dinheiro?

Pouco tempo atrás relatei aqui o lançamento uma iniciativa de retirada de símbolos religiosos de repartições públicas, que contrariam a Constituição Federal brasileira em diversos aspectos importantes.

Agora descobri neste post do Orkut (de uma comunidade dedicada a lutar contra o preconceito que sofrem os ateus) que um corajoso cidadão pediu a certa agência bancária do interior de São Paulo que retirasse o crucifixo nela afixado. Mas deixemos que ele mesmo relate o seu feito:

O Banco Real (ABN Amro Bank) atendeu no último dia 28 de março de 2007 a solicitação de processo interno iniciada por mim (Gabriel Gonzales), que questiona a presença de Crucifixos nas agências do banco. O Banco Real é uma empresa privada que possui inúmeros clientes, não só católicos, mas ateus, evangélicos, espíritas, judeus, islamicos, enfim de todos os credos,que efetuam os mesmos pagamentos de taxas, iguais à qualquer cliente católico, e a presença de tal símbolo fere a liberdade de expressão religiosa ou de ausência dela. Devido a tal, a superintendência do Banco determinou que os crucifixos das agências 0432 e 1299 respectivamente nas cidades de Araraquara e Presidente Prudente (ambas no Estado de São Paulo) sejam removidos imediatamente.
Como tal, fica arquivada a decisão como exemplo para todas as agências da rede, sendo necessária a constatação da presença do símbolo para ser determinada a retirada de tal. Em outras palavras, é necessário que denunciem o número da agência do banco Real que possui o crucifixo para que seja indicada a remoção.
Denuncie a agência da sua cidade pelo telefone 0800 7072399
Segundo frase do próprio banco: “Banco Real, repeitando a liberdade de culto e religião na teoria e também na prática!”

Vejo como um grande avanço na liberdade de expresão no Brasil tal prática do banco, já que nem os órgãos públicos respeitam a determinação da constituição federal de 1988 que caracteriza o Brasil como estado Laico.
Uma vitória para nós ateus!!!
Abraço a todos
Gabriel Gonzales

Essa ação estabelece um precedente importante de respeito para com todos aqueles que não são católicos. É importante notar que o banco tem toda liberdade de afixar os símbolos que deseje, e que o autor da ação reconhece isso plenamente. Mas também reconhece seu direito de sentir-se incomodado e de reclamar à instituição. É o jogo democrático de pressões e interesses perfeitamente legais e legítimos. E neste caso, felizmente, prevaleceu a neutralidade ao invés do arrogante proselitismo. Cabe a nós agora elogiar o senhor Gonzales, enviar os merecidos cumprimentos ao banco (por telefone, pelo atendimento online ao vivo ou pela página de emails) e apontar aos demais bancos e estabelecimentos comerciais o que a concorrência está fazendo.

Iniciativas desse tipo são da maior importância para estabelecer uma cidadania verdadeira e ampla, varrer do mapa a presunção de universalidade de um credo em relação ao qual os descrentes são duas vezes mais numerosos que seus fiéis, estabelecer a força e o valor da descrença, e estimular ações semelhantes. A Gabriel Gonzales meus parabéns e muito obrigado.

28 de Janeiro, 2007 dsottomaior

BRASIL para TODOS

Apesar de o estado brasileiro ter se tornado oficialmente laico com o fim do império, desde então concedeu-se tacitamente ao cristianismo romano, e somente a ele, a manutenção do privilégio de exibir seus símbolos nos lugares mais proeminentes de câmaras legislativas, tribunais e outras dependências dos três poderes, desde hospitais do interior até o senado e a câmara federais, o Supremo Tribunal e o palácio da presidência da república.

Ao longo de mais de um século, população e autoridades permaneceram religiosamente calados a essa afronta à lei e à neutralidade do estado, com exceções que se contam nos dedos de uma mão. Todas as sociedades convivem com ilegalidades sem poderem extirpá-las completamente, mas é difícil pensar em exemplos em que a contravenção é escancaradamente aberta, universal, e não só não é combatida como é orgulhosamente sustentada nos próprios salões do poder judiciário, que deveria ser o defensor da lei. Onde se terá visto inversão de valores dessa ordem durar por tanto tempo?

Agora finalmente os ventos começam a mudar. Em 2005, o juiz Roberto Arriada Lorea tentou sem sucesso remover crucifixos dos tribunais. No ano passado, um consciencioso cidadão levou ao conhecimento do Ministério Público a existência de um crucifixo nas dependências da Universidade de São Paulo. Embora o MP tenha sido informado do que já sabia, sua atitude
foi a de seguir a lei e pedir a retirada do símbolo, no que foi atendido. Uma vez estabelecido esse precedente, ficou claro que se podia estabelecer uma campanha de ampla retirada de símbolos religiosos em repartições públicas através do envio maciço de representações ao MP.

De fato, essa campanha foi lançada com o nome BRASIL para TODOS. O site www.brasilparatodos.org disponibiliza todos os endereços do MP no país, assim como um modelo de representação que os visitantes podem utilizar. Os próprios organizadores da iniciativa já se mobilizaram com relação a uma lista inicial de 13 símbolos religiosos, e no momento aguardam a resposta do judiciário. Esta é a primeira iniciativa do tipo no Brasil.

A campanha também é inédita também pelo fato de contar com o apoio de uma série de líderes religiosos, incluindo um importante bispo católico (aposentado), que se unem com descrentes, juristas, políticos e acadêmicos para levar o projeto adiante. Apesar de suas diferenças, todas essas pessoas se uniram no entendimento de que a lei e a cidadania em uma sociedade plural estão acima de preconceitos paroquiais e interesses de proselitismo sectarista. É uma lição de civilidade e modernidade e cabe a todos nós não só torcer por seu sicesso, como ajudá-lo ativamente. As instruções estão no próprio site. Para os interessados no assunto, está prevista a exibição de matéria a respeito no Jornal Hoje, da rede Globo, segunda-feira a partir das 13:15.

24 de Dezembro, 2006 dsottomaior

Frei Galvão

Gentes católicas da Terra de Santa Cruz, regozijai: já temos o nosso próprio santo.

Foi divulgado hoje que já pode ser marcada a cerimônia de canonização de frei Galvão, o primeiro santo natural da Terra de Vera Cruz. O motivo é o o “milagre duplo” de uma gravidez de alto risco levada a termo e a cura de uma doença grave do recém-nascido. Segundo essa mãe, “o Brasil inteiro precisava disso. Somos um País muito católico e precisávamos ter um santo nosso”.

Determinar a causa de um evento muitas vezes não é tarefa fácil, e uma das tentações que marcam esse caminho é imaginar que se um evento antecede outro, então é causa dele. Post hoc ergo propter hoc (depois disso, portanto por causa disso), ou Post hoc para os íntimos, é o nome que se dá a esse erro comum. Afinal, anteceder os efeitos pode até ser condição necessária para estabelecer uma causa, mas não é suficiente.

No entanto, é exatamente essa falha em que se se baseia um processo de canonização, assim como a crença em milagres operados por santos: “primeiro eu rezei ao santo, depois meu pedido se realizou, portanto foi realizado pelo santo”. Na verdade, essa é uma mistura de Post hoc com a falácia divina, também conhecida por argumento da incredulidade: “não consigo imaginar como isso aconteceu, então foi Deus”.


Como todo passe de mágica deve vir acompanhado de uma falsa demonstração de que não há truque algum, a Igreja só se pronuncia pela veracidade de uma cura miraculosa se o parecer de junta médica não encontrar nenhuma causa natural para ela. Mas são apenas espelhos e fumaça, pois os médicos e a igreja sabem que essa causa sempre existe, e se chama remissão espontânea.

Vejam bem, esse não é um deslize argumentativo lateral ou ocasional. Toda a história de santos milagreiros, canonização após canonização, “milagre” após “milagre”, milênio após milênio, é um sem-fim de variações do mesmo tema. É sempre a mesma falácia, praticada incessantemente pelo bilhão de católicos vivos e todos mais que os antecederam. Não é apenas um erro crasso, mas um erro crasso entronizado como instituição essencial e permanente da Santa Madre Igreja. Errar é humano, mas sacramentar o erro é profundamente religioso. Esse é um dos muitos motivos pelos quais a religião é coisa das mais perniciosas ao intelecto e à vida humana.

No caso do santo brasileiro, a história não pára por aí. Uma das causas dos milagres teriam sido as “pílulas” ingeridas pela mãe, que contêm três minúsculos pedaços de papel com uma mesma inscrição do Ofício da Santíssima Virgem. Que essas pílulas sejam vendidas e gerem recursos para a Igreja é um pensamento vergonhoso e descabido. Elas são gratuitas. Mas é impossível deixar de ver os benefícios secundários que trazem à Igreja, como o aprofundamento da fé e portanto das doações dos fiéis, a um custo virtualmente nulo. E quem poderia culpá-la? A Igreja precisa se sustentar de uma maneira ou de outra, pois os saldos das contas no Vaticano não crescem às custas de intervenção divina, por estranho que pareça.

As pílulas chegaram a ser proibidas em 1998 pelo cardeal arcebispo de Aparecida, D. Aloísio Lorscheider. Lorscheider chegou a afirmar que os “papeizinhos” eram reflexos da superstição, comparou-os a remédios falsos e disse que as 10 irmãs do mosteiro que os produz não podiam
prejudicar seu dia-a-dia de dedicação integral às orações e penitências (vide referência).

Que uma vida inteira dedicada a atividades rigorosamente inócuas para o restante do mundo não possa ser interrompida para outra atividade inócua é uma pérola à parte do pensamento cristão. Mas o fato é que hoje em dia as pílulas continuam, pois na Igreja Católica, o que conta é a vontade popular. Quando convém, é claro. Mas afinal é de se perguntar que curioso efeito elas teriam.

Será que o nosso sistema digestivo reconhece a diferença entre papéis com diferentes inscrições, dada que a composição e a proporção de tinta seja a mesma? Será que, analogamente à “memória” da água” dos preparados homeopáticos, cada disposição de caracteres impressos leva a tinta a diferentes arranjos moleculares, uma vez dentro do sangue? Ou será que o efeito vem da celulose, que não é digerida nem absorvida, mas permanece no intestino? Impossível discernir, minúsculos humanos que somos perante a imensidão do Senhor. E nem a Igreja alimenta esse tipo de busca pelo saber, que realmente não importa e está fadado a levar a pensamentos impróprios. O que importa é crer.

Se minhas hipóteses reducionistas são pequenas demais e a ingestão é meramente simbólica, talvez um gatilho para a ação sobrenatural, então por que criar qualquer tipo de mediação material? Por que não basta o simples pedido a um deus que tudo pode, tudo vê e tudo ouve? Será necessário impor atividades inúteis uma após a outra para estar bem aos olhos do Criador? Estará aí o mérito do fiel? Por que é que as ações de quem deseja uma cura se parecem tanto com os passos necessários para amplificar o efeito placebo? Primeiro o sujeito se compromete com o tratamento, de corpo e alma, depois ingere uma substância na qual ele tem grande crença e por fim uma eventual cura recebe o fantástico bônus de elevar o status do doente, literalmente às alturas.

Mas deixemos essas especulações vãs, pois o conteúdo das inscrições das pílulas acrescenta leva o evento aos limites do surreal: “Depois do parto, permanecestes Virgem. Mãe de Deus, intercedei por nós”. Ah, bom.

Vamos ver se eu entendi isso…

Um certo religioso que viveu no século retrasado alucinava um sujeito de quase dois mil anos antes que, apesar de ter sido preso, torturado e assassinado aos olhos de todos, é tido atualmente como onisciente, onipresente, onipotente e onibenevolente. Para sermos honestos, não temos como saber se o religioso alucinava ou se ele apenas alegava alucinar para com isso ganhar status entre seus pares. Bem, mas esse religioso, de quem se dizia que levitava e podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, criou certas “pílulas” de papel onde se lê que uma mulher manteve seu hímem intacto após conceber e deu à luz àquele mesmo ser onipotente, que foi o mesmo que a fecundou sem sexo ou sêmen. Segundo o religioso, a ingestão das pílulas teria efeitos curativos sobre virtualmente qualquer mal, o que é atestado pelo fato de que, entre as milhares de pessoas que já ingeriram as pílulas, algumas delas sofrem posterior remissão.

Exemplos como esse deveriam deixar claro como a religião é essencialmente incompatível com a ciência e o pensamento crítico. Infelizmente, eles costumam ser encobertos pela novilíngua do cristianismo, que impede os menos inclinados a expor tais eventos pelo que realmente são: afrontas ao intelecto, desprezo para com a verdade, e um enorme, monstruoso desperdício de recursos humanos e econômicos, que poderiam estar postos ao verdadeiro uso da caridade e do amor ao próximo se não fossem essas sandices investidas de imunidade tributária. Simplesmente não há como respeitar a religião.

5 de Novembro, 2006 dsottomaior

Comei frango, e tende fé

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se recusa a incluir nos formulários do censo uma opção específica para os ateus, obrigando-os a se identificarem juntamente com todas as posições diferentes descritas por “sem religião”. Categorias tão pequenas como os hinduístas, dois quais existem poucos milhares no país, merecem a distinção de poderem saber quantos são. Já aos milhões de ateus esse simples direito é negado.

Segundo pesquisa Brasmarket de alguns anos atrás, os ateus representam 1,4% dos eleitores, e são predominantemente homens de grandes cidades. Já segundo o Projeto Juventude do Instituto Cidadania, entre os jovens há somente 1% de ateus, e a maioria deles está no campo. De acordo com pesquisa publicada em 2002 pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social, há 5% de ateus na região metropolitana do Recife, que tem duas regiões com 13% de ateus. Em pesquisa de 2005 com cidadãos maiores de 16 anos, o Ibope apontou o
número de 2% para o grupo “ateu, não tem religião” e 6% para o grupo “é religioso, mas não segue nenhuma; agnóstico”. E para a pesquisa CCR-IBOPE de junho de 2003, 2,3% dos adultos são ateus. Seja como for, os números mais pessimistas indicam mais de dois milhões de ateus no Brasil.

É por isso que, se não for por considerações éticas, o mundo empresarial deve prestar atenção ao segmento dos descrentes ao menos por razões mercadológicas. É claro que uma ou outra empresa pode decidir que simplesmente vai se identificar com os evangélicos, que estão em maior número. E não há nada mais natural do que ganhar dinheiro às custas da religião. Mas o o problema é de outra ordem quando companhias aparentemente neutras se dedicam a promover visões religiosas.

A Sadia, por exemplo, conseguiu ofender de uma vez só milhões de consumidores brasileiros, e mais outros tantos cidadãos em 92 outros países. O grande produtor de frango e outros produtos alimentícios fatura cerca de R$ 7 bilhões e lucra R$170 milhões anualmente, e como toda grande empresa tem um leque de ações sociais nos quais dispende milhões de reais. Mas em nenhum lugar da cadeia de comando houve alguém com sensibilidade o suficiente que enxergasse além de seu pequeno mundo cultural e religioso.

A Sadia escolheu o mote “Cultive os valores” para promover seus kits de natal, e para isso “estudou as tendências dos consumidores e escolheu valores como amor, amizade, fé, perseverança e ética para expressar sua campanha”. Para a empresa, “esses valores foram
escolhidos por serem considerados universais e por abranger todas as culturas e religiões” e “os Kits Sadia também são uma forma de transmitir mensagens positivas (‘Cultive os Valores’) aos funcionários e clientes”. Analisemos cada uma dessas afirmações.

Ora, por certo que fé é um valor bastante popular e naturalmente apareceria com força em qualquer pesquisa de consumidores. Mas vejam o que acontece quando ela fica lado a lado com os demais valores. Uma pessoa sem amor pode ser má ou simplesmente amargurada. Quem nega a amizade é certamente um solitário e provavelmente um autocêntrico, ou incapaz de conviver em bons termos com seus pares. Quem não tem um mínimo de perseverança não consegue levar a cabo nenhum projeto em sua vida, nenhum emprego, nenhum estudo, nenhum relacionamento, nada. E os indivíduos amplamente aéticos são simplesmente canalhas. Ora, e o que são os indivíduos sem fé? O que o conjunto de valores sugere é que deverão ser igualmente ineptos ou condenáveis, figuras de quem se deve ter medo ou pena, como todas as demais.

Os autores dessa monstruosidade não tentaram esconder seu culturocentrismo porque sequer tiveram o discernimento de percebê-lo. Afinal, eles dizem com todas as letras que entendem que a fé “é um valor universal” e “abrange” (ou seja, contém) “todas [itálico acrescentado] as culturas e religiões.” Nada poderia demonstrar ignorância do assunto mais claramente do que isso. Em primeiro lugar, são as culturas e religiões que abrangem a fé, que por sua vez faz
parte delas. Mas tentemos uma interpretração mais suave, imaginando que o texto foi só mal escrito e o que se queria dizer é que os tais valores estão presentes (e não abrangem) em todas as culturas e religiões. Ainda assim haveria dois erros graves, pois diversas tradições religiosas orientais não incluem a fé e porque a fé, mesmo estando presente em todas as culturas, não existe em todos os indivíduos.

Se a fé é uma mensagem “positiva”, o que isso nos diz sobre o conceito que a companhia tem do seu oposto? Existirão dois opostos igualmente positivos? O que uma companhia alimentícia está fazendo ao nos dizer que nossas posições não existem, ou não são positivas?

Mas a coisa não pára aí. Segundo o site criado especialmente para promover os kits, “amor, amizade, fé, perseverança e ética são os verdadeiros valores que fazem com que as pessoas evoluam, empresas e marcas prosperem e transformem o mundo em um lugar melhor”. O Kit
Sadia “é uma mensagem de resgate dos verdadeiros valores que tornarão o mundo melhor”
. Não há como escapar da conclusão de que os indivíduos sem fé evoluirão menos, ou nada. As empresas e marcas “sem fé” também estão condenadas ao mesmo destino. E todos eles são responsáveis por atrasar ou impedir a transformação do mundo em um lugar melhor. Em outras palavras, nós e nossas posições fazemos o mundo um lugar pior.

A campanha da Sadia parece viver em um mundo em que os cerca de 4% de ateus do mundo simplesmente não existem. Ou, pior, talvez ela esteja ativamente ignorando esses 300 milhões de pessoas. Para a empresa, aparentemente não somos suficientemente importantes como pessoas. Esperamos que mudem de idéia, pelo menos depois de notar que a quantidade de riqueza movimentada só pelos ateus brasileiros é maior até que a receita total da empresa.

Sugiro aos consumidores dos produtos da companhia no mundo inteiro que deixem clara sua posição quanto a essas afirmações não somente através de suas decisões de compra, mas também de maneira explícita através dos canais de comunicação da empresa: os telefones (55) 0800-702-3355 (específico para o Sadiakits) e (55) 0800-702-8800, o email
duvidas@sadiakits.com.br e esta página. Não deixem de registrar nos comentários as mensagens que enviaram e quaisquer demais respostas que tenham recebido da empresa.

4 de Novembro, 2006 dsottomaior

Pastor resolve problema da aviação

Os muitos cultos cristãos do Brasil seguem à risca o mandamento de levar o evangelho a toda criatura, nem que para isso tenham que ganhar milhões. A Igreja Internacional da Graça de Deus, por exemplo, aluga diariamente sessenta minutos de horário nobre da TV Bandeirantes, uma das maiores do país, a um custo da ordem de dez milhões de dólares. Embora Deus seja onipotente, Ele se recusa terminantemente a fazer o dinheiro surgir espontaneamente em prol de tão boa causa, de maneira que são os fiéis, provenientes em sua maioria das camadas mais pobre do país, que sustentam a campanha. Mas essa é uma digressão.

Em seu programa “Show da fé” de 18 de setembro, o fundador da igreja, R. R. Soares, sem dúvida em contato direto com o Homem, nos brindou com uma curiosa informação sobre o mundo natural: “um avião só pode cair se não houver nehum justo dentro dele”.

De imediato percebi que qualquer pessoa de boa fé deveria ficar indignada ao máximo. Afinal, poucas semanas atrás sucedeu trágico acidente aéreo com um Boeing da Gol em que morreram todos os seus 154 ocupantes. E agora nos vem o missionário dizer uma coisa dessas? Como
é possível? Por que as autoridades não tomam uma providência? É muito claro que as famílias dos mortos nesse acidente e em todos os demais da história da aviação foram ultrajadas com o que é não somente uma enorme falta de respeito, como também, possivelmente, um crime.
Afinal, as companhias aéreas poderiam evitar todos os acidentes caso embarcassem ao menos um justo em cada vôo, para não se sujeitarem ao maligno acaso de que só pecadores comprem bilhetes — perigo tanto maior nestes dias de tribulação. Companhias ainda mais ciosas da segurança de seus passageiros contratariam dois justos, para o caso de um deles ter fornicado no dia anterior (ou coisa pior), sem que o sistema de vericação de justeza da companhia tenha descoberto.

As famílias em luto e todos aqueles que viajam de avião devem agradecer contritamente a informação do missionário, que não nos estaria disponível se não fosse por sua revelação direta, sem interesse pessoal ou financeiro algum. Creio que tanto cristãos quanto não cristãos podem perceber claramente a grandeza do gesto de Soares, motivo pelo qual insto nossos leitores, de todas as tendências religiosas e eventualmente arreligiosas, a mandarem suas opiniões à Igreja através do endereço http://www.ongrace.com/faleconosco/faleconosco.php.