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Dia: 21 de Setembro, 2007

21 de Setembro, 2007 Carlos Esperança

A religião e a democracia

A História está cheia de facínoras que governaram impérios e oprimiram povos. A caminhada para a modernidade fez-se com sonhadores, intelectuais e livres-pensadores.

Nunca, nessa lenta e dolorosa caminhada, se encontraram doutores da Igreja católica ou mullahs islâmicos. Estes estiveram sempre do lado da tradição, do poder e da repressão.

As ditaduras mais ferozes, as perseguições violentas e os ultrajes maiores à dignidade humana, tiveram a religião como apoio ou locomotiva. Até os despotismos do Séc. XX – o nazismo e o estalinismo – converteram em religião de Estado as sádicas ideologias. Ficamos sem saber se Estaline foi facínora por ter sido comunista ou por ter frequentado o seminário, para além das perturbações mentais que só seriam consentidas por povos herdeiros da demência repressiva dos cristianíssimos czares.

Vejam-se as ditaduras e os ditadores do que é hoje a União Europeia. Tiveram a bênção da Igreja e a cumplicidade de papas, cardeais e bispos. Da Espanha à Croácia, de Salazar a Musolini. E não falemos da América do Sul.

Ainda hoje o Papa, esse travesti garrido e excêntrico, goza da categoria de Chefe de Estado, investido na dignidade por Benito Mussolini nos acordos de Latrão. É um teocrata que se julga ungido de Deus e iluminado pelo Espírito Santo mas que deve a tiara ao poder e dinheiro do Opus Dei.

As ditaduras não são eternas mas as religiosas duram séculos e até milénios, até que o desprezo dos crentes ou a revolta das vítimas as coloque no caixote do lixo da História.

21 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

O Panteão é nosso

Andam por aí uns rumores de que o Panteão Nacional ainda é uma igreja (católica). Acontece que o visitei há poucos anos e não me recordo de ver nada que se parecesse com um altar católico (muito menos os ídolos habituais no politeísmo luso-católico: Cristo, a «Virgem Maria», os santos disto e daquilo, etc). Acresce que na página do IPPAR referente ao Panteão se diz apenas «Tipo de Gestão IPPAR (serviço dependente)», enquanto noutros monumentos onde se realizam actividades religiosas católicas se lê «Tipo de Gestão IPPAR (Serviço Dependente). Igreja afecta ao culto» (caso do Mosteiro dos Jerónimos, do Mosteiro da Batalha, do Mosteiro de Alcobaça). Mais: a «Igreja de Santa Engrácia» não é mencionada no saite do patriarcado de Lisboa da ICAR. E os católicos da freguesia de Santa Engrácia têm outra morada. Portanto, o Panteão Nacional não é uma igreja católica. É dos cidadãos. É mesmo nosso. Viva o Panteão!
21 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Uma nova crise com cartunes?

Não é a prisão de um obscuro cartunista no Bangladesh que tem o potencial para provocar uma crise internacional. Pelo contrário, a publicação por um jornal sueco de cartunes que mostram um cão com cara de Maomé tem todos os ingredientes para gerar as polarizações tão queridas a quem deseja uma «guerra de civilizações». Os cartunes podem ser vistos na (bem nutrida…) página da wikipedia sobre esta polémica, ou no blogue do seu autor, o artista plástico Lars Vilks. Foram publicados pela primeira vez dia 18 de Agosto, um acto que já foi condenado pelos governos do Irão, do Paquistão, do Egipto, da Jordânia e do Afeganistão. Porque será que, desta vez, a «rua muçulmana» ainda não está a ferro e fogo?

Os desenvolvimentos mais recentes incluem uma ameaça de morte vinda da Al-Qaeda no Iraque, com oferta de recompensa monetária de 100 mil dólares pela cabeça do artista («150 mil se for degolado como um cordeiro»), e a passagem à clandestinidade de Lars Vilks, como é evidente. A Repórteres Sem Fronteiras apoia-o, Lars Vilks diverte-se a mostrar as caricaturas em público, a Argélia condena a Al-Qaeda. O governo sueco, de forma mais inteligente do que o dinamarquês, desculpou-se pela ofensa causada defendendo em simultâneo a liberdade de expressão, e convidou vinte e dois embaixadores estrangeiros para uma conversa amigável. Será essa a diferença face ao caso de há um ano e meio?

Ou será que vamos ver outra vez o mesmo filme? Vamos explicar outra vez o que é a liberdade de expressão? Poderá Maomé passar, por exaustão do outro lado, a ser um alvo de sátiras sem consequências de maior?

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]