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Categoria: Vaticano

21 de Março, 2010 Carlos Esperança

A “carta pastoral” de Bento -16 ou “aquele engano de alma ledo e cego…”

Por

E – Pá

A publicitação da “carta pastoral” de Bento 16 dirigida aos católicos irlandeses link, um extenso e repetitivo documento com 14 itens e rematado – em jeito de post-scriptum – com uma “oração especial” dedicada à Igreja irlandesa, decepcionou  as vitimas de abusos sexuais (continuados) por parte de clérigos pertencente a essa mesma Igreja. link

De facto, as vítimas que, no mês passado, dirigiram uma “carta aberta ao papa” link, constatam que questões importantes ficaram sem resposta… como era de esperar.

A saber:
“Esse texto (da carta aberta), além de desculpas, pedia que o Vaticano reconhecesse sua culpa nos casos e que o papa aceitasse a renúncia de vários integrantes do alto clero irlandês, inclusive a do cardeal Brady.”
Por outro lado, consideram que, a “carta pastoral”, para além de ser mais uma oportunidade perdida, é um tipo de resposta do Vaticano totalmente deslocado e inapropriado :
“Uma carta pastoral não é a maneira de dar uma resposta aos relatórios de Ferns, Ryan e Murphy, que tratavam de violações, maus-tratos e abusos sexuais contra crianças cometidos por padres e religiosos neste país e que foram ocultados pelas autoridades da Igreja”, asseverou Andrew Madden, uma das vítimas dos abusos sexuais praticados por clérigos. link

De facto, carta pastoral pastoral de Bento 16 aos irlandeses “ladeou” as questões colocadas pela carta aberta (subscrita por Sean O’Conaill, coordenador da “Voz dos Fiéis”, Irlanda.), fugindo para lateralidades, marginalidades e retóricas canónicas que, ao fim e ao cabo, mostram uma maior preocupação na reconquista da confiança dos fiéis do que a determinação para enfrentar as consequências e a gravidade dos crimes de pedofilia, cometidos no seio das instituições religiosas e educativas, promovendo (ou facilitando) uma rápida e desabrida condenação dos clérigos prevaricadores, bem como, a necessária depuração na alta hierarquia católica irlandesa (…os seus “irmãos bispos”, como se lê na pastoral), indubitavelmente cúmplice e moralmente responsável pelos abusos sexuais em crianças …em múltiplas dioceses gaélicas.

Quando a oração que finaliza a carta pastoral “reza”: ” … possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso na formação dos nossos jovens no caminho da verdade, da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade…” estamos perante um intolerável cinismo, uma enorme desfaçatez e uma atitude deliberadamente enganosa.
Um procedimento típico da I. C. A. R. … envolver os problemas numa cortina de fumo!

19 de Março, 2010 Carlos Esperança

Bento – 16: pastorais ou empaleanço?…

Por

É – Pá

Hoje, ou amanhã (…os timings do Vaticano são misteriosos), Bento 16 publicitará uma mensagem dirigida aos católicos irlandeses, com a finalidade de reparar danos “irreparáveis” (passe a redundância) causados pela sucessão de vergonhosos e inadmissíveis escândalos de pedofilia que atingem – impiedosamente – a ICAR.

Não conhecemos (ainda) o teor dessa anunciada mensagem.

Todavia, sabemos que a sua premência, logo, a sua oportunidade, terá nascido na sequência de um encontro realizado, em Fevereiro último, entre o papa e os bispos irlandeses.

O confinamento desta mensagem aos fiéis irlandeses é extremamente redutor para a ICAR. A Igreja católica tem pretensões de universalidade e os escândalos de pedofilia, no seu seio, alastram por todo o Mundo como uma monstruosa mancha que, todos os dias, se expande .
O próprio Bento 16 teve consciência desse facto e na última audiência pública realizada no Vaticano, no passado dia 17 de Março, tentou emendar a mão reconhecendo que essa mensagem contemplava “todos os fiéis”.
Seria melhor que essa mensagem tivesse ainda um âmbito mais vasto e tivesse a pretensão de uma divulgação universal. Isto porque a ICAR está atolada em crimes que não atingem selectivamente “fiéis” mas, num consenso global, a Humanidade.

Finalmente, as expectativas de Bento 16, relativamente ao impacto dessa “carta pastoral” – são irrealistas, para não lhe chamar utópicas.
No actual momento que a ICAR atravessa não há documentos que consigam, como deseja o papado, “ajudar no processo de arrependimento, cura e recomeço”
A situação publicamente revelada é muito mais grave. Não se tratam de meras escoriações…
As feridas causadas pelo mar de escândalos de pedofilia no seio da ICAR minam, de modo irreversível, a pretensa autoridade moral do Vaticano. O prognóstico relativamente aos danos causados não pode encaminhar-se para alucinantes expectativas de “miraculosas” curas, como deseja Bento 16. Como o povo diz – santos de casa não fazem milagres…

A evolução natural das feridas abertas no seio da ICAR e a “conta-gotas” reveladas ao Mundo (crente e não-crente), não se compadece com esperanças de hipotéticas “curas” mas, pelo contrário, a gravidade dos danos aponta para um fim cataclísmico. As “feridas” ameaçam gangrenar. Resta-lhe, portanto, em vez de cartas pastorais, proceder a cruentas amputações ou, em alternativa, surgirá a falência sistémica.
A resistência do cardeal irlandês Sean Brady em aceitar a vontade popular no sentido de demitir-se das suas funções, mostra que a hierarquia religiosa, ao mais alto nível, optou por cuidados paliativos.

Será este o conciso âmbito da anunciada carta-pastoral!

18 de Março, 2010 Carlos Esperança

A Taxa Camarae do papa Leão X

Um dos pontos culminantes da corrupção humana

A Taxa Camarae é um tarifário promulgado, em 1517, pelo papa Leão X (1513-1521) destinado a vender indulgências, ou seja, o perdão dos pecados, a todos quantos pudessem pagar umas boas libras ao pontífice. Como veremos na transcrição que se segue, não havia delito, por mais horrível que fosse, que não pudesse ser perdoado a troco de dinheiro. Leão X declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou leigos, que tivessem violado crianças e adultos, assassinado  uma ou várias pessoas, abortado… desde que se manifestassem generosos com os cofres papais.

Vejamos o seus trinta e cinco artigos:

1.    O eclesiástico que cometa o pecado da carne, seja com freiras, seja com primas, sobrinhas ou afilhadas suas, seja, por fim, com outra mulher qualquer, será absolvido, mediante o pagamento de 67 libras, 12 soldos.

2.    Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, quiser ser absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deve pagar 219 libras, 15 soldos. Mas se tiver apenas cometido pecado contra a natureza com meninos ou com animais e não com mulheres, somente pagará 131 libras, 15 soldos.

3.    O sacerdote que desflorar uma virgem, pagará 2 libras, 8 soldos.

4.    A religiosa que quiser alcançar a dignidade de abadessa depois de se ter entregue a um ou mais homens simultânea ou sucessivamente, quer dentro, quer fora do seu convento, pagará 131 libras, 15 soldos.

5.    Os sacerdotes que quiserem viver maritalmente com parentes, pagarão 76 libras e 1 soldo.

6.    Para todos os pecados de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custará 27 libras e 1 soldo; no caso de incesto, acrescentar-se-ão em consciência 4 libras.

7.    A mulher adúltera que queira ser absolvida para estar livre de todo e qualquer processo e obter uma ampla dispensa para prosseguir as suas relações ilícitas, pagará ao Papa 87 libras e 3 soldos. Em idêntica situação, o marido pagará a mesma soma; se tiverem cometido incesto com os seus filhos acrescentarão em consciência 6 libras.

8.    A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crimes de rapina, roubo ou incêndio, custará aos culpados 131 libras e 7 soldos.

9.    A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.

10.   Se o assassino tiver morto a dois ou mais homens no mesmo dia, pagará como se tivesse apenas assassinado um.

11.   O marido que tiver dado maus tratos à sua mulher, pagará aos cofres da chancelaria 3 libras e 4 soldos; se a tiver morto, pagará 17 libras, 15 soldos; se o tiver feito com a intenção de casar com outra, pagará um suplemento de 32 libras e 9 soldos. Se o marido tiver tido ajuda para cometer o crime, cada um dos seus ajudantes será absolvido mediante o pagamento de 2 libras.

12.   Quem afogar o seu próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos [ou seja, mais duas libras do que por matar um desconhecido (observação do autor do livro)]; caso matem o próprio filho, por mútuo consentimento, o pai e a mãe pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.

13.   A mulher que destruir o filho que traz nas entranhas, assim como o pai que tiver contribuído para a perpetração do crime, pagarão cada um 17 libras e 15 soldos. Quem facilitar o aborto de uma criatura que não seja seu filho pagará menos 1 libra.

14.   Pelo assassinato de um irmão, de uma irmã, de uma mãe ou de um pai, pagar-se-á 17 libras e 5 soldos.

15.   Quem matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior terá de pagar 131 libras, 14 soldos e y6 dinheiros.

16.   O assassino que tiver morto mais de um sacerdote, sem ser de uma só vez, pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro, e metade pelos restantes.

17.   O bispo ou abade que cometa homicídio põe emboscada, por acidente ou por necessidade, terá de pagar, para obter a absolvição, 179 libras e 14 soldos.

18.   Quem quiser comprar antecipadamente a absolvição, por todo e qualquer homicídio acidental que venha a cometer no futuro, terá de pagar 168 libras, 15 soldos.

19.   O herege que se converta pagará pela sua absolvição 269 libras. O filho de um herege queimado, enforcado ou de qualquer outro modo justiçado, só poderá reabilitar-se mediante o pagamento de 218 libras, 16 soldos, 9 dinheiros.

20.   O eclesiástico que, não podendo saldar as suas dívidas, não quiser ver-se processado pelos seus credores, entregará ao pontífice 17 libras, 8 soldos e 6 dinheiros, e a dívida ser-lhe-á perdoada.

21.   A licença para instalar pontos de venda de vários géneros, sob o pórtico das igrejas, será concedida mediante o pagamento de 45 libras, 19 soldos e 3 dinheiros.

22.   O delito de contrabando e as fraudes relativas aos direitos do príncipe contarão 87 libras e 3 dinheiros.

23.   A cidade que quiser obter para os seus habitantes ou para os seus sacerdotes, frades  ou monjas autorização de comer carne e lacticínios nas épocas em que está vedado fazê-lo, pagará 781 libras e 10 soldos.

24.   O convento que quiser mudar de regra e viver com menos abstinência do que a que estava prescrita, pagará 146 libras e 5 soldos.

25.   O frade que para sua maior conveniência, ou gosto, quiser passar a vida numa ermida com uma mulher, entregará ao tesouro pontifício 45 libras e 19 soldos.

26.   O apóstata vagabundo que quiser viver sem travas pagará o mesmo montante pela absolvição.

27.   O mesmo montante terá de pagar o religioso, regular ou secular, que pretenda viajar vestido de leigo.

28.   O filho bastardo de um prior que queira herdar a cura de seu pai, terá de pagar 27 libras e 1 soldo.

29.   O bastardo que pretenda receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagará 15 libras, 18 soldos e 6 dinheiros.

30.   O filho de pais incógnitos que pretenda entrar nas ordens pagará ao tesouro pontifício 27 libras e 1 soldo.

31.   Os leigos com defeitos físicos ou disformes, que pretendam receber ordens sacras e usufruir de benefícios pagarão à chancelaria apostólica 58 libras e 2 soldos.

32.   Igual soma pagará o cego da vista direita, mas o cego da vista esquerda pagará ao Papa 10 libras e 7 soldos. Os vesgos pagarão 45 libras e 3 soldos.

33.   Os eunucos que quiserem entrar nas ordens, pagarão a quantia de 310 libras e 15 soldos.

34.   Quem por simonia quiser adquirir um ou mais benefícios deve dirigir-se aos tesoureiros do Papa que lhos venderão por um preço moderado.

35.   Quem por ter quebrado um juramento quiser evitar qualquer perseguição e ver-se livre de qualquer marca de infâmia, pagará ao Papa 131 librase15 soldos. Pagará ainda por cada um dos seus fiadores a quantia de 3 libras.

No entanto, para a historiografia católica, o Papa Leão X, autor de um exemplo de corrupção tão grande como o que acabamos de ler, passa por ser o protagonista da «história do pontificado mais brilhante e talvez o mais perigoso da história da Igreja».

(Fonte: Rodríguez, Pepe (1997). Mentiras fundamentais da Igreja católica.
Terramar – Editores, Distribuidores e Livreiros –
(1.ª  edição portuguesa,  Terramar, Outubro de  2001 – Anexo, pp. 345-348)

NOTA: Esta é a primeira vez que a Taxa Camarae do papa Leão X aparece na NET em português.

15 de Março, 2010 Carlos Esperança

Diário Ateísta – uma voz contra a superstição

Gostava de entender qual é o objectivo do Diário Ateísta. É uma espécie de Inimigo Público aplicado à religião? Quer apenas divertir-nos num mundo tão cheio de crises?
Alfredo Dinis (Comentário ao post «Vaticano sem psiquiatria»

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O Diário Ateísta existe desde 30 de Novembro de 2003 e só esteve ausente dos leitores durante os ataques de haeckers que, piedosamente, o quiseram calar. Chegou a ser uma referência pela qualidade dos textos, honrado na gramática e nas ideias, acutilante nas críticas e destemido na denúncia das superstições e medos com que as Igrejas intimidam os crentes.

Continua a denunciar os monoteísmos que são cada vez mais violentos, embrutecedores e retrógrados, vendendo o mesmo deus que foi o produto da imaginação dos homens das sociedades patriarcais da Idade do Bronze.

Curiosamente, o comentário em epígrafe refere-se a um post que se limita a reproduzir as preocupações do exorcista-chefe da Igreja Católica com os poderes do demónio que, segundo ele, Grabriele Amorth, «reside no Vaticano».

O Diário Ateísta não discute o domicílio de Satanás nem especula sobre os bispos que lhe estão «ligados». Só admira a inépcia de um deus que deixa entrar o demónio nos 44 hectares de sotainas, sem respeitar o Papa e os bispos que fabricam a água benta e se consideram especialistas em afugentar o demo.

Uma pessoa sensata considera a pedofilia uma doença do foro psiquiátrico e é capaz de atribui-la às hormonas, mas nunca ao demónio como declarou o calejado exorcista, com 25 anos de experiência no ramo.

Quando um sacerdote refere a sua experiência em 1700 sessões de exorcismo e recorda que os possuídos chegavam a cuspir pedaços de vidro e «de metal do tamanho de um dedo, mas também pétalas de rosas», não é preciso ser ateu para ver no autor um caso psiquiátrico ou um burlão contumaz.

É contra o regresso à Idade Média, contra esta escalada obscurantista, contra a mentira e o medo com que o clero imbeciliza os crentes, que o Diário Ateísta se constitui baluarte da sanidade mental e desmascara os impostores.

O negócio dos demónios já deu o que tinha a dar. A Igreja não cai pela razão mas desmorona-se pelo ridículo.

13 de Março, 2010 Carlos Esperança

B16 é hipócrita

O Papa acolheu um padre pedófilo quando era arcebispo de Munique, para que fosse tratado, anunciou esta sexta-feira o arcebispado de Munique, na Alemanha.

“A pedido da diocese de Essen, o abade H. foi acolhido no arcebispado de Munique e Freising em janeiro de 1980”, segundo um comunicado do arcebispado, liderado entre 1977 e 1982 por Josef Ratzinger, o actual Papa Bento XVI.

12 de Março, 2010 Carlos Esperança

O “diabo” mora no Vaticano?…

Por

E – Pá

No Jornal i, de hoje:

”Aos 85 anos, o padre Gabriele Amorth já lidou com 70 mil pessoas possuídas pelo demónio. Ele é o principal exorcista da Santa Sé e acaba de lançar um livro que faz jus a uma carreira: “Memórias de um Exorcista”. E, para Amorth, não há dúvidas de que os recentes escândalos de abuso sexual de menores em instiuições da Igreja são obra de Belzebu. “O Diabo está a trabalhar dentro do Vaticano”, diz o padre Amorth em entrevista ao La Repubblica.

Para o padre, as influências satânicas estão espalhadas por todo o Vaticano e são bastante óbvias nos episódios de luta pelo poder interno na igreja, entre “cardeais que não acreditam em Jesus e bispos que estão ligados ao demónio.”A “cobertura” da morte de Alois Estermann, o comandante da Guarda Suíça, em 1998, e do guarda Cedric Tornay, encontrado morto de forma misteriosa, é, na opinião de Amorth mais um exemplo de como o diabo vive e trabalha no Vaticano.” link

A “diabolização” do centro nevrálgico da ICAR, i.e., o Vaticano, a funcionar como uma mezinha “branqueadora” dos infames e intoleráveis crimes de pedofilia praticados por clérigos, sob o olhar cúmplice – ou a ocultação – da hierarquia católica.

Apetece comentar: “Com Clarim toca a lavar!”…