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Dia: 20 de Setembro, 2019

20 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

Há 479 anos – o primeiro auto de fé da inquisição portuguesa

Auto de fé

Sob o pseudónimo de Tribunal do Santo Ofício vigorou em Portugal um simulacro de Justiça conduzido pela padralhada, dominicanos e jesuítas, entre outros clérigos de mau porte e piores instintos, de Ordens diferentes.

Das cláusulas impostas pelos Reis Católicos de Espanha, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, para que D. Manuel I pudesse casar com a sua filha, constava a criação da Inquisição como instrumento de perseguição a todas as heresias contra a fé católica, com especial empenho contra judeus que resistissem à conversão ou ainda suspeitos de práticas judaizantes e que fosse oportuno aliviá-los dos bens materiais e castigá-los da heresia pelo fogo purificador das fogueiras.

Se os judeus eram sempre os suspeitos óbvios, já antes alvo de alguns massacres, nunca o Tribunal do Santo Ofício esmoreceu no combate a outras heresias danosas para a alma e os bons costumes, protestantismo, islamismo, blasfémia, feitiçaria, sodomia, bigamia e outros sacrilégios em que a imaginação clerical era fértil.

Em dezembro de 1531, o Papa Clemente VII emitiu finalmente a bula de fundação do Santo Ofício em Portugal, que chegou no país apenas em 1532 para ser oficialmente extinta em 1821. O terramoto de grandes proporções, em 1531, cuja causa foi atribuída pela população portuguesa ao criptojudaísmo dos cristãos-novos deve ter convencido o Papa da urgência da Inquisição. E foi assim que em Évora, Lisboa, Tomar, Coimbra, Lamego e Porto foram criados tribunais para julgar heresias durante quase três séculos.

O primeiro auto de fé em Portugal foi realizado em 20 de setembro de 1540 em Lisboa, na praça do Rossio local habitual de execução, embora sejam também conhecidos autos no Terreiro do Paço.

Era um espetáculo onde o povo se divertia a ver esturricar judeus, bruxas ou hereges de muitas e desvairadas ofensas à fé católica, e onde não faltava a corte, com a sua melhor nobreza e o alto e baixo clero, todos compostos com uma procissão e a alma limpa com o suplício do/a herege.

Portugal e Espanha não tiveram os benefícios da Reforma e sofreram toda a violência da Contrarreforma. No dia de hoje, em 1540, realizou-se em Lisboa, para gáudio da Corte, que esteve presente, o primeiro auto de fé da Inquisição em Portugal.

Há lá espetáculo mais bonito e estimulante para a fé do que ver arder hereges?!

20 de Setembro, 2019 Carlos Esperança

A religião, a carne de vaca e o Reitor da U. C.

Preservar o ambiente e tornar sustentável o Planeta é assunto demasiado sério, que não se compadece com ironias fáceis ou adiamentos em período de emergência, mas há um mínimo de bom senso aparentemente alheio ao Reitor da Universidade de Coimbra.

Todos sabemos que o modo de vida das sociedades atuais não é sustentável e que a sua perpetuação só abreviará o prazo de validade do Planeta para a vida humana. É urgente um novo paradigma que me leva a refletir sobre o aquecimento global e as tragédias que nos aguardam, mas há diferenças entre a ponderação exigida e o exibicionismo fácil.

Desconhecia a competência do Magnífico Reitor nas ementas das cantinas e a função de nutricionista-mor para proibir um alimento não proscrito pelas autoridades sanitárias.
A abolição inopinada da carne de vaca parece-me uma prepotência própria de um crente cujo proselitismo não aceita o contraditório. O atual reitor da UC, uma instituição laica, já surpreendeu na tomada de posse ‘antecedida de Missa Solene na Capela de S. Miguel, pelas 9 horas’, em 18 de fevereiro deste Ano da Graça.

Foi uma atitude pioneira de indignidade, de que pode não ter sido o responsável, mas a sua posse integrou uma missa para abrilhantar a cerimónia, missa cujo anúncio inédito mereceu a indignação de vários docentes. Foi a primeira vez que um reitor tomou posse com missa anunciada.

Se em 18 de maio foi o primeiro reitor a manifestar publicamente a preocupação com a salvação da alma, em 17 de setembro, sete meses depois, é pioneiro a salvar o Planeta. Espero que não pense que o pão ázimo, que alimenta a alma, transubstanciado em corpo e sangue, após os sinais cabalísticos, seja a fonte de proteínas para substituir a carne de vaca.

Para já, parece-me abuso de funções, à semelhança da Missa Solene, impor aos outros o direito individual que lhe assiste.

Como na missinha, volto agora a repudiar a prepotência do Magnífico Reitor, por não lhe reconhecer autoridade para a decisão que tomou.