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  • 6 de Agosto, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

O mito de Sísifo e a procura do imortal e do eterno

Por

Paulo Franco

A história humana é demasiado complexa para, de forma sucinta, expressar numa frase a sua essência. Mas se tivermos de o fazer, eu diria que a história humana se poderá sintetizar num processo contínuo de procura de imortalidade.

Todo o humano que nasce, se tiver a sorte de não morrer entretanto, mais tarde ou mais cedo irá confrontar-se com a verdade inexorável da sua finitude. A magistral máquina do processo evolutivo transformou todos os seres vivos em seres competitivos natos,
e no que diz respeito a nós humanos, para o demonstrar, competimos num campeonato invisível de aquisição de brinquedos. Quem adquirir mais brinquedos ganha a competição mas deparamo-nos com um problema para a qual não estamos preparados: o fim da competição, ou seja, a nossa morte. Inevitavelmente sairemos todos derrotados. Todos morreremos e esse é um resultado que não queremos aceitar de maneira nenhuma.

A evolução apetrechou-nos com inúmeros equipamentos de sobrevivência mas não nos preparou para a morte. Bem pelo contrário. Desde a pré-história que o Homem tem deixado indícios que tudo faz para acreditar que morrer não é algo definitivo.

O problema existencial é um beco sem saída no qual estamos irremediavelmente bloqueados.

E é aqui que a imaginação humana consegue transcender a fronteira aparentemente intransponível: a humanidade cria o mito: os Deuses; as Nossas Senhoras, os Anjos. Todos eles portadores de todas as características humanas, das mais triviais às de essência superior, mas, acima de tudo, são portadores daquilo que mais ansiamos mas que a natureza nos negou: a imortalidade.

Procuramos ainda a imortalidade através dos nossos filhos e das nossas realizações que podem ser desde uma pirâmide, uma torre Eiffel, a muralha da China ou o convento de Mafra.

Já alguém disse que na génese de todo o conflito humano está a ânsia de liberdade.
Que liberdade maior poderia ser alcançada do que tornarmo-nos imortais?

O mito de Sísifo é um ensaio filosófico escrito por Albert Camus em 1941. Camus introduz a sua filosofia do absurdo: o Homem em busca de sentido, unidade e clareza no rosto de um mundo ininteligível desprovido de Deus e eternidade. Será que a realização do absurdo exige o suicídio? Camus responde: “Não. Exige revolta”. Ele descreve então várias abordagens do absurdo da vida. No último capítulo compara o absurdo da vida do Homem com a situação de Sísifo, uma personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até ao topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até ao ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.

Sísifo é a humanidade. Todo Homem é Sísifo. Todos os dias temos de empurrar uma pedra até ao topo da montanha. Resta-nos apreciar, amar, deslumbrar, sentir durante o percurso aquilo a que chamamos viver. E por isso Albert Camus alertou que temos de imaginar Sísifo feliz.

Perguntaram ao Dalai Lama: “O QUE MAIS O SURPREENDE NA HUMANIDADE?”
Resposta : “ Os homens… porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para a recuperar. E, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de forma que não vivem nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer … e morrem como se nunca tivessem vivido.”