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  • 29 de Abril, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

A misericórdia de Deus: a maior de todas as contradições

Por

Paulo Franco

Mário (nome fictício) é um homem de meia idade que vive na Guatemala num meio social pobre e que tem de ter 2 empregos para sustentar a sua relativamente numerosa família. É pedreiro a tempo inteiro e faz “biscates” como assassino a soldo.
Esta última frase é dita, aparentemente, com uma normalidade absurda mas é reflexo da dura realidade vivida actualmente na Guatemala, onde a taxa de assassinatos é das mais altas do mundo.

(A Guatemala tem lutado contra uma onda de crimes violentos por mais de uma década. Os homicídios chegaram ao pico de 6 498 em 2009 e deram ao país uma das maiores taxas de assassinatos per capita do mundo, de acordo com dados da ONU.
Os poderosos cartéis da droga mexicanos, que disputam território para transportar cocaína sul-americana para os EUA, espalharam suas brutais tácticas pela Guatemala, contribuindo para os altos índices de criminalidade).

Mário recebe cerca de 2 000 € por cada pessoa que mata, e já matou 17 pessoas. Recebeu a sua primeira arma aos 14 anos, assassina pessoas desde essa altura e afirma sem pudor que gosta muito do que faz. Perto do local onde guarda a sua arma, guarda também uma bíblia que recebeu como oferta dos seus país.

Mário é assassino e sabe que isso está errado mas acredita que, no final da sua vida, se pedir com absoluta convicção e sinceridade perdão ao Deus católico será perdoado e irá para o céu quando morrer. Tal como Mário, muitos mafiosos são crentes na misericórdia divina e estão certos de que irão gozar as delícias do “paraíso católico”.

Esta ideia de um assassino crente no perdão divino parece obscena e aberrante mas está perfeitamente enquadrada no ideário católico ao ponto de a “Misericórdia de Deus” figurar como “imagem de proa” das promessas saídas da boca de qualquer Padre, Bispo, Cardeal ou Papa. Para esta malta, o maior perigo do mundo actual não é nem o terrorismo nem as alterações climáticas. Para a hierarquia superior da Igreja católica, o maior perigo do mundo actual é o crescimento do ateísmo.

Assim, com palavras doces e mansas, vão dizendo que até o maior dos assassinos (pecadores) se poderá salvar dos tormentos do inferno enquanto para os descrentes, naturalmente, Deus reserva-lhes um lugar muito especial para a eternidade.

Alguém consegue vislumbrar algum resquício de moralidade nesta questão?