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  • 2 de Janeiro, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

DE NATURA DEORUM* (1 de 3)

Por

JOÃO PEDRO MOURA

– A BASE

* “Da Natureza dos Deuses”, é o título duma trilogia que o escritor romano Marcus Tullius Cícero, escreveu em 45, antes da nossa era, explanando sobre a teologia grega e romana, mormente a estoica e epicurista.

Aproveitando o título, explano eu, agora e aqui, 2058 anos depois, sobre a natureza de deus: o conceito, a “obra” escrita e a “obra”… final…

A CAUSA PRIMEIRA

            1-Os crédulos da coisa divina, para convencerem os incréus, ou quem quer que seja, da necessidade de deus, costumam enunciar o seguinte silogismo:

– Tudo tem uma causa

– O Universo teve uma causa

– Logo, a causa é deus

2- Examinemos a validade deste silogismo. “Tudo tem uma causa”? Geralmente é verdade, para aquilo que nós conhecemos, objetos, pessoas, qualquer coisa teve uma causa, mais ou menos conhecida, independentemente da sequência de causas que originam uma sucessão de coisas.

3- “O universo teve uma causa”? Aqui nós não sabemos nada. Apenas saberemos remontar a vida atual e a matéria inanimada a uma sucessão retrógrada, que culmina na teoria do Big-Bang, superexplosão primordial, donde teria decorrido toda a matéria, em processo dinâmico de evolução. Não podemos adiantar mais nada, a não ser registar as fases e os momentos cruciais, plausíveis, da História Natural.

Mas insistem os crédulos que tinha de haver uma causa para o universo, neste caso, para o próprio “Big-Bang”, uma vez que tudo teria uma causa e o universo não poderia aparecer sozinho…

…Mas nós não sabemos se houve uma primeira causa! Para que serve especular?! É aqui que entram as religiões…

Aliás, nós só conhecemos a matéria, e como esta nunca poderia ter aparecido do nada (“ex nihilo, nihil”), deveremos concluir que a matéria é eterna, portanto, nunca foi criada.

4- “Logo, a causa é deus”? Em primeiro lugar, para alguém introduzir “deus” num silogismo, teria que justificar a sua existência, para poder operá-lo num raciocínio silogístico; em segundo lugar, como não conseguem demonstrar a existência de deus, impedindo, assim, a configuração duma hipótese divina, introduzem-no meramente como conceito especulativo… e acham ter resolvido o magno problema da origem primordial das coisas…

5- … Mas realmente não está resolvido…

Até porque, pegando no argumento da “causa divina”, como “causa primeira”, opugnaríamos logo este argumento da “causa primeira”, agora aplicado a deus:

– E quem criou deus???!!!

6 – De novo, os recalcitrantes crédulos tratam logo de arranjar uma réplica argumentativa, arengando com a suposta impossibilidade de haver uma causa para deus…

… E por que é que, então, teria que haver uma “causa primeira” para a matéria???!!!

Então, para o seu deus, não haveria uma causa primeira, mas para a matéria tinha que haver?!…

Isto é uma contradição antitética da credulidade religiosa!

OMNISCIÊNCIA, OMNIPOTÊNCIA E OMNIPRESENÇA

7- Omnisciência, omnipotência, omnipresença: estes são os poderes lógicos e indeclináveis de deus, enquanto conceito.

Mas a sua aplicação prática vai levar a situações tais, que invalidam tais poderes…

Deus sabe tudo, pode tudo e está em toda a parte, desde há biliões de séculos, portanto, no passado, no presente e… no futuro.

Ora, tudo aconteceu, acontece e acontecerá no mundo: desastres naturais, acidentes de todo o tipo, assassinatos de “culpados” e inocentes, atos cruéis e virtuosos, vidas boas e más, sofrimento e ventura, etc.

Pelo que, o quesito emerge com todo o vigor:

– Que fez deus para evitar o mal e promover o bem???!!!

Nada!!! As coisas vão, simplesmente, acontecendo…

8- Dizem os crédulos que deus criou, mas deu liberdade às pessoas, para fazerem o que entendessem, mal ou bem…

Mas este argumento é intrinsecamente falso:

O que distingue um ato criativo divino, e consequente e suposta atribuição de “liberdade” ao objeto criado, duma criação humana, é que esta não domina absolutamente a matéria, e, por isso, as criações humanas têm falibilidade.

Um produtor de computadores e outro de automóveis até os podem criar a funcionar bem, mas não podem garantir uma perpétua funcionalidade, sem problemas.

Os objetos criados pelo ser humano têm, de vez em quando, avarias, falhas, degradações, e a manutenção permanente pode obviar a uma parte desses problemas, mas não sempre, nem todos…

9- Agora, o que é que um colosso absoluto tem a ver com seres humanos???!!!

Como é que tal entidade absoluta poderia criar seres humanos, sem saber o que eles iriam fazer a seguir???!!! Então, deus não é omnisciente???!!! E não é omnipotente???!!!

Quando uma pessoa dá liberdade a outra pessoa, aquela não saberá necessariamente o que esta vai fazer. É o que acontece com os pais relativamente aos filhos: aqueles não sabem o que estes irão exatamente fazer, com a obtenção de liberdade.

Uns filhos poderão “triunfar” na vida; outros enveredarem pela marginalidade; uns seguirão caminhos imprevistos; outros previstos, etc.

Estou certo que, se dependesse dos pais, conseguir o melhor para os filhos, com a liberdade que estes alcançaram, viveríamos num mundo virtuoso e venturoso…

Mas o ser humano não é assim…

Agora, deus, que tudo sabe e tudo pode e em todos os lugares está presente, como é que pode “dar liberdade” a criaturas programadas e determinadas apenas e só para aquilo que deus quis???!!!

Por isso é que os crédulos até têm um bordão, “Se deus quiser”, que contraria, exatamente, a suposta “liberdade” que os humanos teriam recebido de deus…

Dizer que deus criou os humanos e lhes deu liberdade, além de ridículo e absurdo, é o mesmo que dizer que deus não sabe o que cada um vai fazer com essa “liberdade”, tal-qualmente, um pai ou uma mãe ou um produtor de transformadores elétricos ou de galinhas também não sabem exatamente se as suas produções vão funcionar corretamente e sempre sem problemas…

Se um indivíduo se tornou criminoso, outro cirurgião, outro ateu e outro crédulo, então, o “nosso” plenipotenciário deus não só sabe isso tudo, previamente, como programou as pessoas para isso, pois que facilimamente as poderia programar para outras coisas…

… Pois que toda a constituição físico-química dos indivíduos e suas interações e suas qualidades genéticas e sociais, que o propendem para o “mal” ou para o “bem”, foram determinadas por deus.

10- Dar liberdade a alguém é torná-lo capaz de fazer o que entender… sem previsibilidade.

Como é que um deus, que sabe sempre o que cada um vai fazer, poderia “dar liberdade”???!!!

11- Se os crédulos, na sua estupidez infinita e fatal, insistem que o “mal” decorre da dádiva divinal de liberdade aos humanos, e que estes fariam o que entendessem, de bem ou de mal, e que o mal estaria, então, nesse desvio de alguns das virtudes preconizadas por deus, então, por que é que acontecem males naturais, como sismos, furacões, tsunamis, tempestades, secas, inundações, causadores de milhares de mortos?!…

… Será que são consequências de deus ter dado “liberdade” à geomorfologia e aos outros elementos inanimados terrestres???!!!…

… E as crianças que morrem, alguns pouco depois de nascerem, de doenças graves???!!! Também serão consequência de se “desviarem” dos “retos caminhos divinos”???!!!

As perguntas multiplicar-se-iam, mas a resposta é só uma: o deus das religiões, tal como no-las apresentam, não criou nada…

…Os crédulos é que acham que há deus!…

CRIADOR, GOVERNADOR E JUSTICEIRO

12- Deus criador???!!! Mas para que é que um colosso absoluto daqueles criaria???!!!

Alguém consegue imaginar, mesmo que vagamente, um motivo para tal deus criar???!!!

Imaginemos o conceito de deus: é imutável, porque não precisa de tomar decisões, nem de ir para aqui nem para acolá, também não tem qualquer vislumbre de tristeza ou alegria, nem vontade de se satisfazer ou o quer que seja, que nos caracteriza a nós, humanos.

Deus criaria, para quê???!!! Para brincar aos computadores realistas, num jogo chamável de Human Games???!!! Para ver o que acontece???!!! Para se entreter???!!! Para brincar, simplesmente???!!!

A ideia dum deus criador ainda é mais absurda do que a sua mera imaginação!

Além de que um deus criador, de coisas, pessoas, animais, massa, energia, invalida, concomitantemente, a ideia dum ser imutável, pois que decidiu criar, transmutando-se duas vezes: ter a ideia (???!!!…) e praticá-la…

… Pelo que não seria eternamente ativo e necessário, manifestando-se, apenas, a partir dum momento.

Então, que teria feito antes das criações???!!!

13- Deus governador???!!! Isto é, um deus que intervém, respondendo favoravelmente a preces (é para isso que servem as orações, não é, crédulos?!…), praticando milagres, portanto, corrigindo falhas…

… Mas tudo isto contraria a perfeição do criador, pois que um criador, como deus, nunca poderia intervir posteriormente para alterar o curso das coisas, sob pena de invalidar a perfeição da obra que fez…

… Já para não questionar por que é que deus só intervém umas vezes, nesta ou naquela pessoa, neste ou naquele evento, e pretere as(os) demais…

14- Deus justiceiro???!!! Sim, sim! O deus judio-cristão, mais o colega islâmico, tem duas sentenças, no Dia do Juízo Final: a sentença paradisíaca e a pena infernal, ambas perpétuas…

Na primeira, os religionários da igreja vencedora (qual será?) seguem, em excursão recreativo-cultural, a caminho do jardim da celeste corte, para não fazerem mais nada durante a eternidade: nem trabalhar, nem andar, nem comer, nem fornicar, nem beber, nada, porque nada precisam de fazer…

Os malvados, como ateus, indiferentes, religionários doutras casas e demais cambada seguirão, em sofrimento atroz, para o inferno, onde serão assados “ad eternum”, mas sem morrerem, que é para o suplício ser permanente e satisfazer, assim, deus… que os criou com esse defeito…

Engraçado, não é?!

Eu não terei razão, quando digo que a religião é a coisa mais estúpida do mundo e… arredores?!