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  • 24 de Fevereiro, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

Considerações sobre o ateísmo (2)

O ateísmo já existia com Demócrito e Epicuro, nos séculos V e IV A.C., e, ao longo da história, a crença e a descrença caminharam a par e em conflito. Embora a estruturação do pensamento ateu seja uma marca do século XIX, já antes se verificaram posições, claramente ateias e, até, de pendor marcadamente radical. O pensamento ateu que teve no século das Luzes um grande progresso, deve muito ao racionalismo hegeliano que fez a transição com base na filosofia.

A história comparada e os avanços científicos, no início do século XVIII, foram demolidores para a fé. A sua origem puramente humana foi demonstrada, apesar dos esforços dos padres para impedirem a ciência, de natureza humana, de cometer o sacrilégio de investigar a palavra de Deus, em estado puro, contida nas Escrituras. Os milagres eram os principais argumentos eclesiásticos quando a física cada vez mais os colocava em xeque. E nunca mais deixou de demolir a fé e a transcendência.

É oportuno mencionar a Inglaterra de 1700 como facilitadora do ateísmo. As lutas contra o absolutismo monárquico, a defesa das liberdades fundamentais, a vitória das liberdades individuais com o Habeas Corpus e a Declaração de Direitos, puseram em causa o cristianismo, em particular, e a religião, em geral.

Os combates entre as várias religiões, e as lutas no interior de cada uma delas, fornecem sempre os mais preciosos argumentos contra a fé e os exemplos mais pedagógicos para demonstrar que não passam de instrumentos para a conquista do poder.

Um século antes de Nietzsche e várias décadas antes do marquês de Sade foi um padre ateu, vigário de aldeia, que viveu no norte da França entre os anos de 1664 e 1729 que, no manuscrito intitulado “Memória dos pensamentos e dos sentimentos de Jean Meslier”, concluído em 1720, e nas “Cartas aos curas”, preconizou uma sociedade ideal fundamentada no ateísmo.