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Dia: 6 de Fevereiro, 2009

6 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Cala-te, cardeal!

Na sequência de um acidente de automóvel, a italiana Eluana Engalo encontra-se há 17 anos descerebrada, ligada à máquina e alimentada por sondas. Está, desde então, em estado vegetativo.

Em boa verdade esta mulher morreu aos 21 anos nesse trágico acidente. Não admira que o pai tenha pedido aos tribunais autorização para lhe ser desligada a máquina que artificialmente mantém o corpo inerte a respirar.

O tribunal compreendeu o drama inútil do pai, obrigado a velar um cadáver que respira, durante 17 anos, e autorizou que desligassem a máquina. O mínimo que se esperaria de pessoas civilizadas era o silêncio e o respeito pelo drama de quem pediu para lhe deixarem enterrar a filha.

Uma sociedade liberta de sectarismos ideológicos deve decidir quem e como libertar alguém da condenação à vida e deve, sobretudo, respeitar a vontade do próprio ou, neste caso, de quem ama e tem o direito de decidir por quem não o pode fazer.

Do Vaticano veio um grito de intolerância através do cardeal Losano Barragan: «Parem essa mão assassina» – anatematizando a decisão de desligar a máquina. Quem é pai não pode deixar de gritar:

– Cala-te, cardeal!

6 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Tolerância e insulto

A tolerância não é o forte das Igrejas nem uma tradição religiosa. Pelo contrário, são os interditos que moldam o espírito dos pastores e o ódio é o sentimento que habita as sotainas, a expressão do deus de há 6013 anos que alimenta os parasitas da fé.

A frequência com que os crentes se dizem insultados leva-nos a crer que é a vocação censória que os corrói. Os católicos sentem saudade dos autos de fé e do poder temporal dos papas. O Islão não desiste de impor ao mundo a repugnância pelo toucinho e o desprezo pelas mulheres nem que, para isso, tenha de recorrer ao terrorismo, enquanto os judeus das trancinhas agradecem a deus por não os ter feito mulheres.

Onde as religiões dominam o aparelho de Estado não há liberdade para descrer. Os beatos que se dizem insultados sempre que os ateus abrem a boca não imaginam que igual sentimento deveriam sentir os ateus quando ouvem um bispo, rabino ou mullah.

O clero sente-se insultado com as descobertas científicas e indigna-se com a liberdade. Não aceita que cada um escolha a mentira de que gosta ou a verdade que prefere.

O autocarro ateísta é um espinho cravado no coração dos que se conformam com a ameaça do Inferno e não aprovam mensagens que libertam. Não percebo que a dúvida ofenda quem quer impor as suas certezas.

Um homem, qualquer homem, vale mais do que qualquer deus ou do que todos os deuses juntos.

Eu seria incapaz de insultar alguém com a ameaça de lhe desabençoar a água benta ou de lhe misturar água no vinho das galhetas mas não faltam os que me ofendem com a ameaça de rezarem por mim.