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Dia: 11 de Março, 2008

11 de Março, 2008 Carlos Esperança

Há quatro anos, em Madrid

Há quatro anos, neste dia, o terror bateu às portas de Madrid. A estação ferroviária de Atocha ficou manchada pelo sangue de 192 mortos e centenas de feridos, na maioria trabalhadores, que se dirigiam para o trabalho.

A demência feroz de fanáticos religiosos esteve na origem da tragédia, na violência dos efeitos e no medo que persiste. Os pregadores, que nas madraças e mesquitas incitam ao rancor e à piedade, raramente são julgados, ficam a orientar as rezas e a alimentar o ódio aos infiéis, crentes indefectíveis de que há um só Deus verdadeiro a quem todos devem prestar vassalagem.

A Europa conhece a violência das guerras religiosas e, talvez por isso, foi-se habituando à tolerância como factor de sobrevivência. Devem-se à secularização e ao laicismo a paz e o bem-estar dos últimos sessenta anos, com admirável respeito por todos os credos e culturas.

Os Estados de direito, democráticos, converteram-se em paradigma da Europa instruída e civilizada que sabe conviver com a diferença e respeitar os valores alheios, mas não se podem respeitar os valores que se sobrepõem aos Direitos do Homem, culturas que discriminam a mulher, concepções tribais que combatem a civilização.

Quatro anos volvidos sobre a tragédia de Atocha e muitos milhares de mortos depois, vítimas do fanatismo religioso, é altura de afirmar que ninguém é obrigado a respeitar as crenças injustificadas dos outros, a pactuar com a intolerância e a conviver com o medo do terrorismo.

É preciso encontrar, julgar e prender quem tem como profissão o incitamento ao ódio e à violência. O lugar desses pregadores não é o Paraíso que prometem, é a enxovia.

Em nome das vítimas de Atocha e de todos os que, ao longo dos séculos, sofreram a morte e a tortura por motivos religiosos, impõe-se como exigência civilizacional o aprofundamento da separação entre o Estado e a Igreja. Seja qual for a Igreja, qualquer que seja o Estado.

11 de Março, 2008 Carlos Esperança

Humildade cristã

Os bispos espanhóis felicitaram o primeiro-ministro José Luis Zapatero pela sua vitória eleitoral.

Satisfeita com os resultados , a Conferência Episcopal espanhola enviou uma carta ao líder socialista a oferecer a sua colaboração.

11 de Março, 2008 Carlos Esperança

Derrota de Deus em Espanha

O cardeal de Madrid, Rouco Varela, amigo de B16 e do defunto JP2, eleito presidente da Conferência Episcopal de Espanha (CEP) com a bênção do Papa, era o braço armado da Senhora de Guadalupe contra o PSOE.

Desceu às ruas de Madrid, acompanhado pelo bando de sotainas da sua diocese, a rugir contra as leis que autorizaram o carácter facultativo do catecismo nas escolas públicas, que facilitaram os divórcios, aprovaram as uniões de homossexuais e permitiram que estes adoptassem filhos.

O cardeal pediu aos crentes que rezassem muito para que Deus os ajudasse a vencer um demónio civilizado e urbano, social-democrata e ateu, presidente do Governo espanhol e cumpridor das promessas feitas ao eleitorado, promessas que fazem ranger os dentes e espumar de raiva o arcebispo de Madrid.

Ora, Deus provou que não existe. Perderam tempo e as orações os ociosos que rezaram e não puderam evitar que o cardeal Rouco Varela e o Papa B16 fossem humilhados nas urnas.

O cardeal deixou achincalhar a mitra e enferrujar o báculo. No futuro, só alguma beata mais inveterada se aproximará do anelão para lho oscular. Os próprios padres, vendo a irrelevância do seu bispo, começam a perder a fé em Deus e o medo do Inferno.

E um padre sem medo e sem fé é um homem perdido, capaz de violar os sete pecados mortais, de comprar preservativos e encomendar a pílula do dia seguinte para prevenir alguma desgraça de homem feliz que se libertou de Deus.

Até há pouco, o cardeal do Opus Dei gania homilias ferozes e ameaçava com o Inferno. Agora é um primata envergonhado com a inutilidade do seu Deus e das suas homílias. Mas ainda vai rosnar apesar da vergonha e da derrota.