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Dia: 16 de Julho, 2005

16 de Julho, 2005 Carlos Esperança

Terror religioso

Sou particularmente sensível às desigualdades sociais e à potencial violência que geram; à injustiça de uma sociedade egoísta e insensível ao sofrimento alheio; à discriminação que a riqueza, o consumo e o ostentação geram entre os que têm acesso imoderado e os que não podem sonhar com a mais ténue partilha.

Conheço do liberalismo económico as consequência deletérias na ruptura do tecido social e na marginalizarão de largas camadas populacionais, cuja miséria se torna mais obscena na comparação com o luxo que cresce e se ostenta a seu lado.

Não ignoro os ressentimentos que o colonialismo criou, as injustiças e os crimes cometidos nos países colonizados, o saque feito pelas nações poderosas do Norte aos países atrasados do hemisfério Sul.

Tudo isto é verdade e mal vai o mundo se a justiça distributiva se não ampliar, se o progresso não puder ser partilhado por maior número de pessoas, se a liberdade não se estender aos países onde os cleptocratas se apropriaram do aparelho do Estado e imensas populações vivem na mais cruel das misérias.

Mas nada disto justifica a barbárie que o fanatismo religioso espalha pelo mundo, nem serve de alibi a universitários, pilotos de avião e outros privilegiados que escolheram a profissão de suicidas. Não se pode conceder a liberdade a clérigos que açulam os crentes contra a civilização. Urge impedir o sangue e o ódio cultivados durante anos nos antros de mesquitas, contra a liberdade, o progresso e a cultura.

Há quem pense que todo o conhecimento que não cabe nos livros execráveis, que passam a vida a decorar, são inúteis; que qualquer manifestação de liberdade que colida com a vontade divina é um pecado grave; que a liberdade é uma provocação a um ditador cruel e sanguinário a cuja vontade interpretada pelo clero se submetem até à loucura e à morte.

O direito de culto não pode ser posto em causa mas o direito à vida e a civilização têm de merecer uma vigilância que não pare à porta das mesquitas ou na sacristia das igrejas. Os criminosos islâmicos que se imolaram no Metro de Londres eram ingleses imbecilizados por mullahs, veículos de bombas feitas provavelmente por um professor universitário que acredita na grandeza de Alá e na bondade de Maomé.

A esta corja de fanáticos, que medra no esterco da fé, é preciso dizer basta. Em nome da civilização. Por amor à liberdade. Pela igualdade dos sexos. Em defesa da vida. Pela diversidade de culturas. No estrito respeito pela Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Abaixo a fé. Viva a vida.

16 de Julho, 2005 fburnay

O que a História devia ensinar

É de tempos de crise que os tiranos se servem para impôr as suas doutrinas,as soluções que os que os seguem vêem como as únicas disponíveis para pôr termo ao caos que assola a sociedade.

Em 1994 a Rússia atacou um país separatista. A Chechénia viu assim começar uma guerra que ainda não terminou.

Nos três anos que se seguiram ao cessar fogo de 1996, eis que do cadáver da decadência civilizacional se vem servir o habitual abutre: o fanatismo religioso. Apesar de contrárias à identidade chechena, começaram a alastrar a sharia, as flagelações públicas e a jihad. Da Arábia Saudita importou-se o wahhabismo para as mentes dos jovens chechenos. O separatismo sempre foi visto como uma oportunidade para os proselitistas do terrorismo, que encontraram em Shamil Basaiev um móbil para crimes como o da Ossétia do Norte.

As religiões sabem como e quando devem servir-se da miséria humana. Os fiéis, habituados a vê-las como sinónimo de paz, é que por vezes não se apercebem.

16 de Julho, 2005 Ricardo Alves

Pode a ICAR aceitar a evolução?

O arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, escreveu um artigo («Finding Design in Nature»; New York Times, 7 de Julho) negando a teoria da evolução. Nesse artigo, Schönborn afirma: «A evolução no sentido de ascendência comum pode ser verdade, mas a evolução no sentido neo-Darwiniano – um processo não guiado e não planeado de variação aleatória e selecção natural – não o é». Schönborn afirma ainda que «Qualquer sistema de pensamento que nega ou tenta ignorar a evidência esmagadora a favor do desígnio em biologia é ideologia e não ciência» e conclui que «Teorias científicas que tentam ignorar a aparência de desígnio como um resultado do “acaso e da necessidade” não são científicas de todo». O artigo é totalmente baseado em textos catequéticos, e aplica-se a demonstrar que a «evidência» de um desígnio (inteligente) na natureza é um ensinamento dogmático da ICAR.

Schönborn já confessou que o seu artigo foi despoletado por uma conversa, em Abril, com o então Cardeal Joseph Ratzinger, que o terá encorajado a pressionar no sentido de obter da ICAR um pronunciamento mais claro sobre a teoria da evolução. Na frente oposta, estes desenvolvimentos preocupam alguns cientistas católicos, que decidiram escrever uma carta a Joseph Ratzinger pedindo-lhe que clarifique se a posição da ICAR se alterou.

Deve notar-se que Schönborn está a tentar obter um recuo relativamente às declarações de Karol Wojtyla em 1988 (quando este pedia o «diálogo» entre a ciência e a religião) e 1996, em que o Papa anterior parecia disposto a aceitar que a teoria da evolução era «mais do que uma hipótese» embora «incompatível com a verdade sobre o homem» se afirmasse que «a mente evoluíra a partir da matéria viva». Karol parecia disposto a aceitar que a teoria da evolução seria válida para todos os animais à excepção do homem; Schönborn pretende colocar toda a teoria da evolução em causa.

As últimas notícias indicam portanto um recuo dos mais altos responsáveis da ICAR no estatuto que conferem à teoria da evolução. No actual papado, a ICAR parece prestes a mergulhar, agora sem cautelas, nas trevas do obscurantismo e do dogmatismo anti-científico.