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Dia: 19 de Abril, 2005

19 de Abril, 2005 jvasco

Mas o que é que nós temos com isso?

Várias vezes oiço católicos queixarem-se da atitude dos ateus a propósito de toda a questão relacionada com a escolha do novo Papa.

«Epá, porque é que se metem onde não são chamados? O Papa é o líder de uma Igreja a que não querem pertencer, então porque é que têm de se pôr a dizer se acham bem, ou acham mal, se preferem este ou aquele?»

Devo dizer que este tipo de discurso não me sensibiliza muito. Acho-o mesmo um bocado pateta.

Até parece que não faz sentido um português pronunciar-se sobre as eleições norte-americanas. Dizer que considera que Bush governa bem, ou afirmar que Bush é um mau líder.
Até parece que não faz sentido dar qualquer opinião sobre um chefe de um estado que não o nosso (é isso que o Vaticano é). Fidel, Berlusconi, Tony Blair. Será que quando dizemos o que pensamos sobre eles (bem ou mal) esperamos que alguém nos venha dizer que não é nada connosco porque somos portugueses?

O Papa tem uma influência enorme sobre a nossa sociedade. As suas posições e escolhas influenciam fortemente todos os católicos, mas também os restantes cristãos, ateus, os agnósticos, os islâmicos, os indus, etc… Que sentido é que faz condenar um não-católico por dar a sua opinião sobre o Papa?

Claro que não faz nenhum. E tanto é assim que, se der uma opinião positiva sobre o Papa, nunca vou ouvir essa ladaínha de que não tenho nada com isso. Se der uma opinião positiva, qualquer católico a ouvirá e ponderará.

Eu preocupo-me com o mundo que me rodeia. Por essa razão, mesmo que não dê a importância que daria se fosse católico, considero a escolha do novo Papa um acontecimento incontornável da actualidade.
E faz tanto sentido que me pronuncie sobre ela (apreciando positiva ou negativamente) como sobre outra qualquer que tenha a mesma importância.

PS- Já agora esclareço: a escolha dos cardeais parece-me lamentável.
Comentando o artigo da Palmira (em que ela previu acertadamente o nome escolhido) pessoalmente disse-lhe que a Igreja Católica não podia ser assim tão retrógada.
Enganei-me…

19 de Abril, 2005 pfontela

Clericalismo – vivo e de boa saúde

No seguimento do artigo do João Vasco chega-nos agora a novidade que a ICAR está a organizar um verdadeiro golpe de Estado em Timor Leste. Foram feitos apelos (por membros influentes da hierarquia católica) a todos os católicos para que viessem para as ruas e expulsassem o primeiro ministro, Mari Alkatiri, que cometeu o crime abominável de querer manter o estado laico e de tornar as aulas de catolicismo não obrigatórias e irrelevantes em termos de nota. Continuam até agora os apelos populistas na rádio católica de Timor a incitar ao derrube do governo. Sendo que de momento a policia impede o acesso das multidões fervorosas ao centro de Dili.

É nestas situações que se vê o quanto a ICAR mudou. Nada. Sedenta de poder e de conformidade a todo o custo continua na sua cruzada de domínio e com Bento XVI como líder episódios destes só se vão tornar mais comuns e mais violentos. Auguro dias difíceis e de muita luta aos defensores do secularismo.

19 de Abril, 2005 Ricardo Alves

Fica tudo claro: clericalismo ou liberdade

Detesto as meias-tintas e as ambiguidades. A haver luta, prefiro-a em campo aberto e de olhos nos olhos. Saúdo portanto a eleição de Joseph Ratzinger, que hoje se tornou o tirano perpétuo e absoluto dos católicos. Ou muito me engano, ou recordaremos o nome de Bento 16º com a clareza daqueles momentos em que todos sabemos de que lado estamos.
Ao contrário do que nos diziam alguns vaticanólogos, quem entra Papa não sai cardeal, sai mesmo Papa (e depressa), pelo menos se esse alguém é o membro numerário desejado para Papa pelo Opus Dei. Imagino que a Comunhão e Libertação terá lançado também o seu módico de votos cardinalícios a favor do principal candidato ultraconservador, o que deixará literalmente a apanhar papéis as facções mais moderadas, como a Comunidade de Santo Egídio ou mesmo os Focolari e os Jesuítas.

A ascensão de Ratzinger ao comando da maior máquina política do mundo significa que acabou, definitivamente, a «abertura» do Concílio Vaticano 2º. As fantasias «ecuménicas», por exemplo, terminarão. Ou qualquer sombra de «diálogo» em matérias éticas. Quem leu os escritos teóricos do homem que chefiou a ex-Inquisição durante 23 anos sabe do que falo.

Não será também um personagem idoso e pouco fotogénico como Joseph a transfigurar-se na vedeta mediática que Karol conseguiu ser. E se Karol Wojtyla podia alegar alguma «resistência» (através de orações?) à ditadura comunista polaca, Joseph Ratzinger não só não se opôs ao regime nazi como até fez o serviço militar no exército alemão, em plena guerra, quando poderia alegar os seus estudos no seminário para evitar o recrutamento. Só desertou duas semanas antes do fim da guerra, já com o exército alemão em desagregação. Deveria ter escolhido, em coerência com o seu militarismo e com os seus tempos na Juventude Hitleriana, o nome de Pio 13º. Mas deve ser supersticioso.

Joseph Ratzinger é suficientemente falho de sentido de humor para falar da música rock como um «contraculto» e para proibir as missas com danças e guitarradas. Tão radical que até fala da homossexualidade como uma «desordem», e tão clerical que considera «pecado grave» votar pelo casamento civil de homossexuais. Se já escrevia o texto de Karol, agora vai lê-lo ele próprio. Sem mediador. Joseph Ratzinger é la cosa vera.

Um dos efeitos indirectos deste papado será, provavelmente, o recrudescimento das igrejas pentecostais na América Latina e dificuldades acrescidas para um catolicismo popular em África ou na Ásia. No entanto, algumas democracias em países do Sul do planeta poderão ser presas fáceis de um clericalismo que, através do Opus Dei, terá pontos de apoio tecnocráticos e financeiros que não se devem subestimar. O catolicismo do terceiro mundo será cada vez menos a fé das massas e cada vez mais o elitismo da massa.

Porém, a batalha decisiva será na Europa, que Ratzinger encara, com um esgar de horror, como «descristianizada». Os católicos que não querem ou não podem sujeitar-se ao integrismo mais estrito da doutrina católica têm pela frente anos de chumbo. Se querem liberdade ou autonomia ética, terão que se afastar da ortodoxia. Recordo a estes católicos que a liberdade de consciência inclui a liberdade de mudar de crença, e que existe liberdade de associação, ou seja, podem perfeitamente fazer uma ICAR-Reformada, com o apoio de teólogos «progressistas» como Hans Küng e Leonardo Boff, os mesmos que Ratzinger anda a perseguir há décadas. Pensem nisso.

A polarização será agora mais clara do que nunca: ou a obediência à maior multinacional da fé, ou a liberdade individual.

19 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Tibi gratias, Bento XVI

O prefeito da Sagrada Congregação da Fé (ex-Santo-Ofício) Joseph Ratzinger, foi «eleito» Papa pelos 115 cardeais do conclave reunido para o efeito. O Espírito Santo, «a única pomba feia e estúpida do mundo» – segundo Fernando Pessoa -, e a terceira pessoa da Santíssima Trindade, segundo a ICAR, esteve ausente da votação.

Há quem pense que um caçador furtivo abateu a dita pomba, confundindo-a com um pato bravo, quando se dirigia para a Capela Sistina. Só assim se compreende que o conclave tenha optado pelo mais reaccionário e intolerante dos cardeais, que definiu a teologia do Vaticano durante o longo pontificado de JP2.

O jovem cardeal, de 78 anos, escolheu o nome de Bento XVI. Um amigo meu acaba de me anunciar que o ex-cardeal Nazinger se tornou o actual Sebento 16 e que as igrejas protestantes estão a conceder asilo aos católicos foragidos do fundamentalismo romano.

O Diário Ateísta não pode deixar de se regozijar com o regresso acelerado ao Concílio de Trento e com a radicalização do papado de JP2 por intermédio do seu avatar Bento XVI. Quanto pior, melhor. Bento XVI é a face mais retrógrada da ICAR, um impiedoso inquisidor.

A Contra-Reforma retoma vigor. O tribunal do Santo Ofício voltará em breve. Leonardo Boff acaba de declarar que Ratzinger «nos últimos 23 anos silenciou e puniu 140 teólogos. É a direita da direita da Igreja». Se o cardeal Ratzinger, o rottweiler de Deus, perseguiu, ostracizou e excomungou quem se afastou da ortodoxia da ICAR, do que será capaz o chacal da fé eleito papa?

Tibi gratias, Bento XVI. Habemus Papam.

19 de Abril, 2005 Ricardo Alves

Vitória!

Deu Ratzinger!

19 de Abril, 2005 Palmira Silva

Bento XVI: O rottweiler de Deus…

Para mal dos meus tempos livres parece que a leitura que fiz da conjuntura política e das muitas «coincidências» que rodearam a crónica da morte anunciada de João Paulo II e os dias que antecederam o Conclave estava correcta: Joseph Ratzinger foi eleito Papa, certamente por obra do Espírito Santo!

19 de Abril, 2005 pfontela

Está no seguro

A onda de escândalos de abusos sexuais a menores envolvendo padres católicos que abalou a América está a chegar à Europa. No total às mais de 10000 vítimas americanas foram pagos cerca de 840 milhões de dólares e as indemnizações Europeias podem muito bem chegar a esses números, sendo que por exemplo na Grã Bretanha e na Irlanda já existem dezenas de casos a correr contra as respectivas dioceses. Apesar da ICAR ter seguro contra casos de abuso (sim é verdade, os senhores da ICAR fizeram uma apólice de seguro a cobrir essa eventualidade na década de 80) é algo duvidoso que ele cubra todos os casos já abertos. No passado muitos processos foram resolvidos através de acordos extra judiciais em que a condição para receber o dinheiro era a vitima ficar calada mas parece que não vai ser o caso com os processos mais recentes, a ICAR vai pagar mas vai receber toda a atenção que merece.