Loading

Dia: 16 de Abril, 2005

16 de Abril, 2005 Carlos Esperança

A religião e a liberdade

Os ateus não reivindicam superioridade moral. Não é a crença que faz alguém melhor nem o ateísmo que torna qualquer um pior. A influência do meio ambiente, a educação recebida, a instrução que se adquire e a matriz genética fazem os homens. Os homens são eles próprios e a sua circunstância, como disse Ortega y Gasset.

Há crentes que visitam o Diário Ateísta e que demonstram tolerância, espírito de diálogo, sentido crítico e respeito pelos valores humanos. Mas isso não faz respeitável a sua religião nem universais os seus valores e, muito menos, acrescenta provas da existência de Deus. Apenas faz deles cidadãos respeitáveis ou mesmo exemplares.

O Diário Ateísta esforça-se por preservar alguns valores que as religiões combatem – a liberdade individual, a laicidade do Estado e o tratamento igual de todos os cidadãos, independentemente do sexo, da religião ou da raça. É surpreendente que os crentes não se interroguem sobre a geografia das religiões e não reflictam sobre a distribuição dos credos pelo planeta e à custa de quanto sangue.

Outro aspecto inquietante é o facto de todas as religiões defenderem um tratamento igual quando são minoritárias e afirmarem que «não de deve tratar de forma igual o que é desigual» quando são maioritárias – argumento usado até à náusea em Portugal, pela ICAR, na negociação da Concordata.

A religião só não é mais repressiva porque não tem força suficiente. A cada conquista exige sempre mais. Não dispensa os baptismos em crianças de tenra idade, não desiste de tornar obrigatório o ensino religioso na escola oficial, interfere através das Associações que domina nos conteúdos e programas escolares e no comportamento social dos que não são crentes, condiciona o aparelho de Estado e interfere nas leis.

A possibilidade do divórcio entre casais que contraíram matrimónio católico só foi possível depois do saudoso ministro da Justiça Salgado Zenha ter ameaçado com a denúncia da Concordata. As Escolas do Magistério Primário, até ao 25 de Abril, tinham uma cadeira de Religião Católica, igual a qualquer outra, que exigia nota positiva para a obtenção do diploma de professor. Ninguém era dispensado da missa de consagração do curso, da bênção da pasta e da fotografia com o bispo da diocese. Ninguém podia ser professor do ensino primário sem professar a religião católica, embora a lei fosse omissa a esse respeito.

A admissão nas Escolas de Enfermagem exigia um certificado de baptismo católico e o atestado de bom comportamento passado pelo padre da paróquia de nascimento. Eram documentos necessários. E, no fim do curso, lá vinha a bênção, a missa da consagração e outras pias violências a que tinha de sujeitar-se quem precisava de ganhar a vida.

Para que a violência clerical se contenha é preciso uma vigilância constante. O combate às religiões e o exercício da blasfémia são necessários à preservação da liberdade de pensamento que as igrejas se esforçam por pôr permanentemente em causa.

16 de Abril, 2005 pfontela

Bastiões da fé II: o caso grego

Outro reduto da fé radical e abusiva é sem dúvida a Grécia onde a Igreja Ortodoxa Grega se insinuou de tal modo no Estado e nas vidas dos seus cidadãos que durante muito tempo foi impossível promulgar qualquer legislação que ameaçasse a ortodoxia.

Mas os tempos mudaram. Recentemente o público grego tem sido sistematicamente confrontado com escândalos dentro da Igreja. Desde traficantes de droga que se fazem passar por monges para fugir às autoridades (com a aparente cumplicidade da hierarquia da Igreja Ortodoxa Grega – IOG) a altos representantes da mesma Igreja que são acusados de corrupção (subornos a juizes e outros funcionários).

Tudo isto mais a inevitável mudança de mentalidade causou um verdadeiro colapso no apoio à Igreja e à sua posição privilegiada dentro da sociedade grega (cerca de 65% dos gregos são a favor da separação da Igreja e do estado). Pela primeira vez em muitos anos há uma oposição clara ao posicionamento do Estado face à Igreja. Até o parlamento grego partilha este sentimento, no mês passado na tomada de posse do novo presidente muitos deputados saíram da sala ou recusaram-se a levantar-se à entrada do arcebispo Christodoulos (representante máximo da IOG).

Ventos de mudança chegaram à Grécia, parecendo provável que os dias de religião forçada nas escolas gregas (ensinada como é óbvio pela IOG) e salários clericais pagos pelo governo estão a chegar ao fim.

16 de Abril, 2005 Mariana de Oliveira

Pecado corredor

Há uma semana, no Paquistão, homens munidos com bastões divertiram-se a queimar carros e atirar bombas incendiárias numa mini-maratona em Gujranwala, a sul de Islamabad. A corrida, uma das primeira a permitir a participação de mulheres, acabou com a polícia a disparar gás lacrimogénio e a deter mais de cinquenta pessoas.

Este incidente fez com que, no passado dia 11, um grupo de mulheres se manifestasse à frente do parlamento nacional paquistanês contra a «talibanização» do país.

Ao contrário do que muitos comentaristas do Diário Ateísta possam pensar, os autores desta publicação não se limitam a estar atentos (para eles, atacar) às relações da Igreja Católica com a sociedade portuguesa e europeia. Pelo contrário, nós, como ateus e democratas, queremos que todo o mundo se liberte da perniciosa influência das correntes religiosas que defendem a submissão inconstestável a dogmas medievos incompatíveis com a Liberdade e com a Igualdade.