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Dia: 8 de Julho, 2004

8 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Uma diocese sem a graça de Deus

Os abusos sexuais de padres da arquidiocese de Portland, nos EUA, levaram-na à falência. O cio de um ex-reverendo tê-lo-á levado a molestar 50 rapazes, enquanto outros, menos abusadores, se contentaram com um número menor.

Depois de pagar 53 milhões de euros às suas vítimas, a Igreja corre o risco de pagar mais 160 milhões aos queixosos. O arcebispo John Vlazny já admitiu a bancarrota como única solução.

Como a lei norte-americana exonera de pagamento aos credores as sociedades que decretem falência, esta parece ser a única alternativa para a arquidiocese de Portland, sem arqui-remorsos da conduta dos seus padres.

Esta é a primeira sucursal do Vaticano a ser encerrada com prejuízos de exploração, enquanto a sede vive em grande desafogo financeiro.

A notícia, amplamente divulgada pela comunicação social estrangeira, só a encontrei referida em Portugal no canal de televisão – SIC.

Sabendo-se que Jesus ama as criancinhas e que se sente muito feliz em vê-las na sua casa (os templos) é melhor avisar os pais dos perigos que correm os seus filhos.

E não será má ideia que as portas das igrejas ostentem um letreiro:

«Proibida a permanência de menores de 18 anos».

8 de Julho, 2004 Ricardo Alves

Refutando Tomás de Aquino(2)

O segundo argumento de Tomás de Aquino a favor da existência do «Deus» católico é o da causalidade. É muito semelhante ao primeiro, e desfaz-se da mesma forma. O raciocínio de Aquino é o seguinte:

(1) no «mundo sensível» existe uma «ordem de causas eficientes»;

(2) não pode haver uma cadeia infinita de causas;

(3) à causa primeira «todos chamam Deus».

A premissa, conforme explicado num texto anterior, está errada. Conhecem-se decaímentos radioactivos que não são provocados por causa alguma. Por exemplo, n->p+e, onde a emissão de um bosão W por um quarque é espontânea. O ponto (2) do raciocínio é logicamente inatacável, mas mesmo que o ponto (1) não estivesse errado (por pressupor a necessidade de ordem causal), a conclusão (3) faz apelo a um argumento de maioria sociológica, o que a invalida sem mais.

O terceiro argumento apoia-se nas «cadeias de causalidade» dos argumentos anteriores (que já vimos serem erróneas) e resume-se aos seguintes pontos:

(i) tudo o que existe na natureza é gerado e é destrutível, ou seja, pode «ser» e «não ser»; portanto, nada é eterno;

(ii) o que existe não pode ser gerado do «nada», porque o que existe só pode ganhar existência a partir de algo já existente; portanto, cada coisa necessita de ser criada por algo anterior;

(iii) postula-se uma entidade necessária em si própria.

A falha mais óbvia deste terceiro argumento encontra-se em (ii). Efectivamente, na física moderna observa-se (ou seja, calcula-se e confirma-se experimentalmente) que podem ser criados pares partícula-antipartícula a partir do vácuo, ou seja, do «nada». (A existência do próprio Universo pode não ter causa necessária.) Como é impossível que o vácuo seja a «entidade necessária em si própria» a que Aquino e os seus coevos chamavam «Deus», e que também ditara as tábuas da «Lei» a Moisés, engravidara uma virgem, etc., segue-se que o terceiro argumento só seria válido se se quisesse chamar «Deus» ao vácuo (e mandando às malvas o indeterminismo).

Porém, pode afirmar-se sem margem para erro que o vácuo não tem sexo e não dita textos jurídicos

8 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Hoje há procissão em Coimbra

A Rainha Santa Isabel, cujo estado de conservação inspira cuidados, vai realizar o seu passeio higiénico entre o Convento da Rainha Santa – seu domicílio habitual – e a Igreja de Nossa Senhora da Graça, na Rua da Sofia, onde estacionará durante três dias, regressando ao Convento no próximo Domingo. Será acompanhada no périplo por muitas bandeiras, o clero disponível, numerosos devotos, uma multidão de curiosos e a força pública.

A Santa é muito estimada na cidade e, embora se tenha desligado dos milagres, continua a gozar de grande prestígio, em particular na autarquia, que usou o seu nome para criar um pseudónimo para a Ponte Europa. É por isso que, de dois em dois anos, a levam a passear.

O famoso milagre das rosas é muito difícil de fazer. Não voltou a ser tentado, nem pelo Luís de Matos que é o mais notável ilusionista nacional.

Além da Rainha Santa Isabel, nascida em Aragão, só a sua tia-avó, também Isabel de seu nome, igualmente santa e rainha, havia logrado fazer o milagre com êxito, na Hungria. Era provavelmente um truque de família que se perdeu com a Rainha portuguesa.

A procissão começa às 20H00. A entrada é livre.

8 de Julho, 2004 Mariana de Oliveira

A solenidade do Casamento Civil

A maior parte das pessoas vê a cerimónia de casamento civil como uma coisa simples, banal, sem aquela mística e folclore que normalmente se associa ao casamento canónico. No entanto, aquela primeira forma de celebração do casamento não deixa de ser solene e ter um significado para além de uma mera assinatura do contrato.

Assim, o art. 155 do Código do Registo Civil estabelece os trâmites da celebração do casamento. Em primeiro lugar, o conservador, depois de anunciar que naquele local vai ter a celebração do casamento, lê, da declaração inicial, os elementos relativos à identificação dos nubentes e os referentes ao seu propósito de o contrair.

De seguida, o conservador interpela os presentes para que declarem se conhecem algum impedimento que obste à realização do casamento. Não sendo declarado qualquer impedimento e depois de referir os direitos e os deveres dos cônjuges, previstos na lei, o conservador pergunta a cada um dos nubentes se aceita o outro por consorte. Cada um deles responde, sucessiva e claramente: É de minha livre vontade casar com F……(indicando o nome completo do outro nubente).

Finalmente, prestado o consentimento dos contraentes, o conservador diz em voz alta, de modo a ser ouvido por todos os presentes: Em nome da Lei e da República Portuguesa declaro F….. e F….. (indicando os nomes completos de marido e mulher), unidos pelo casamento.