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Dia: 5 de Julho, 2004

5 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Justiça espanhola ou caridade cristã?

Uma juíza espanhola decidiu libertar os marinheiros suspeitos de terem lançado ao mar, por ordem do comandante, quatro senegaleses ilegais que viajavam a bordo do navio «Wisteria». O capitão, o primeiro oficial e o chefe de máquinas já tinham sido libertados antes.

A juíza alegou incompetência já que o delito teria sido cometido fora das águas territoriais espanholas.

«O caso foi conhecido no mês passado, quando um funcionário do porto de Vilagarcia recebeu das mãos de um marinheiro do “Wisteria” uma nota em que denunciava o abandono de quatro ilegais no mar.

A Polícia concluiu, segundo os testemunhos dos marinheiros, que os quatro teriam sido lançados ao largo da Mauritânia apenas com uma balsa.

Segundo o Comité Espanhol de Ajudas ao Refugiado (CEAR), a decisão da juíza é inaceitável, já que esta organização iniciou os trâmites legais para iniciar a acusação privada por assassínio e pirataria». ? lê-se no Jornal de Notícias.

A meritíssima juíza deve ter-se limitado a respeitar a vontade de Deus. De qualquer modo eram apenas quatro negros pobres e ilegais.

5 de Julho, 2004 jvasco

Uma posição difícil?

Li recentemente um texto de um participante do fórum da Sociedade Terra Redonda. O texto está excelente. Transcrevo um parágrafo, mas creio que deveriam ler a versão integral nesse fórum:

É por isso que o ateísmo não possui muitos adeptos: nós oferecemos o lógico, o plausível, o real, por mais duro que seja. Seguimos nosso caminho sem paliativos psicológicos, sem analgésicos existenciais. Guiamos-nos ausentes da companhia de um amigo imaginário adaptável a qualquer necessidade ou conveniência. Vivemos sem alimentar a vaidade de que a entidade mais poderosa e perfeita de todo o Cosmos, se interessa e intervem nas nossas banalidades […]

Concordo em absoluto e diria mais: encarar a realidade como ela é, sem ilusões nem fantasias para nos enganarmos a nós mesmos, é o primeiro passo para saber torná-la melhor.

Por isso é que acho que há algo de corajoso e louvável no Ateísmo.

5 de Julho, 2004 pfontela

A fé renovada

Ouço todos os dias católicos a falarem à “boca cheia” da força do catolicismo renovado e da força crescente da fé. Se acreditasse em tudo o que dizem pensaria que a ICAR está no meio de algum longo e profundo processo de renovação, mas como céptico que sou não acredito em tudo o que me dizem sem confirmação, especialmente quando a informação que tenho aponta noutro sentido.

Ora uma renovação implica mudança, progresso. Mas eu olho e procuro e não vejo nada de diferente:

– O sexismo continua tão presente como sempre, sendo a sua manifestação mais visível a forma como tentam condicionar o lugar da mulher na sociedade e na família.

– O medievalismo é omnipresente no pensamento do vaticano (ser representante directo de deus e por consequência infalível tem destas coisas…).

– A sede de poder continua lá sendo a sua última manifestação a brilhante jogada de distracção da referência Cristã na Constituição Europeia que resultou na aprovação de dois artigos bem mais importantes mas menos mediáticos.

– O sentimento de imunidade às leis também ainda cá está (como pode ser visto pelos padres pedófilos abrigados pelo Vaticano), está visto os representantes de deus não querem ser julgados por meros mortais.

– A homofobia que permeia cada poro das atitudes da ICAR e que cada vez vai ser mais visível devido ao novo papel do Vaticano nas Nações Unidas (Já por mais que uma vez tentaram bloquearam os direitos das minorias sexuais, sendo que os seus principais apoiantes foram as nações Islâmicas).

– A vontade de por trelas aos cientistas e à ciência, ditando que áreas podem ou não podem ser investigadas.

– A sua oposição sistemática a tudo o que possa remotamente ser chamado de liberal, seja em termos sociais, políticos, pessoais…

Devo dizer que não vejo diferença alguma. Será que se referem ao facto de não haver autos de fé? Será que se referem à “morna” separação da Igreja do estado português? As poucas mudanças que a ICAR sofreu (ou aparenta ter sofrido) foram impostas de fora para dentro e não o contrário, ou seja, a igreja foi forçada a dobrar os joelhos à democracia e à liberdade e não as aceitou de bom grado.

Se isto é o catolicismo renovado devo dizer que é terrivelmente parecido com o antigo.