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Mês: Janeiro 2013

31 de Janeiro, 2013 Ludwig Krippahl

O debate no Diário de Notícias.

O debate sobre a Opus Dei* foi sereno e o moderador, o João Céu e Silva, deixou a todos tempo para exporem as suas posições. O resultado, pareceu-me dali, foi bastante agradável e aproveito para agradecer ao DN o convite e a organização do evento. Apesar de já ter participado em vários encontros deste género, desta vez, talvez pela calma com que todos puderam falar, senti muito mais as restrições que moldam o discurso dos crentes. Num debate não se pode dizer tudo, por limitações de tempo. Aqui no blog posso abordar mais detalhes e fazer afirmações mais polémicas porque sei que posso sempre voltar ao tema as vezes que precisar para esclarecer, argumentar e responder a quaisquer objecções. Num debate, por muito sereno que seja, a necessidade de expor uma posição em poucos minutos exige que se foque o essencial. Mas, à parte disso, não tive necessidade de ofuscar significados nem martelar argumentos.

Por exemplo, um dos pontos mais importantes que defendi foi o da incompatibilidade entre a liberdade de crença e organizações autoritárias como a Igreja Católica e a Opus Dei. Ironicamente, a maior ameaça à liberdade religiosa é a forma como as religiões se organizam: de cima para baixo e dos dogmas para as pessoas. Para respeitar a liberdade de crença as religiões deviam organizar-se ao contrário, como qualquer associação de voluntários, regendo-se por princípios democráticas, substituindo o dogma por discussão aberta, alheando-se da vida privada dos seus membros e abstendo-se de qualquer coação, real ou imaginária. O objectivo principal do ateísmo não é acabar com a fé mas, no fundo, promover a liberdade de crença subordinando as organizações religiosas aos princípios de respeito pelos direitos individuais que fundamentam a nossa sociedade. A Opus Dei ainda tem muito que mudar nesse sentido. Naturalmente, no debate não pude detalhar muito estes pontos nem elaborar a argumentação, mas pude afirmar tudo da forma mais clara que consegui porque é precisamente isto que penso e porque é esta a conclusão natural a que chego partindo do que sei. Os restantes convidados, pareceu-me, não tinham esta sorte.

Um exemplo saliente foi a forma como o Pedro Gil, director do gabinete de imprensa da Opus Dei, explicou a lista de livros proibidos (1) que a organização mantém. Todo o seu discurso foi sobre semântica, insistindo que não era uma proibição mas uma recomendação. À parte de não se perceber a diferença entre proibir e recomendar numa organização adepta de penitências e tão exigente na obediência, fugiu do problema fundamental. O problema principal de “recomendarem” aos membros da Opus Dei que evitem ler ideias contrárias aos valores da organização é a tacanhez e a desonestidade intelectual de isolar as pessoas de opiniões diferentes. Mas isto o Pedro Gil nem podia mencionar.

Até o Anselmo Borges, de longe o mais liberal dos intervenientes católicos, foi forçado a um argumento tortuoso só para dizer que Deus é fundamental para todos, quer acreditem quer não. Afirmou que, quer responda pela positiva quer responda pela negativa, qualquer pessoa tem uma «pergunta constitutiva por Deus» e que é daí que deriva toda a dignidade humana e todos os direitos humanos. Nem ficou claro como se deriva dignidade ou direitos disso nem se alguém deixa de ser digno se não se importar com tal pergunta. Perguntar por Deus não parece ser eticamente relevante sequer. Sentir, desejar, pensar, estar consciente da si e agir por motivação própria são atributos muito mais importantes do que qualquer interrogação teológica. No entanto, sendo católico, o Anselmo Borges não podia senão dar ao seu deus um papel de suma importância, nem que para isso tivesse de torcer e retorcer o seu raciocínio.

Para mim, a “pergunta por Deus” não tem importância nenhuma porque esse deus não faz nada. Mais importante seria perguntar por Zeus ou Osíris, que ao menos se alegava fazerem alguma coisa. Mas se esses já são pouco relevantes, o deus católico é uma mera hipótese teológica inconsequente, tão transcendente e omnicoisas que acaba por não fazer mais que esporádicas intervenções de milagrice dúbia. O que tem importância para mim é a virulência e prevalência destas crenças, bem como outras superstições e fontes de obscurantismo. Como aquele de quem põe livros na lista negra só por contrariarem os seus preconceitos. Mesmo esta pergunta, não por deus mas por que raio há tanta gente a acreditar nisso, não é constitutiva de nada. É circunstancial. Muita gente acredita em disparates. É chato, preocupante, mas podia bem não ser assim.

O grande problema dos raciocínios religiosos é que, tal como as religiões, funcionam ao contrário. Assumem a conclusão e depois têm de martelar premissas e inferências para forçar o resultado que querem. Aos mais fundamentalistas isto faz pouca diferença. Quem acredita que o universo foi criado em seis dias de abracadabra não se incomoda com detalhes destes. Mas, neste debate, fiquei com a sensação que quando pessoas cultas e inteligentes tem de defender proposições obviamente infundadas, ou mesmo contrárias à sensatez, é inevitável que o desconforto transpareça no discurso. Mas talvez seja apenas outra forma de mortificação. Talvez os dogmas lhes sirvam como um cilício espetado na mente em vez de na coxa.

No Diário de Notícias podem ler um resumo e ver a gravação integral do debate: Caminho do Opus Dei deve ser a transparência

* No feminino porque me refiro à Prelatura da Santa Cruz e do Opus Dei. Se me referisse ao opus de algum deus, então o género correcto seria o masculino, mas o que as evidências indicam é que esta obra é inteiramente humana e não divina.

1- DN, ‘Index’ proíbe 79 livros de autores portugueses

Em simultâneo no Que Treta!

30 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Tombuctu

Por

E – Pá

As forças de intervenção no Norte do Mali libertaram ontem Tombuctu das mãos dos fundamentalistas islâmicos. Uma operação com uma imensa carga simbólica. link.

Esta cidade – Património da Humanidade – que alberga imensas preciosidades nasceu da confluência culturas songhai (primitivos conquistadores do actual Mali), tuaregue e árabe. Atingiu o apogeu nos séculos XV e XVI tendo-se convertido numa encruzilhada da ciência e cultura de raiz africana (pré-colonial) dominada pelo islamismo sufista (também africano).

Tombuctu, cuja fundação é praticamente contemporânea com os primórdios da nossa nacionalidade, foi erguida em pleno Sahel por tuaregues e tornou-se num importante centro comercial integrado nas rotas do sal e do ouro entre o vale do Níger e o Magrebe, e simultaneamente um centro de estudos e de reflexão bafejado pela tolerância étnica e, apesar da islamização que ocorreu por volta do século XII, religiosa. Será, por assim dizer, uma ‘Alexandria do deserto’.

Na antiga mesquita de Sankore hoje transformada em ‘Universidade’ existiam inúmeras ‘Faculdades’ que, para além dos estudos corânicos, ministravam o ensino de Humanidades, Gramática, Retórica, Lógica, Astrologia, Astronomia, História, Geografia, etc..

Recentemente foi instalado nessa árida cidade do deserto, com o apoio da África do Sul, o Centro de Documentação (Instituto) Ahmed Baba (que no séc. XVI-XVII foi um dos eméritos escolares de Sankore) onde se encontravam alguns manuscritos alguns relativos à História da Península Ibérica, nomeadamente, textos sobre música andaluza. Existe o fundado receio que este notável centro de documentação tenha sido incendiado e vandalizado (ver foto) pelos fundamentalistas islâmicos na sua precipitada retirada de Tombuctu link; link, o que a confirmar-se constitui um dano incalculável ao património cultural africano e da Humanidade (em lastimável situação de perigo).

30 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Humor negro

TRADUÇÃO :       ELE: Alá ama-nos Rabia! Alá é grande!     ELA : Abdullah meu amor eterno, Alá ama-nos !             O meu marido acabou de passar à nossa frente e não me reconheceu!!!

TRADUÇÃO :
ELE: Alá ama-nos Rabia! Alá é grande!
ELA : Abdullah meu amor eterno, Alá ama-nos !
O meu marido acabou de passar à nossa frente e não me reconheceu!!!

Origem desconhecida

29 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

OPUS DEI

Por

João Pedro Moura

“O Opus Dei deve sair da sombra e tornar-se menos opaco. Este foi o único ponto com o qual concordaram todos os oradores do debate sobre “O Papel do Opus Dei na Igreja e na Sociedade”, ontem realizado na sede do Diário de Notícias e que encerrou a Grande Investigação DN sobre a obra.”

1- Discordo. Eu acho que a Opus Dei deve continuar na “sombra” e tornar-se ainda mais “opaca”.
Enfim, são as posições naturais e originais da coisa, que devem ser respeitadas…

2- Aliás, o que é que os ateus, representados no debate, têm a ver com tal organização???!!! Nada!!!
O que se passa com ou o que é tal organização apenas concerne à mesma ou à ICAR!

3- Os ateus tratam de ateísmo e de religião e não de organizações particulares e autónomas dentro da instituição geral, que é a ICAR, e muito menos dando sugestões para a “melhoria” da “opacidade” ou da “luminosidade” de prestação de serviços dum grupo de religionários…

4- Os ateus combatem e devem combater a ICAR, enquanto organização religiosa, privilegiada pela concordata e por todo um manancial de prebendas e subsídios dimanados do Estado, que, a seu tempo, eu denunciarei, minuciosamente, num Grande Programa de Laicidade.

5- Os ateus devem denunciar a concordata, como instrumento de outorga de privilégio à ICAR, de que faz parte a Opus Dei.
Ao combater o geral, a ICAR, estaremos a combater o particular, a Opus Dei.
Donde, não se percebe por que é que haveríamos de combater o particular para chegar ao geral…

6- A Igreja Católica Apostólica Romana é que é o inimigo principal.
A Opus Dei não tem importância nenhuma, ao contrário do que alguns arautos, incluindo jornalistas em busca de tema, pretendem fazer crer…

7- A Opus Dei é uma organização de “fanáticos tranquilos”, como eu lhes chamo, possuidora de alguns bens materiais, nomeadamente algumas instituições de ensino, universitário e secundário, para só referir estas, onde, teórica e aparentemente, poderão exercer alguma influência, mas nunca a nível de massas, pois que, desfasada das mesmas…

8- Nos tempos que correm e no mundo ocidental e liberal, a mentalidade dominante e consensual não está para fanatismos e apuramentos de “raça religiosa”, pelo que, instituições como a Opus Dei, tendem a decair mais depressa do que decai a ICAR, tal-qualmente como a fanática “extrema-esquerda” comunista foi a primeira a baquear com o desmoronamento do império soviético, mesmo que essa “extrema” estivesse mais voltada para a China ou Albânia…
… Até porque, também a China e a Albânia claudicaram no seu comunismo…

9- Aparentemente, seriam os mais extremistas que resistiriam melhor à decadência duma doutrina religiosa ou política, porque, supostamente, seriam os mais “puros e duros” na defesa da causa…
… Mas não é assim, em tempo de paz e em países dotados de progressismo.
Os mais fanáticos é que claudicam mais depressa. Os menos é que resistem mais…
Porque os menos fanáticos têm outra plasticidade e espírito de compromisso, que lhes flexibilizam a empresa, mesmo enveredando, voluntária ou involuntariamente, pelo ecletismo ideológico e amolecimento geral da sua determinação.
Os mais fanáticos, mormente no campo religioso, só conseguem aguentar a empresa até ao ponto de equilíbrio, que é um ponto melindroso e instável, entre a mentalidade liberal e democrática, própria dos tempos hodiernos, e o passadismo cristalizado de liturgias e apuramentos “rácicos”, típico de antanho, portanto, de tempos que já não voltam mais…

10- Ora, sendo a tendência para a liberdade e para a mentalidade crítica, bem própria do estilo de vida ocidental, fanatismos como a Opus Dei, já congenitamente bastante limitados, não têm qualquer hipótese de medrar, recluindo-se para pequenos resquícios de espaço/tempo, em cultivo serôdio de certas escolas, voltadas para o apuramento racial católico, mas esvaídas de massa crítica, que dê consistência suficiente à coisa…
… Ou voltadas para mortificações espirituais, de religionários merdícolas, com ou sem amarrações de cilícios nas pernas, à laia de relíquias grotescas do passado de glorificação do sofrimento, nos tempos áureos da Igreja…

11- Pelo que, a importância e influência da Opus Dei é quase nula, à semelhança da sua congénere simétrica, Maçonaria, entidades que mais se destacam por terem este ou aquele figurão, nessas extravagantes organizações, do que por real mérito ideológico e concreto nesta ou naquela atitude, nesta ou naquela ideia, nesta ou naquela política ou pendor…

28 de Janeiro, 2013 David Ferreira

A fé é a única convicção que confere credibilidade à alucinação e razoabilidade à loucura. Aos loucos com fé se anunciam as bem-aventuranças, aos outros se reservam os hospícios.

 

28 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Veja amanhã no Diário de Notícias

Debate encerra Grande Investigação DN

Auditório do DN encheu para ouvir os cinco oradores convidados para debater o papel do Opus Dei na Igreja e na sociedade
O ambiente plural do debate que hoje encerrou a publicação da Grande Investigação DN sobre o Opus Dei foi um dos aspetos destacados pelos oradores Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia, Ludwig Krippahl, vice presidente da Associação Ateísta Portuguesa, Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Pedro Gil, diretor do gabinete de imprensa do Opus Dei e Tolentino Mendonça, vice-reitor da Universidade Católica.

“Parte integrante da Igreja”, como defendeu Manuel Morujão, o papel do Opus Dei na sociedade e na Igreja Católica foram os temas em destaque, sem esquecer as particularidades da obra fundada em 1928 pelo padre aragonês Josemaria Escrivá de Balaguer.

A relação com a cultura, nomeadamente a existência de livros desaconselhados à leitura, a função das mulheres e as penitências pessoais encorajadas pela obra foram alguns dos tópicos discutidos.