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Etiqueta: Ateísmo

27 de Maio, 2014 Carlos Esperança

Ecumenismo e marketing

O ecumenismo de que o Vaticano se reclama não é mais do que um golpe publicitário para a hegemonia que procura, a tentativa de reunir forças para liderar a cruzada contra o ateísmo e a laicidade.

Não há ideologia mais odiada do que o ateísmo nem postura que mais descontrole o clero que a indiferença perante os dogmas e as sotainas.

As três regiões do livro são idênticas na sua intolerância, no ódio à liberdade e ao livre pensamento, na obsessão prosélita e na presunção de que cada uma é a verdadeira.

As sociedades ocidentais, na sua luta pela liberdade e emancipação, limaram as garras eclesiásticas, contiveram a prepotência religiosa e empurraram o Papa para o Vaticano.

Os protestantes, após as guerras da reforma e contra-reforma, em que o ódio cristão explodiu em torrentes de sangue, foram-se reduzindo à liturgia e à oração e perderam o fervor que agora regressa impetuosamente através de seitas cada vez mais agressivas.

O islão, inculto e radical, misógino e beato, impõe cinco orações diárias, o poder do clero e uma legião de dementes submissos às crueldades do Corão – um livro execrável que apela em quase todas as páginas à destruição dos infiéis, da sua religião, cultura e civilização, assim como dos cristão e judeus, em nome de um Deus misericordioso.

Os islamistas não são piores do que os cristãos ou os judeus, apenas se mantêm na Idade Média, com maior medo dos parasitas que pregam nas mesquitas do que do Deus que está no Paraíso com 70 virgens e rios de mel à sua espera.

A tragédia da humanidade não está nos crentes, está na droga das religiões e nos charlatães que as promovem e impõem.

 

26 de Abril, 2014 Carlos Esperança

Entrevista de R….. T…….. – para fins académicos

  1. Numa entrevista ao Correio da Manhã diz que já foi católico. O que o fez mudar de ideias?

R: Fui católico, como toda a gente, na aldeia onde nasci. A professora que não batizasse o filho seria considerada herege e teria o lugar em perigo. De resto, a minha mãe não foi constrangida, nem ela, moderadamente crente, nem o meu pai, agnóstico. Era o hábito. O constrangimento social e a força da Igreja católica não permitiam opção diferente.

Dos 10 aos 14 anos (aluno do liceu da Guarda) ia, uma vez por ano, à missa, na Páscoa católica. A devoção diluía-se ao ritmo da fé. Foi nessa idade que deixei de acreditar no ser hipotético a quem se atribuía a criação do Mundo e comecei a fazer as perguntas ininterruptamente absurdas, quem criou deus, quem criou o seu criador e, assim, sucessivamente.

  1. Com que idade “aderiu” ao ateísmo?

R: Se por ateísmo se entender não acreditar em Deus (escrevo com letra maiúscula para designar o deus abraâmico), tornei-me ateu aos 14 anos, mas a negação de um ser superior surgiu aos 18 anos, altura em que a rutura com a Igreja católica foi total e sem preocupações metafísicas.

  1. Foi uma decisão repentina ou implicou ponderação?

R: O ateísmo, como qualquer conceção filosófica é sempre um processo dialético. Há um momento em que a “quantidade” de descrença transforma o cidadão e lhe confere a qualidade de ateu, adjetivo que facilmente assumo mas sem a necessidade de o afirmar.

Há duas razões que me levaram ao ateísmo: uma de natureza intelectual e outra moral. A primeira impede-me de aceitar como verdadeira uma afirmação para a qual não existe qualquer prova. De  facto, não há a mais leve suspeita ou o menor indício de que algum deus exista, nem algum fez prova de vida.

A razão moral deriva do facto de o deus abraâmico, aquele que domina a maior fatia do mercado da fé no nosso país, ter sido criado por homens da Idade do bronze, muito mais violentos do que os de hoje, tendo criado um deus à sua imagem e semelhança: cruel, vingativo,  violento, xenófobo, homofóbico e misógino, refletindo ainda o carácter tribal e patriarcal dos seus criadores. Basta ler o Antigo Testamento, a que Saramago chamou benevolentemente «manual de maus costumes» quando está mais próximo de um manual terrorista.

Naturalmente que o homem urbano, de hoje, seria incapaz de praticar as barbáries que o Antigo Testamento recomenda ou de aceitar as práticas violentas da sociedade tribal e patriarcal que lhe deu origem.

  1. Já disse também anteriormente que gostaria de ver o seu baptismo anulado. Porquê? Sente que o baptismo o obriga de alguma forma a ter uma ligação indesejada com a religião católica?

R: A anulação do batismo é a forma de evitar que a Igreja católica use quem a abandona como crentes cujo número exibe para obter privilégios indignos de um Estado laico. Os crentes são cada vez menos mas a Igreja diz que Portugal é um país católico e confisca uma parcela significativa da saúde e da educação com vergonhosas isenções fiscais. As IPSS pertencentes à Igreja católica, Igreja cada vez menos provida de crentes e padres, dão-lhe imenso poder económico, financeiro e político com que garante a continuidade.

  1. O que é que o ateísmo traz para a sua vida?

R: O ateísmo é uma opção filosófica assumida por quem se sente responsável pelos seus atos e forma de viver, de quem preza a vida – a sua e a dos outros –, cultiva a razão e confia no método científico para construir modelos da realidade; e de quem não remete as questões do bem e do mal para seres incertos nem para a esperança de uma existência após a morte.

  1. Como surgiu a ideia de criar uma associação ateísta?

R: Surgiu de uma necessidade sentida por ateus, céticos, agnósticos e racionalistas, ideia cujos objetivos estão vertidos no site da Associação Ateísta Portuguesa (AAP):

  1. Fazer conhecer o ateísmo como mundividência ética, filosófica e socialmente válida;
  2. A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
  3. A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
  4. A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
  5. Responder às manifestações religiosas e pseudocientíficas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.
  1. Ela tem ligação com outras associações ateístas no mundo?

R: Temos excelentes relações com várias congéneres, nomeadamente com as do Brasil e França.

  1. Em que é que se baseia a associação? O que defende?

R: A resposta a esta pergunta encontra-se nos documentos publicados no nosso site, mas posso referir, em síntese, a defesa da laicidade do Estado, a negação de um ser supremo, a luta contra o obscurantismo e a superstição, bem como a denúncia das religiões como detonadoras de ódios, guerras e injustiças sociais.

As conferências em que a AAP tem participado e as entrevistas à comunicação social refletem a identificação com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o respeito pela Constituição da República Portuguesa, com especial ênfase na defesa da igualdade de género a que o espírito misógino das religiões se opõe.

  1. Os membros da associação costumam juntar-se para discutir ideias?

R: Os membros da AAP estão dispersos por todo o país. Há apenas um jantar anual e as Assembleias Gerais onde a presença física se verifica. É na Internet, no Diário de uns Ateus e num site de discussão que trocamos opiniões e discutimos a forma de encarar o ateísmo, muito diversa entre as centenas de elementos da Associação.

  1. Como acha que é a relação do Estado com a religião? Acha que deveria ser diferente?

R: A relação do Estado português é promíscua com a Igreja católica e tolerável com as outras religiões, mas quer a Concordata, um tratado iníquo com o Vaticano, quer a lei da liberdade religiosa, são dispensáveis num país cuja separação é exigida pela CRP e está longe de ser respeitada. Há privilégios indecorosos, como as aulas de Moral e Religião, as capelanias militares, prisionais e hospitalares, pagas com dinheiro dos contribuintes e sob tutela absoluta da Igreja católica. A isenção de impostos e os subsídios municipais e estatais para benefício religioso, são anomalias que urge erradicar.

  1. Que diferenças há num modo de vida de um ateu e de um cristão?

R: Com exceção da prática litúrgica não vejo diferenças assinaláveis, tal como não vejo diferença no comportamento quotidiano de um budista e de um luterano ou de um engenheiro e de um professor. O ateísmo não é prosélito e ninguém repara que os ateus, ao contrário dos cristãos e muçulmanos, são incapazes de abordar alguém para lhes anunciar a não existência de Deus.

  1. Que tipo de trabalho faz a associação? Como nos podemos juntar a ela?

R: A AAP publica mensagens e comunicados,  escreve cartas e reclamações a entidades oficiais que violam grosseiramente a laicidade do Estado, a Câmaras Municipais que, em épocas eleitorais, pagam viagens e almoços aos idosos dos lares e quando os  abusos se tornam obscenos. Para além disso, participa em colóquios, faz conferências e dá entrevistas.

Qualquer pessoa, maior de 18 anos, se pode inscrever. Basta ir ao site, preencher o formulário e tomar conhecimento da AAP.

  1. O blog “Diário De Uns Ateus” é um blog partilhado por várias pessoas. Como nasceu a ideia de o criar?

O Diário de uns Ateus, sendo propriedade da AAP, não reflete necessariamente as suas posições, habitualmente tomadas por consenso da sua direção. É um blogue anterior à AAP e que reflete as ideias dos sócios que aí colaboram. Nasceu da ideia de um ateu e do entusiasmos de um grupo que trocava impressões sobre o ateísmo.

  1. Que tipo de ideias são colocadas nesse blog?

R: As ideias dos colaboradores, que jamais defenderão os dogmas e mentiras religiosas, não são objeto de qualquer censura ou agenda e as caixas de comentários estão abertas, como se pode ver pela intolerância e grosseria dos crentes que as frequentam.

17 de Abril, 2012 João Vasco Gama

Desconversão – em português

aqui partilhei uma excelente série de vídeos sobre uma experiência de desconversão. Pela forma séria, sofisticada e apelativa como está construída e pela clareza e pertinência dos argumentos apresentados, sugeri vivamente o seu visionamento completo.

Recentemente descobri que essa série foi legendada em português. Agradecendo a quem fez a tradução, aproveito para divulgar a série de novo neste espaço.

Aqui está um dos melhores vídeos da série, o momento da desconversão, desta feita legendado em português:

PS- Não esquecer de activar as legendas, para quem não tem essa opção por omissão.

11 de Março, 2012 João Vasco Gama

Desconversão: o fim

Uma excelente série de vídeos no youtube partilha a experiência de desconversão do seu autor. A série de vídeos começa por uma introdução, pela explicação de como era a vida de cristão no início, para então explicar detalhadamente porque é que é tão difícil abandonar a crença em Deus apesar de tantos indícios fortes («evidences», daí o pseudónimo do autor) que apontam para a sua existência. A série não termina com a desconversão do autor: a partir daí continua a seguir diferentes descobertas e elaborações até uma sistematização final e epistemologicamente coerente de como apreender a realidade.
Nota-se um enorme esforço na elaboração dos vídeos, que estão muito bem conseguidos, e conseguem transmitir ideias bem articuladas e razoáveis de forma profunda, mas fácil.

Muito apropriadamente, parece-me que o melhor vídeo da série é precisamente aquele que relata o momento da desconversão. Este vídeo é melhor compreendido se for visto depois de todos os que o precedem na lista, mas também pode ser visto isoladamente, e continua a ser muito bom. Aconselho-o vivamente a crentes e descrentes, e a qualquer pessoa interessada por estes assuntos:

23 de Fevereiro, 2012 João Vasco Gama

Ricardo Araújo Pereira e a questão de Deus

Por serem divagações divertidas, mas também interessantes e profundas, partilho com os leitores estas palavras de Ricardo Araújo Pereira sobre religião, morte e humor:

Não concordo com tudo, mas aconselho sem reservas.

20 de Agosto, 2011 João Vasco Gama

O secularismo torna as pessoas mais éticas?

«Os não crentes são frequentemente mais educados, mais tolerantes, e sabem mais a respeito de Deus que os crentes. Novas pesquisas têm tentado perceber o que se passa na mente do sempre-crescente grupo de pessoas conhecido como os “nadas”.»

Estas palavras não são minhas, são a minha tradução da introdução de um artigo da Spiegel, denominado «O secularismo torna as pessoas mais éticas?», que recomendo vivamente a quem se interessa por estes temas.

10 de Julho, 2011 João Vasco Gama

Milagres – I

Há dois tipos de crenças em relação aos milagres. Existe quem acredita que podem envolver uma violação das leis naturais, e existe quem não acredita em tal coisa.

Quando se justifica acreditar na ocorrência de um determinado milagre? David Hume dá uma excelente resposta a essa questão:

«Nenhum testemunho é suficiente para estabelecer um milagre, a menos que o testemunho seja de tal tipo que sua falsidade seria mais miraculosa que o fato que ele tenta estabelecer»

Por outras palavras, devemos sempre acreditar na hipótese mais plausível. Podemos olhar para esta máxima do ponto de vista do conhecimento que temos hoje sobre probabilidades. Sejam A e B dois acontecimentos, a probabilidade de A dado B é dada por:


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Assim, se A for o milagre, e B for a existência do conjunto de evidências que temos para esse milagre (testemunhos, etc.) podemos encarar B como a união do conjunto dos diferentes acontecimentos possíveis que poderiam dar origem a essas evidências – a autenticidade do milagre (A), a falsidade dos testemunhos, equívoco, ou outras, a que chamaremos C. Tendo em conta que são conjuntos disjuntos, e que a intersecção de dois conjuntos não pode ser superior a qualquer deles, a expressão anterior implica:


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Aqui temos: se a falsidade das evidências for mais miraculosa que o milagre que se pretende estabelecer (P(C) < P(A)), é razoável acreditar que o milagre ocorreu (P(A|B) > 0.5). Mas se acontece o contrário, não faz sentido acreditar que o milagre tenha ocorrido (P(~A|B)>0.5).

Um exemplo ilustrativo: o Gustavo, grande amigo meu, diz que morreu e passados dois dias ressuscitou, e descreve a experiência em grande detalhe, com enorme seriedade. O acontecimento A é a ressurreição do Gustavo, o acontecimento B é o seu testemunho. Para simplificar, vamos supor neste caso que não existe nenhuma outra explicação para o seu testemunho além da autenticidade do milagre e da mentira deliberada (não é possível que seja um equívoco, etc..). Como o Gustavo é extremamente honesto, eu diria que a probabilidade dele mentir é uma num milhão (P(C)=0.000001). Ninguém discordará que a probabilidade de alguém ressuscitar passados dois dias é muito inferior a um em mil milhões (P(A)<0.000000001). Assim, qual é a probabilidade de que o milagre descrito pelo Gustavo seja autêntico? É inferior a um em 1000 - aquilo que é muito mais plausível é que Gustavo, apesar da sua honestidade, esteja a mentir deliberadamente (P(C|B)>0.999).

E se considerarmos que é possível que Gustavo esteja equivocado? Como a sua descrição parece detalhada, e a sua convicção inabalável, parece difícil imaginar que tal equívoco seja possível, mas isso é ignorância sobre a natureza humana, equívocos deste tipo acontecem a pessoas saudáveis com mais frequência do que imaginaríamos. Suponhamos que a probabilidade de equívoco a priori é de um em dez mil (P(D)=0.0001). Neste caso, temos que a probabilidade de que Gustavo esteja equivocado (P(D|B)) é cerca de 99%. Neste caso a probabilidade de mentira deliberada (P(C|B)) passa a ser próxima de 1%. Por fim, considerando a possibilidade de equívoco nestes moldes, a probabilidade do milagre ser autêntico (P(A|B)) passa a ser ainda menor (inferior a um em cem mil).

Como é natural, no que diz respeito a milagres que implicam violação das leis naturais, a sua probabilidade a priori é extremamente reduzida, pois de outra forma tais leis não teriam sido estabelecidas. Assim, para que fosse razoável acreditar neles face às evidências disponíveis seria necessário que a autenticidade destas merecesse mais crédito que as próprias leis naturais que teriam sido violadas – o que é manifestamente difícil…

Já no que diz respeito a milagres que não implicam violação das leis naturais, creio que o próprio conceito é absurdo. No próximo texto sobre este assunto procurarei explicar porquê.

22 de Junho, 2011 João Vasco Gama

Razões para não acreditar

Alguns deístas apresentam Deus como uma abstracção infalsificável.
No que diz respeito a tal abstracção, tenho boas razões para nela não acreditar, com esta exposta por Bertrand Russel:

«Da minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um pote de chá de porcelana girando em torno do Sol numa órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, sendo que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos.
Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com toda a razão pensariam que estou a dizer tolices.
»

Não obstante, no que diz respeito a várias religiões teístas, em particular o cristianismo, tenho razões muito mais fortes não acreditar nas alegações feitas – a sua própria inconsistência interna, a incoerência entre as várias alegações associadas a cada uma destas religiões.

O video que se segue explica de forma muito clara e competente algumas das principais.
Tive muito prazer em vê-lo e quero por isso partilha-lo com todos:

Texto também publicado no Esquerda Republicana.