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Missa na Lua

Por

ONOFRE VARELA

No último dia 21 de Julho cumpriram-se 50 anos da chegada do Homem à Lua. A propósito da efeméride fiz uma Banda Desenhada (BD) contando a aventura do Homem desde que sonhou voar, até à primeira alunagem concretizada em 1969 pelos astronautas norte-americanos da missão Apollo 11: Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins. O terceiro astronauta manteve-se em órbita lunar para receber os seus dois colegas e devolvê-los, sãos e salvos, à Terra. A tarefa ocupou-me seis meses de trabalho, lendo, procurando imagens, escrevendo e desenhando. Desde Dezembro passado atémeados de Junho não fiz mais nada que não fosse “andar com a cabeça na Lua”. A obra (que foi editada pela Book Cover:[email protected] e se encontra à venda nas livrarias, incluindo Fnac, Bertrand e El Corte Inglés) é composta por uma introdução do cientista português Fernando Carvalho Rodrigues, pai do satélite português PoSat 1; a história da ida à Lua é contada em 39 pranchas de BD, e mais duas dedicadas ao PoSat 1. A obra consta, ainda, de um quadro com todas as missões espaciais tripuladas (russas e americanas) até ao fim dos projectos Apollo e Soyuz, e termina com resumos biográficos dos astronautas pioneiros e do cientista Werner von Braun; capas da imprensa da época e textos curiosos sobrea aventura espacial. Num desses textos faço referência a um acontecimento que comento aqui por estar relacionado com o teor da minha colaboração na Gazeta. 

Quando aconteceu a missão Apollo 11, a NASA estava a meio de um processo judicial que foi movido por uma ateia: Madalyn Murray O’Hair, que se opôs à leitura de uma passagem do Génesis bíblico pelos astronautas da missão Apollo 8. Defendia Madalyn que o espaço não deveria ser usado para divulgar crenças nem ideologias. Pelo contrário, o espaço deveria ser a última fronteira da neutralidade, quer seja política ou religiosa. Por isso exigia que os astronautas não transmitissem actividades religiosas do espaço. 

O astronauta Aldrin, que pilotou o módulo lunar, era religioso e seguia o culto da Igreja Presbiteriana. Conhecedor do conflito entre Madalyn e a NASA, não quis deixar de testemunhar a sua fé a partir do espaço, e acabou por dizer para Houston (o centro das operações espaciais): “Gostaria de aproveitar esta oportunidade para pedir a cada pessoa que estiver a ouvir-me, que pare por um momento, pense nos eventos das últimas horas, e agradeça à sua maneira”. Consta que Aldrin levou consigo um kit de comunhão preparado pelo seu pastor, para poder comungar na Lua, e ainda hoje a sua igreja guarda o cálice usado nessa prática de fé. Só não se explica como conseguiu ele deitar vinho no cálice com luvas que lhe engrossavam os dedos, e bebê-lo na Lua com o casco espacial a envolver-lhe a cabeça!… Provavelmente fê-lo dentro da nave. 

Aproveito para informar que os desenhos originais da BD estão expostos, até ao fim deste mês de Setembro, no Museu da Imprensa (junto à Marina do Freixo), no Porto, para quem quiser apreciá-los.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)