Diario de uns Ateus

  • Home
  • Contactar
  • AAP

A Bíblia está em vigor

28 de Outubro de 2017  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Publicado em Catolicismo  |  Comentar

Sempre foi assim!…

O recente Acórdão da Relação do Porto é uma pequena viagem da jurisprudência entre o tribunal de Felgueiras e o da Relação, com inquietante unanimidade, num país onde a norma do Código Penal de 1886, que prescrevia a saída da comarca por seis meses para o homem que matasse a mulher “em flagrante de adultério”, só foi revogada em 1975.

Há quem veja na indignação face à jurássica mentalidade de vários juízes um exagero, quando uma mulher foi injuriada, assediada, metida à força num veículo e agredida com “um pau comprido com a ponta arredondada, onde se encontravam colocados pregos”, por dois indivíduos primitivos, o marido e aquele com quem manteve, durante meses, um relacionamento amoroso.

Parece uma viagem de regresso, de ‘maio de 68’ a ‘28 de maio’ (1926), conduzida por beneditinos a caminho do Santo Ofício, certos de que existirá em qualquer época um Torquemada na defesa da moral e dos bons costumes.

Omite-se que a vítima não recorreu do vexame a que foi sujeita, da injustiça que sofreu, da dor que suportou, com feridas profundas, a sangrar por dentro, enquanto os algozes ficaram em liberdade porque a alegada opinião pública ou os códigos de um “manual de maus costumes” da Idade do Bronze tornam socialmente compreensível e tolerável o que rejeita a Constituição de um país laico e civilizado. Foi uma Procuradora que, sem êxito, recorreu da iniquidade com que não podemos conformar-nos.

Esperava não voltar a este revoltante assunto, mas o respeito pela igualdade de género e a decisão da PGR (talvez juridicamente inatacável) de impedir o recurso para o Tribunal Constitucional de uma decisão em que o julgador se permitiu humilhar a vítima por um ato que não é crime e, por isso, foi benevolente para os algozes pelo crime que o é.

Os discursos do Presidente do STJ e do Presidente da Relação são ininteligíveis para um leigo. Palavras da 4.ª figura do Estado, Ataíde das Neves, são o chumbo derretido numa ferida: «A intensidade e violência das críticas não será [sic] um serviço prestado às vítimas, mas a todos aqueles que, sentados nas bancadas ou chorando lágrimas de crocodilo, fazem o jogo da discriminação e da perda de confiança na justiça».

Eu estou sentado, e aquela mulher? Ah! Sempre foi assim…

É a vontade de Deus.

 

Arquivo Histórico

Colaboradores

  • Abraão Loureiro
  • Associação Ateísta Portuguesa
  • Carlos Esperança
  • David Ferreira
  • Eduardo Costa Dias
  • Eduardo Patriota
  • Fernando Fernandes
  • João Vasco Gama
  • José Moreira
  • Ludwig Krippahl
  • Luís Grave Rodrigues
  • Onofre Varela
  • Palmira Silva
  • Raul Pereira
  • Ricardo Alves
  • Ricardo Pinho
  • Vítor Julião

Diário

Outubro 2017
S T Q Q S S D
 1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
3031  
« Set   Nov »

Commentadores:

Administração

  • Iniciar sessão
  • Feed de entradas
  • Feed de comentários
  • WordPress.org


©2021 Diário de uns ateus
Concebido na plataforma WordPress sobre tema desenvolvido por Graph Paper Press.