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Mês: Abril 2016

3 de Abril, 2016 Carlos Esperança

Religiões, tolices e crimes – O combate necessário e urgente

Não há qualquer religião cujo deus defenda o respeito pelas outras e, muito menos, por não crentes. Quanto maior é a crença de alguém por outra vida, depois da morte, menor é a tolerância pelas posições divergentes na única e irrepetível vida que nos coube.

“A religião é um instrumento de paz” é o lugar-comum, politicamente correto, repetido à exaustão e cuja falsidade não é posta em causa, às vezes – e bem –, para evitar gestos primários de vingança contra minorias, e, quase sempre, para impedir a reflexão sobre o passado histórico da religião autóctone.

O facto de se permitirem as frases anteriores, não se deve à indulgência do catolicismo, mas ao facto de ter sido politicamente reprimido na Europa. A liberdade religiosa só foi aceite pelo catolicismo no Concílio Vaticano II, há meio século, uma decisão que ainda provocava azedume em João Paulo 2 e Bento 16. Na Arábia Saudita deixavam em risco a ligação da cabeça ao tronco.

“Só um Estado não confessional pode garantir a liberdade religiosa de todos”, dizia no DN, ontem, o padre Anselmo Borges, afirmação que ainda provoca a ira dos crentes que ficam insatisfeitos com as delícias que Deus lhes reserva, após a morte, e não dispensam a vindicta contra os que prescindem da conversão.

Os cristãos aceitam que a Bíblia, tantas vezes alterada ao longo dos séculos, com vários Evangelhos considerados apócrifos, não foi ditada por Deus. É apenas a sua expressão humana, e têm, além disso, o NT que, salvo o vigoroso antissemitismo, que se explica por ter sido uma cisão do judaísmo, é um avanço na humanização dos preconceitos das tribos patriarcais da Idade do Bronze de que o AT é um documento histórico e literário.

O Corão, cópia grosseira do cristianismo e do judaísmo, foi ditado pelo Arcanjo Gabriel a Maomé, o ‘último profeta’, entre Medina e Meca, a última vez que Deus falou, através do anjo. Assim, é inexequível refazer o que foi ‘revelado’ ao beduíno analfabeto, apesar de o texto atual ser do ano 800 da era vulgar, de predicação apaixonada nas mesquitas e ensino obrigatório nas madrassas, v.g.:

“Sabei que aqueles que contrariam Alá e seu mensageiro serão exterminados, como o foram os seus antepassados; por isso Nós lhes enviamos lúcidos versículos e, aqueles que os negarem, sofrerão um afrontoso castigo.” (Alcorão, Surata 58:5)
“Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós; e sabei que Alá está com os tementes.” (Alcorão, Surata 9:123)

Em vez de se permitir à extrema-direita europeia combater os crentes, urge combater as crenças; em vez de se negociarem os refugiados com a Turquia, deve ser-lhes imposto o respeito pelos padrões civilizacionais europeus, incluindo a igualdade de género; em vez de se promover o diálogo inter-religioso e o multiculturalismo, deve exigir-se a renúncia aos valores que os mullahs exaltam e com que hordas de muçulmanos exultam; em vez de orações pela paz, é mais profícuo vigiar quem promove e financia a guerra santa.

Se nas mesquitas, igrejas ou sinagogas, sedes de clubes ou partidos políticos, se prega o ódio e incita à violência, exige-se vigilância, denúncia, medidas de coação, julgamento e repressão política, segundo as normas do Estado de direito e não do direito teocrático.

2 de Abril, 2016 Carlos Esperança

Foram-se as Indulgências… (Conto pio)

Jerónimo Felizardo estava a aliviar do luto a que a perda da amantíssima esposa, Deolinda, o obrigara. Não se pode dizer que lhe fora muito dedicado em vida nem excessivamente fiel. Mas habituara-se a ela como um rafeiro ao dono que o acolhe.

Sentia-lhe agora a falta. Deolinda de Jesus dera-lhe tudo. Mesmo tudo. Até o que é obrigação e nela nunca foi devoção e, muito menos, entusiasmo. Deu-lhe independência económica, boa mesa, respeito e uma filha. Deixou-lhe uma pensão de professora, metade do ordenado do 10.o escalão, que acrescentava a outros proventos e o punham ao abrigo de sobressaltos.

Com a filha não podia contar. Fora para Lisboa frequentar a Universidade Católica, a cujo curso e influência deve hoje o desafogo em que vive e o lugar importante no Ministério. Metera-se no Opus Dei e enjeitou a família. Mesmo a mãe, a quem fora muito chegada, só lhe merecera duas breves visitas nos três anos de doença prolongada com que Deus quis redimi-la do pecado original.

Era natural que substituísse as visitas por orações, que não exigiam deslocações nem hora certa, que haviam de prolongar a vida e o sofrimento, assim Deus a ouvisse. E ouvi-la-ia de certeza porque, além de omnipotente e omnisciente, vinham duma devota fiel à instituição que o Papa amava quase tanto como à bem-aventurada Virgem Maria.

A poucos meses de fazer meio século Jerónimo empanturrava-se de comida que Carolina, afilhada do crisma de D. Deolinda, se esmerava a cozinhar com um desvelo que a filha nunca revelara. Bem sabia que a gula era um pecado capital, mas que a prática e o exemplo eclesiástico largamente tinham despenalizado. Nem mesmo o Prefeito para a Sagrada Congregação da Fé, tão cioso guardião da moral e dos bons costumes, o valorizava demasiado. A gula não é propriamente a luxúria, que é das maiores ofensas feitas a Deus, pecado dos maiores e, de todos, o que mais contribui para a perdição da alma.

Em tudo o mais era Jerónimo um viúvo exemplar. Dera-se à tristeza e à oração. Arrependia-se das vezes em que não cumpriu o dever da desobriga, da frequência escassa à eucaristia, das missas a que faltou, em suma, das obrigações de cristão que não cumpriu com a intensidade, duração e frequência que recomendava a Santa Madre Igreja. Mas, de tudo, o objeto maior de arrependimento era o adultério que cometera e em que, sempre confessado, reincidiu.

Mas isso terminara há muitos anos. A infeliz que seduzira casara e virara fiel ao marido a quem agradecia tê-la recebido canonicamente apesar de saber que já não ia como devia. Conformado, não se importando de ficar com mulher que já não ia inteira, nunca suspeitou de ornamentos de homem casado, sempre julgou que o autor era um antigo namorado que a morte por acidente impediu de reparar a desonra.

Desse pecado se redimira já, pela confissão, penitência e promessa de nunca mais pecar.
Agora, à castidade que se impunha, ao cumprimento dos mandamentos a que se devotara, juntava uma vontade forte de conquistar indulgências nesse ano 2000 do Grande Jubileu.

Bem sabia que as indulgências requerem sempre a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração pelas intenções do Papa, condições sine qua non para a sua obtenção. Quanto às disposições para a sua aquisição não era difícil cumpri-las. Bastava peregrinar a uma Basílica, Igreja ou Santuário designado para o efeito, e eram várias as opções na diocese, e rezar o Pai-nosso, recitar o Credo em profissão de fé e orar à bem-aventurada Virgem Maria, tarefas de que se desobrigava com prazer e entusiasmo. Mesmo a recomendável contribuição significativa para obras de carácter religioso ou social estava ao seu alcance e não deixaria de fazê-lo.

Embora gozando de excelente saúde e de razoáveis análises nunca é demasiado cedo para o sincero arrependimento e cuidar da alma. Veio a calhar o ano do Grande Jubileu que Sua Santidade avisadamente instituiu nesse Ano da Graça de 2000.

Jerónimo tomou como bênção do Céu ter ficado Carolina a cuidar dele. Antes de se recolher ao quarto rezavam os dois, todos os dias, por D. Deolinda, Esposa e Madrinha, respetivamente, para que a sua alma mais célere entrasse no Paraíso, aliviada das penas do Purgatório.

Passava os meses dedicado à oração, à penitência e à agricultura, outra forma de penitência que alguns teólogos interpretam como a mensagem do anjo do 3.o segredo de Fátima. Disse-me um crente praticante, e não incréu militante, que a penitência que o anjo três vezes pediu era uma forma de exigir dedicação à agricultura, modo de empobrecer e salvar a alma, vacina contra os sectores secundário e terciário onde os homens perdem a fé e a Igreja os fiéis.

No primeiro dia de maio, a seguir ao jantar, horas depois dos comunistas ateus se terem manifestado nas ruas de Lisboa e Porto, enquanto Carolina ficou a arrumar a cozinha, foi Jerónimo ao mês de Maria, ato litúrgico que na sua cidade de província sobreviveu à conversão da Rússia e à consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria.

À saída da igreja entrou no carro, dirigiu-se à quinta que distava duas léguas da cidade, deu um bocado de conversa ao caseiro e uma olhadela às vitelas, distribuiu-lhes ele próprio um pouco de ração, mandou verificar a pedra que tapava o buraco das galinhas para protegê-las da raposa, deu a bênção aos afilhados, filhos do caseiro, e regressou à cidade onde viveu em vida de D. Deolinda, por vontade dela que detestava a lavoura e o campo, e vivia agora por hábito e fidelidade à memória da falecida.

Ao regressar a casa admirou-se de ver todas as luzes acesas, exceção para o seu quarto que a luz do corredor iluminava discretamente.

Ia entrar em busca da santa Bíblia quando, sobre uma colcha de seda, na cama, deparou com o corpo esbelto de Carolina, esplendorosa escultura de 20 anos à espera de ser percorrida, vestida apenas de penumbra e longos cabelos castanhos esparsos sobre o peito, donde brotavam túmidos mamilos à espera de afago.

O quarto parecia iluminar-se progressivamente. Já uns lábios carnudos se ofereciam sequiosos e um corpo arfava em pulsações rápidas, num incontido furor de ser possuído, numa ânsia insuportável de ser saciado, primícias ávidas em busca de serem saboreadas.
Jerónimo sentiu sobrar-lhe roupa e minguar-lhe a resistência.

Foram-se as indulgências…

In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada

1 de Abril, 2016 Carlos Esperança

Opinião de um leitor

A opinião de Jaime Santos, agnóstico, em relação a este post.

Todas as religiões monoteístas têm no seu núcleo fundamental de valores a defesa de sociedades patriarcais, teocráticas, misóginas e profundamente homofóbicas. Isso já o sabemos, é um facto. No Ocidente, fruto da Reforma Protestante e do Iluminismo, o Poder Eclesiástico foi primeiro submetido ao Poder Secular e, depois de despidas as diferentes denominações religiosas do seu poder temporal, afirmou-se o princípio da separação entre o Estado e a Igreja. De notar que no caso do Catolicismo, o fundamentalismo religioso ainda inspirava o poder temporal em sítios como a Espanha ou a Croácia no sec. XX (menos em Portugal, onde a ICAR tentou apesar de tudo manter alguma independência em relação a Salazar).

 

Este processo de inculturação levou séculos e permite que o Cristianismo conviva de forma pacífica com Estados Seculares, não sem procurar exercer a sua influência na redação das leis (como é do direito dos crentes enquanto cidadãos, penso eu). No Mundo Muçulmano nada disto se passou (ainda), e depois do falhanço rotundo do pan-arabismo e da humilhação continuada desses povos, primeiro pelo colonialismo e mais recentemente pela interferência das grandes potências na política interna desses países e ainda pela ocupação israelita (que não é mais do que uma forma de colonialismo, note-se), a resposta de uma juventude sem horizontes e que contempla o falhanço da sua civilização foi o abraçar do fundamentalismo religioso e da guerra de civilizações.

Eu quero crer que o Islão é mais do que isto. Os santos sufis cujos túmulos foram destruídos pela Al Qaeda no Mali, abraçaram uma corrente que defende a não violência. A vasta maioria dos muçulmanos que vivem no Ocidente querem viver em Paz e admiram a Liberdade Religiosa das nossas Sociedades… Na Tunísia, onde se iniciou a Primavera Árabe, o processo democrático continua, e inclui Partidos Religiosos de natureza fundamentalista. Enfim, o Islão é algo mais que o wahabismo.

Agora, não conseguiremos com certeza lutar com eficácia contra esses criminosos enquanto continuarmos a dar cobertura a regimes que são em tudo iguais ao Daesh, e que o financiam, a bem dos negócios…

1 de Abril, 2016 Carlos Esperança

Como se fabricam milagres

Como é milagrosa a “minha Montse”

Escrevo para agradecer muito à Montse Grases. Para mim é “minha menina Montse”. Há 11 anos quebrei meu pé. Depois da cirurgia e passados alguns meses não me recuperava completamente, até que me falaram que não voltaria a andar bem.

FAVORES E RELATOS 
Opus Dei - Como é milagrosa a “minha Montse”