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Aparições

Por

Frei Bento

Caríssimos irmãos em Cristo, de vez em quando, neste portal, vem à baila o assunto “aparições”. É um tema controverso, que desencadeia os mais díspares comentários, já que uns acreditam, outros assim-assim, e outros dizem que não acreditam, mas acabam por perguntar aos incrédulos “vossemecê é capaz de garantir que Nossa Senhora não apareceu?” para, logo a seguir, afirmarem que “a mãe de Cristo não anda por aí…” etc.

Posso garantir que, sim senhores, anda por aí. Mortos os apóstolos, Nossa Senhora, Mãe de Deus e Virgem Parideira, como boa mãe que é, decidiu carregar sobre os ombros a ingente tarefa de espalhar a Boa Nova, cujo farol fica ali em Matosinhos, e onde há um restaurante de se lhe tirar o chapéu, enquanto o Filho está a preparar a próxima vinda, prometida há uns tempos, já que, como todos não devemos ignorar, o fim está próximo.

Mas não era sobre estas aparições que eu queria falar, e sim das que ocorrem no nosso Convento, de há uns tempos a esta parte. A única e grande diferença entre as NOSSAS aparições e as que aparecem aqui em discussão, é que as nossas são verdadeiras, testemunhadas, provadas e comprovadas. Outra grande diferença, é que não ocorrem sempre ao mesmo dia, nem o vidente é sempre o mesmo. Com efeito, e numa deriva democrática que me surpreende positivamente, as aparições têm como “alvo”, chamemos-lhe assim, o irmão que estiver de serviço à portaria e que, como é bom de ver, não é sempre o mesmo, antes correndo todos os irmãos, numa rigorosa escala de serviço. O único que não faz serviço é o cabr… o nosso santo Abade, por razões compreensíveis, mas mesmo ele já teve uma visão que o deixou algo alucinado.

Ora, curiosamente, estas aparições começaram a ocorrer quando o irmão Luís Albuquerque, que tomou o nome de Frei Mário, começou a tratar das finanças conventuais, devido à desistência do Frei Vítor. Pois bem, pouco tempo depois, começaram as aparições: primeiro, apareceu o dono do armazém de farinha, a reclamar o pagamento de não sei quantos sacos; depois, apareceu um mestre-de-obras, a reclamar o pagamento de um restauro feito no tecto da capela-mor. E por aí fora, muitas mais aparições tiveram lugar.

Quanto à visão que o Abade teve, foi de uma astronómica factura da EDP, que ia dando o badagaio ao homem.
O Abade já berrou que quer as contas resolvidas até Outubro, o mais tardar, mas tenho dúvidas. Cá para mim, quem vier a seguir é que se vai f… quer dizer, é que vai ter de fechar a porta.

Saúde e merda, irmãos, que Deus não pode dar tudo.

Diário de uns Ateus – Frei Bento, recolhido no Convento, não tomou ainda conhecimento do novo AO mas, como é imaculada a sua escrita, tem direito a usar a mais próxima do Antigo Testamento.