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  • 27 de Fevereiro, 2015
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

A pastoral rodoviária continua em vigor ou foi um fracasso?

Em 2007, o Conselho Pontifício para a Pastoral dos Emigrantes tinha em vista a criação de espaços de oração e encontros pios nas áreas de serviço e lugares de descanso das autoestradas. Bento XVI jubilou-se sem recolher frutos da nova pastoral do camionista, uma forma de proselitismo rodoviário, de que não mais se ouviu falar.

A ideia continua original e adequada à proliferação de autoestradas num período em que a fé esmorece.

Chega um condutor com a bexiga cheia e sai-lhe uma freira com uma pagela do Sagrado Coração de Jesus. Vem aflito, após 400 km de autoestrada, a ruminar uma sanduíche de atum, ansioso por um urinol, e um padre para-o para rezar uma ave-maria e, quando espera aliviar o globo vesical, pergunta-lhe se quer aliviar-se dos pecados e confessar-se.

Vem esfomeado outro, a pensar em presunto e queijo, e aguarda-o uma missa no interior de um camião e, à saída, um versículo da Bíblia debitado por um diácono.

Antes do restaurante passa pela sacristia. Antes de alcançar a latrina leva com conselhos pios e, quando um camionista se prepara para comprar uma revista com fotos de corpos apelativos, dá com uma pagela de Santo Escrivà numa das mãos e a da Virgem Maria na outra, sem mão disponível para urinar.

O garoto que obriga o pai a parar, para comprar o gelado que há duzentos quilómetros reclamava, leva primeiro com um pai-nosso que a catequista de serviço reza com ele.

Em vez de prostitutas que aguardam camionistas, há semanas fora de casa, as estações de serviço vão parecer conventos de portas abertas e freiras à solta para reconduzirem ao redil da Igreja jovens com cio.

Quando, finalmente, permitem o alívio de uma sanita ao fatigado camionista, este já não precisa de se preocupar com o papel higiénico, leva consigo vários santinhos e um desdobrável com imagens do Papa, a cores.

Benditos padres que recorrem aos «camiões para rezar» em vez de deixarem descansar os condutores. Certamente, conseguem substituir o habitual desabafo de um camionista, perante a manobra desastrada de outro condutor, por um piedoso e contido alívio:

«Vai para o padre Escrivá, filho de Deus».