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Dia: 3 de Março, 2014

3 de Março, 2014 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_03_03_2014-03-03

João César das Neves (JCN) deu o título de «Gambozinos» à homilia de hoje, no DN, começando por definir os animais imaginários com que se ludibriam os pacóvios, como «animais nocturnos, ariscos e fictícios, caçados em grupo nos bosques portugueses», à imagem e semelhança dos anjos, lobisomens, profetas, virgens e demais fauna mística que povoa a sua imaginação pia.

A homilia começa por afirmações triviais sobre economia, de que é destacado mullah no madraçal* de Palma de Cima, para logo lhe fugir o pé para a chinela, com a boca seca da eucaristia, o coração dorido do martírio do seu deus, o corpo debilitado pelos jejuns e a alma atormentada pelos ensinamentos do Concílio de Trento.

De prudente mullah da economia passa a talibã romano, a execrar a coadoção por casais do mesmo sexo. É a obsessão de quem troca o amor pela abstinência, o êxtase do corpo pela martírio da alma, a felicidade humana por uma assoalhada no Paraíso.

O domingo é um dia difícil para JCN. Depois do êxtase místico, das genuflexões pias da missa, das orações prolongadas e do jejum, é obrigado a aliviar o cilício para cumprir a publicação do dia seguinte, no DN, e, quiçá, a penitência a que o confessor o condenou.

É dessa penitência, com a auréola da santidade e os dedos condenados à tendinite, que emerge o desvairamento com que execra a aprovação da lei da coadoção por casais do mesmo sexo. Atira-se às teclas com o furor de Santiago aos mouros, com a raiva de um cruzado aos infiéis e a metódica tortura de um inquisidor aos hereges.

Afirma JCN que a referida lei «alterou o multissecular conceito natural do matrimónio» como se os adjetivos fizessem jurisprudência, como se o esclavagismo e a tortura, por serem também multisseculares e naturais, fossem justos ou toleráveis.

Exoneradas a inteligência e a razão, ao serviço do seu Deus, JCN considera irrisório que «nos três primeiros anos foi realizado um total de 914 uniões, 0,8% dos casamentos do período. Seria mesmo uma necessidade relevante?».

Que raio de argumentação! Se houvesse 914 pessoas em risco de se afogarem, apenas 0,8% dos afogamentos, discutiria JCN se seria relevante salvar essas 914 pessoas?

Depois do ruido criado pelo líder da JSD, com a proposta do referendo inconstitucional, agora que a proposta de lei, que já devia estar aprovada, voltou à A.R., JCN afirma que «Desta vez discutem a co-adopção e adopção por casais do mesmo sexo…» e adita em pura retórica: «No meio dos dramas nacionais, os deputados sentem-se livres para caçar gambozinos».

Para JCN, a afirmação dos direitos individuais é comparada cinegeticamente como uma «caçada aos gambozinos». «Bem-aventurados os pobres de espírito…»

3 de Março, 2014 Carlos Esperança

Legionários de Cristo: a oportuna ‘ressurreição’ pré-pascal…

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O silêncio apostólico que tem envolvido os ‘Legionários de Cristo’ parecia ser a antecâmara da dissolução desta tenebrosa organização, depois de conhecidas as múltiplas tropelias do seu fundador – padre Maciel.
A decisão do actual papa em nomear um novo director e prosseguir com a actividade desta congregação link, apesar dos crimes (civis, entenda-se) já denunciados, reflecte as dificuldades como a ICAR lida com o Mundo, nas situações difíceis e intoleráveis.
 Trata-se de um escândalo de tal modo grave que o anterior responsável pelo Vaticano (B-16) foi ‘obrigado’, em 2010, a nomear um ‘delegado pontifício’ (Mons. Velasio De Paolis link)  para administrar esta estranha ‘Legião’ que, na prática, foi uma dos sustentáculos (a par da Opus Dei) do pontificado de João Paulo II.
O Mundo ‘acreditou’ que, perante o descalabro visível e a enormidade dos crimes, o ‘delegado’ (oriundo da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé) seria o natural representante da Cúria na comissão liquidatária desta instituição católica. Na verdade, esboroada toda a sua missão apostólica assente em colégios e missões, restavam os avultados aspectos económicos inerentes à ‘crapulosa’ e miserável acção destes ‘legionários’.
Aliás, o comunicado sobre esta instituição e objectivamente sobre o trabalho do padre Maciel, documento que antecede a nomeação do delegado pontifício é, para um documento oriundo do Vaticano, muito claro: “Os comportamentos muito graves e objectivamente imorais do P. Maciel, confirmados por testemunhos irrefutáveis, representam às vezes verdadeiros delitos e manifestam uma vida sem escrúpulos e privada de autêntico sentimento religioso… link”.
Muita gente esperava a dissolução desta instituição onde os actuais membros não deixam de mostrar alguma nostalgia e admiração pelos ‘bons tempos’ do falecido padre Maciel link¸ link. Mas por detrás desta ‘montra’ estão duas questões fundamentais: o poderio económico desta instituição e a capacidade em municiar a ICAR com milhares de seminaristas/ano.
Dificilmente o Vaticano consegue escamotear uma infame situação: o padre Maciel esteve à beira da beatificação link.
Conhecida é também a incapacidade da Cúria para controlar e evitar os crimes (é disso que se trata) em algumas (e não só dos ‘Legionários’) congregações. Sob o ponto de vista de trajectória histórica é plausível admitir que desde há largos anos (décadas) o Vaticano conhecia o execrável comportamento do ‘comandante’ desta ‘Legião’, mas os proventos que daí vinham eram ‘irrecusáveis’ e davam ‘jeito’ (orçamento anual superior a 500 milhões de euros).
Este ano, em Abril, Francisco deverá canonizar JP II. A reabilitação da Legião serão as ‘matinas’ desse ofício santificador para um indefectível protector desta congregação e um relapso encobridor dos seus crimes a troco de ’30 dinheiros’.
Nada que acrescente especial valor à actual administração do Vaticano que diariamente usa os media. Esta é indubitavelmente uma resposta ‘vulgar’, acintosa e inaceitável da ICAR às acusações que foram objectivamente formuladas por organismo da ONU link.
Uma resposta totalmente condicionada pela torrente de dinheiro que flui desta congregação para o Vaticano, não sendo ‘aconselhável’ bulir, estrangular ou exorcizar.
É  a velha e pia doutrina do ‘Per omnia saecula saeculorum”…