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  • 6 de Janeiro, 2014
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

O DN e o papa Francisco

O DN de 4 de janeiro traz cinco páginas de propaganda sobre o papa católico Francisco e a bondade que o exorna. A máquina de publicidade está bem oleada e sempre que um papa morre, de morte morrida ou matada, não faltam encómios ao que o substitui. Até o facto de estar vivo Bento XVI, que desistiu do alvará, serve de encómio ao atual CEO (Chief Executive Officer) da Igreja católica.

Nas relações com Videla é omisso o artigo nas quatro páginas de prosa compacta e na que publica a enorme foto de Francisco.

É curioso que estando os crentes sempre contentes com o papa de turno exultem com o que lhe sucede como se o anterior fosse um fardo a suportar por penitência. Bento XVI já tinha odor a santidade quando, para salvar a pele, anunciou em público que abdicava do alvará, do anel, da tiara e da criação de cardeais e santos.

O artigo é mais uma campanha de promoção pia do que um exercício crítico do homem e da sua circunstância, do Papa e dos interesses da Igreja no perfil por que optou.

É de profunda hipocrisia ou ignorância pensar que o atual Papa é um homem simples ou um simples clérigo, desconhecendo que os padres jesuítas, raramente dados a ostentar títulos honoríficos, são clérigos cuja formação equivale, no mínimo, a um doutoramento e, muitas vezes, completado com um segundo doutoramento profano.

O que surpreende é o coro de aplausos que um sorriso rende, a unanimidade que suscita qualquer banalidade, como se o homem não fosse um intelectual destacado, quer creia ou não no deus de que é representante e promotor.

Até agora, salvo as afirmações que a Cúria se encarregou de desmentir ou o próprio de minimizar, não há qualquer alteração digna de nota. Apenas o Inferno, fonte de arrepios e motivador da fé, foi despromovido à categoria de metáfora.

As alterações no Banco do Vaticano (IOR) foram impostas pela banca internacional e as ameaças de dureza contra a pedofilia eram urgentes para salvar a honra do Vaticano.

A indústria dos milagres perdura, os exorcismos estão ativos, os dogmas, irrefutáveis, e a criação de beatos e santos está para continuar.

Afinal o que trouxe de novo o papa que agora se incensa com refinada crueldade contra o antecessor?