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Miscelânea Criacionista: a ilusão de design.

we are the champignons

A figura acima (1) mostra cogumelos num “anel de fadas”, um fenómeno que hoje sabemos ser natural mas que, durante muito tempo, foi explicado como sendo uma criação inteligente de seres sobrenaturais. É compreensível. Como um cogumelo não pode saber onde estão os outros nem escolher onde nasce parecia necessário algum ser inteligente que percebesse aquele padrão e planeasse o nascimento dos cogumelos. Não era o mesmo criador dos criacionistas de hoje mas cada cultura atribuía a génese destes círculos intrigantes a entidades míticas equivalentes. Fadas, duendes, espíritos da floresta ou deuses vários.

A explicação correcta é mais prosaica. Os cogumelos brotam de um micélio subterrâneo, uma rede de fibras microscópicas que se espalha a partir do ponto de origem do fungo. Conforme o fungo cresce, o micélio vai envelhecendo e consumindo nutrientes, pelo que a parte com mais vitalidade é sempre a da orla do círculo (2). É esta que produz os cogumelos. Não há aqui fadas nem inteligência. Apenas crescimento, fisiologia e, no fundo, química.

É claro que podemos propor que as fadas não fizeram o círculo mas fizeram o código genético do fungo, ou algo assim. Quando se invoca fadas, magia ou milagres pode-se inventar o que se quiser. Mas é desnecessário. Aquilo que exigia ser explicado por uma intervenção inteligente era a premissa, errada, que o círculo só poderia ser formado por alguém que percebesse e planeasse aquele padrão de cogumelos. Fadas a dançar, por exemplo. Mas a compreensão mais detalhada do processo revelou um mecanismo alternativo que dispensa esse requisito.

A teoria da evolução suplantou o criacionismo porque fez o mesmo para os seres vivos. Ao mostrar como as espécies podem surgir por um processo que não exige a percepção inteligente de cada passo nem o planeamento antecipado do resultado tornou desnecessária a premissa de um designer inteligente. Tal como o fungo não precisa de fadas para fazer um círculo de cogumelos também os primeiros replicadores numa furna qualquer há quatro mil milhões de anos não precisaram de um deus que planeasse o nosso nascimento este tempo depois.

O apelo do deus criador e das fadas bailarinas vem de encher os buracos da ignorância com fantasias improvisadas em vez de hipóteses testadas. Os camponeses medievais viam estes cogumelos e imaginavam fadas; os criacionistas vêem uma mosca e imaginam um criador inteligente*. E por criacionistas não refiro só os da Terra com uns milhares de anos, o homem criado do barro e a mulher da costela que deve ter ficado a mais e que, já que tinha de sair, aproveitaram para fazer alguma coisa.

Neste caso incluo também os criacionistas mais vagos que dizem aceitar a ciência mas que acrescentam sempre um criador para dar “sentido” e “significado” a isto tudo. Especialmente a nós. O universo pode existir há treze mil milhões de anos e ser inimaginavelmente grande. Pode ser mortífero para nós em praticamente todo o lado excepto neste planeta cagagesimal num cantinho insignificante de uma galáxia medíocre. Mas o deus criou deles isto tudo só para nós e fez-nos à sua imagem. E como sabem isto? É evidente. É tão evidente como os cogumelos nascerem de fadas bailarinas.

* E as “teorias” que apresentam sugerem também o consumo de alguns cogumelos.

1- Copiada de Turfgrass Diseases
2- Robert Fogel, Fun Facts about Fungi

Em simultâneo no Que Treta!