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Dia: 25 de Julho, 2009

25 de Julho, 2009 Carlos Esperança

Vaticano receia gripe suína

O Vaticano está disposto a suspender concentrações maciças de pessoas se considerar que a expansão da gripe suína pode pôr em risco a saúde dos habitantes do Estado e do próprio papa.

Assim assegurou hoje o professor Giovanni Rocchi, diretor de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano, que disse que a gripe “não assusta” por enquanto.

Comentário: Se o Papa teme a gripe suína é porque não tem confiança no patrão.

25 de Julho, 2009 Ludwig Krippahl

Religiões e certezas humildes.

A ciência tem a pretensão de dizer como o universo funciona, como surgiu a nossa espécie, como o Sol brilha e explicar cada vez mais coisas. E tem o atrevimento de não descobrir deuses em lado nenhum. Pior de tudo, é feita por pessoas comuns com o desplante de tentar perceber a realidade. Para alguns crentes isto é presunção. Muito mais humilde, defendem, é confiar – ter fé – numa fonte de conhecimento infalível de inspiração divina. Livros sagrados, profetas, líderes infalíveis que lhes digam o que é e o que não é. Só assim se pode ter certezas, porque errar é humano e o que nós fazemos não é de fiar.

Felizmente, nem todos usam a fé como fonte de certeza ou a defendem como racional. Para muitos, a fé é acerca de si e não dos factos. É uma disposição pessoal, como gostar de pintura ou amar alguém, que não se justifica, não carece de razões e não tem nada a ver com o o universo ou com os outros. Mas nesta fé não dá para assentar a religião. É demasiado pessoal. Por isso os profissionais da religião têm de vender a fé como fonte de certezas. Normalmente com maiúsculas. A Verdade, a Razão e a Revelação. E, com isto, acabam por defender uma certeza ao contrário, sem nada de racional, que não é verdade e que só revela a insensatez da abordagem.

A certeza justifica-se quando há tanta evidência em favor de uma hipótese que já não é útil procurar mais. Eu tenho a certeza que o Sol é maior que a Terra no sentido em que a minha convicção não pode aumentar por ter mais confirmação. Se ler no jornal que a NASA organizou uma medição cuidadosa e concluiu que o Sol é maior que a Terra fico exactamente na mesma. Isso já eu sabia. No entanto, esta certeza não é inabalável. Resultando da preponderância de evidências em favor da hipótese, se novos dados alterarem o balanço a certeza desaparece. Não me parece provável que aconteça neste caso, mas se acontecesse acumular-se evidências que afinal a Terra é maior que o Sol, sei que iria mudar de ideias. A certeza que a Terra é mais pequena que o Sol é relativa aos dados que tenho.

A certeza da religião é diferente. Não dispensa confirmação adicional. Quem quer ter certeza na sua religião procura sempre apoio em milagres, profetas e santos, cultos e homilias, para reforçar a certeza difícil em coisas como o número de dias da criação, a virgindade de personagens de histórias ou a infalibilidade de lideres religiosos. E rejeita a possibilidade de estar enganado. Por exemplo, uma religião cristã não admite a possibilidade de Jesus ter sido apenas um homem porque Jesus ser um deus é a premissa base destas religiões. E essa é uma certeza ao contrário. Em vez ser o ponto final do acumular de evidências, surgindo quando já não adianta reunir mais, a certeza religiosa é o ponto de partida. E dizem-na irrefutável, o que, em qualquer outro contexto, todos considerariam arrogante.

A justificação que dão é que as religiões têm acesso a fontes infalíveis. Só que a fonte infalível de cada religião contradiz as fontes infalíveis das outras, pelo que raramente se entendem. E há um problema mais subtil. É que só podemos ter confiança absoluta numa fonte que supomos infalível se assumirmos que também somos infalíveis a identificar e interpretar tais fontes. E isto é presunção a mais. Quando o criacionista interpreta a sua Bíblia ou o católico o seu Papa, por trás da fachada de humildade em seguir uma orientação divina está a arrogância de se assumirem infalíveis na sua escolha de fontes e interpretações. Porque se admitirem que são falíveis, que podem estar a perceber mal ou ter-se enganado no deus, livro ou líder, então não podem ter estas certezas e a suposta infalibilidade da fonte, mesmo que fosse verdade, de nada lhes adiantava.

Se vejo mil cisnes e são todos brancos tenho a certeza que os outros cisnes também serão brancos. É razoável decidir que mais cisnes brancos já não vão fazer diferença. Mas se descubro um cisne preto largo a certeza. A ciência funciona assim, com certezas revogáveis. Já não vale a pena confirmar se o Sol é maior que a Terra, se descendemos de outros primatas ou se o universo tem milhares de milhões de anos de idade. Disso já temos a certeza. Ou seja, já temos tanta evidência a favor que não adianta obter mais. Apenas nos interessa algo que ponha estas certezas em causa.

É neste sentido que tenho a certeza que as religiões estão enganadas. Que não houve uma criação divina nem há um ser omnipotente a controlar isto. Isto porque se amanhã a ciência desvendar mais um mistério explicando-o por processos naturais ninguém vai achar estranho. De processos naturais já temos exemplos que chegue e não é preciso mais confirmação para concluir que este universo é todo natural, sem bonecreiros invisíveis no céu. E se algum dia houver evidências claras em contrário, pois então deitarei fora esta certeza. Mas, até lá, a conclusão é esta. As religiões estão enganadas. E isto não é arrogância nem humildade. É ir para onde as evidências me levam.

Arrogância é ter a certeza do contrário sem evidências à altura, baseando-se em histórias, interpretações duvidosas e milagres em pingas de óleo. É dizer-se humilde seguidor de um saber infalível quando esse saber só pode ser infalível se quem o sabe também o for.

Em simultâneo no Que Treta!

25 de Julho, 2009 Carlos Esperança

Matilde Sousa Franco – Adereço dispensável

Matilde Sousa Franco despede-se da AR com críticas à disciplina de voto e, sobretudo, com o azedume de quem é despedido com justa causa.

Matilde Sousa Franco chegou à AR graças à viuvez. Não se lhe conhece trabalho político ou relevância pública para além de ter conseguido anular um casamento católico e de ser viúva do melhor ministro das Finanças desta segunda República. É mais conhecida no Patriarcado do que no Largo do Rato.

A pia deputada foi um ornamento fúnebre do PS que votou sempre como quis, ao lado da direita mais conservadora, quando tinha de decidir entre a política e a sacristia, com Maria do Rosário Carneiro e Teresa Venda, ou ao lado de Manuel Alegre, porque sim.

Se há ausência que pode credibilizar o PS é a de deputados que explicitam publicamente as suas crenças e ocultam as convicções políticas, se acaso as têm.

A saída de Matilde Sousa Franco da AR deixa-lhe mais tempo livre para as devoções pias onde, certamente, cumprirá a disciplina de Bento 16.