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Do Patriarcado ao Diário Ateísta

O patriarca Policarpo, num ataque de clericalismo, atribuiu ao ateísmo a paternidade dos piores males que grassam no mundo. Talvez o excesso de hóstias ou o esquecimento dos neurónios numa barrela de água benta o tenham levado a tal delírio e feito proferir tamanha aleivosia.

Comparar o ateísmo com o passado tenebroso da sua Igreja, a fúria assassina do Islão ou a intolerância dos judeus das trancinhas, é comparar o livre-pensamento com a alegada virgindade de Maria ou a infalibilidade papal de que Pio IX fez dogmas, num momento de desvario e raiva, por ter perdido o poder temporal.

Salvo no estalinismo, uma religião de outro tipo e igual fanatismo, as religiões do livro estão ligadas ao obscurantismo, aos interditos e à conivência com todas as ditaduras. É verdade que as religiões monoteístas se baseiam no Antigo Testamento um alfarrábio de embustes com um Deus que é doido e homens que eram primários.

Quem pode levar a sério um tal Abraão capaz de sacrificar um filho por vozes que, na sua demência, julgou serem divinas? Quem pode construir doutrinas sobre livros cuja historicidade é falsa, a moral xenófoba e os comparsas misóginos e racistas?

Quem leva a sério o Papa que cria santos como pintos em aviário e oferece indulgências aos clientes como os vendedores da banha da cobra garantem curas aos mirones? 

O ateísmo, ao contrário do que pensa o Sr. Patriarca de Lisboa, é a vacina contra a fé, a defesa da razão contra a superstição, a supremacia da dignidade sobre a genuflexão.

Nota: Este texto é dedicado a uma nonagenária ateísta, hoje falecida, exemplo impoluto de dignidade, coragem e coerência, com pêsames aos filhos que lhe honram a memória na coerência das ideias e na dignidade da postura cívica.