Loading

O urso Maomé e a fauna devota

«Os homens nunca fazem o mal tão completa e alegremente como quando o fazem por convicção religiosa». (Pascal)

No Sudão, um obscuro país onde a fome e a fé dizimam o povo, uma professora de inglês foi condenada a 15 dias de prisão, seguidos de deportação, por ter permitido aos alunos que dessem o nome de Maomé a um urso de peluche, o que foi considerado uma ofensa ao Profeta e não ao urso.

Poupou-a às chibatadas a nacionalidade e a intervenção do primeiro-ministro inglês e às balas a polícia anti-motim. Os piedosos sudaneses que se manifestaram, junto ao palácio presidencial, contra a clemência da sentença, queriam vingar a afronta ao Profeta à saída das orações de sexta-feira, excelentes para estimular a violência.

Foi uma desilusão para os crentes terem sido impedidos linchar a professora. Estavam munidos de paus, facas e machados e só ansiavam por dar público testemunho da sua fé e agradarem ao seu Deus.

Há quem pense que a demência mística é mera manifestação tribal ou apanágio de uma única religião, talvez por desconhecer o Levítico, por exemplo, e a dívida para com o Iluminismo e a Revolução Francesa.

O fundamentalismo é uma palavra que serviu para definir, primeiro, o protestantismo evangélico americano que no início do século XX pregava um Deus apocalíptico, cruel e vingativo, e que actualmente ameaça transformar-se de novo na característica comum das diversas religiões.

É preciso um sobressalto republicano e laico em massa para evitar que as religiões destruam a civilização e comprometam a sobrevivência humana e que a blasfémia – um «crime» medieval – desapareça do Código Penal de todos os países civilizados.