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Dia: 21 de Outubro, 2007

21 de Outubro, 2007 Carlos Esperança

Diálogo de religiões

O diálogo de religiões é uma impossibilidade teórica e prática. Pode – e deve – haver diálogo de culturas. Aliás, as culturas contaminam-se, no sentido sociológico, e acabam por ser a síntese de várias, o produto da convivência entre comunidades diversas, o resultado da assimilação mútua e recíproca dos usos e costumes de todas e cada uma.

O diálogo das religiões é diferente – uma utopia na melhor das hipóteses e, na pior, uma operação de marketing para facilitar o proselitismo e disfarçar o ódio à concorrência. A religião, qualquer que ela seja, considera-se a única que interpreta a vontade divina e, pior do que isso, exige que os outros se submetam à vontade do seu Deus.

Os homens estão condenados a entenderem-se, os deuses não podem fugir ao confronto. O boato de que os livros sagrados são a expressão da vontade divina, ditados por anjos ou intermediados por profetas transforma as mentiras em dogmas e as crises demenciais do seu Deus em mensagens a que os homens se devem submeter.

Quando um dignitário de uma Igreja fala em diálogo das religiões tem em vista aparecer aos olhos do mundo globalizado como o primeiro entre pares, o líder da unificação de todos os credos onde promete o Paraíso para todos e se prepara para combater os ateus.

Não há diálogo entre doutrinas totalitárias. Não é possível haver cedências em nome de Deus simplesmente porque este não existe e os que dizem representá-lo não sabem disso ou, sabendo, não querem prescindir dos privilégios do múnus ou do conforto do clã. Deus é o maior detonador do ódio que os homens inventaram. Tem os piores defeitos dos seus criadores e minguam-lhe as virtudes que a humanidade, na sua caminhada, foi adquirindo.

Não é por acaso que as sociedades secularizadas e os Estados laicos protegem direitos, liberdades e garantias, pugnam pela não discriminação em função da raça, sexo ou religião, em suma, são plurais, tolerantes e regidas pelo direito. Pelo contrário, as sociedades que se regem pelos livros sagrados são intolerantes, cruéis e misóginas, perpetuam os hábitos tribais e exercem a jurisprudência divina – um simulacro de justiça administrada pelos clérigos com a crueldade que só Deus pode.

21 de Outubro, 2007 Ricardo Silvestre

paz no mundo

Estudiosos proeminentes da religião islâmica avisaram que «a sobrevivência do mundo está em perigo» se os muçulmanos e os católicos não tiverem um ambiente de paz entre eles. Numa carta «aberta» sem paralelo na história, 138 líderes estudiosos do Islão pediram aos líderes católicos para «haver uma aproximação das duas religiões para encontrarem os seus pontos comuns».

Na carta pode-se ler que «encontrar esse ponto comum não é apenas uma maneira politica de encontrar um dialogo ecunémico, mas porque as religiões católicas e islâmicas detêm entre elas 55% da população, o que faz as relações entre as duas comunidades um factor contributivo para a paz no mundo. Se muçulmanos e católicos não estiverem em paz, o mundo não estará em paz».

Alguns pontos rápidos em relação a esta iniciativa dos “estudiosos” do Islão

1. Para quem procura a paz, o silêncio dos mulás aquando dos consecutivos ataques terroristas feitos em nome do Islão, não é coerente.
2. Para quem procura a paz, não pode ter um regime teocrático como o Irão à procura de ter a capacidade de produzir um arsenal nuclear.
3. Para quem procura a paz, não pode estar sistemática a boicotar acções internacionais para resolver a questão palestina – israelita (e o mesmo para os fundamentalistas sionistas)
4. Para quem quer paz, não pode oprimir os seus próprios cidadãos, com penas de morte para a apostasia, ou opressão das mulheres e das minorias.

Quanto ao que é mais importante: mais uma vez temos os líderes religiosos a acharem-se como os salvadores de serviço da raça humana. Não só a maior parte das tensões mundiais têm fundamentos religiosos (Pakistão-India, Xiitas e Sunitas no Iraque, Muçulmanos e Católicos na ex-Jugoslávia, Moderados e extremistas religiosos no Maghreb, católicos ortodoxos e muçulmanos na Tchetchenia , tribalismo religioso em Africa, catolicismo e protestantismo na Irlanda do Norte, etc etc), é difícil acreditar que há vontade de se entenderem.

Claro que é de louvar que tentem se entender. A acção destrutiva da religião tende a ser cada vez pior se não for controlada. Mas não serão os líderes religiosos que o farão. Tem de ser as forças seculares a forçar esse processo: com uma ajuda à emancipação de religiosos que tenham dúvidas nas razões para ter fé, com a tentativa de haver uma maior abertura dos países muçulmanos ao ocidente, com um controlo do colonatos judaicos em Gaza, com a progressiva perda de influência da igreja católica nos corredores de poder da Europa ou dos evangelistas cristãos em Washington. Porque uma coisa é verdade, nós os ateus, nós os defensores de sociedades seculares, estamos igualmente nas mãos destas «mudanças de humor» religiosas.

21 de Outubro, 2007 Carlos Esperança

Ateus e avençados do divino

Há vários equívocos que urge resolver no Diário Ateísta, ainda que desagrade a muitos leitores.

Sem me arvorar em administrador do DA, julgo-me com autoridade para apelar à contenção da linguagem, particularmente ao carácter obsceno e às provocações gratuitas, venham de onde vierem, de ateus ou de devotos.

A escrita a negrito ou em maiúsculas é uma atitude pouco simpática num blogue que não costuma interferir nas discussões entre leitores. Evitar manifestações de xenofobia, ódio, racismo ou homofobia não é apenas um dever, é uma exigência do DA.

Quanto aos equívocos: o DA é, de facto, um lugar de discussão pública, mas um espaço de ateus. Se a tolerância ateia consente as diatribes dos crentes é por tolerância que não nos seria consentida nos espaços beatos donde vêm os bandos de prosélitos.

Não é aqui o espaço adequado à discussão entre ateus e beatos, ainda que o nosso apego à biodiversidade procure defender a reserva ecológica dos que julgam que Deus fez o mundo em seis dias sem se interrogarem o que fez depois.

Os ateus não têm a mínima consideração ou respeito pelo Deus abraâmico ou outro, tal como os devotos não apreciam o ateísmo. Não é nossa intenção perseguir os crentes pois não nos move o proselitismo, mas não gostamos que os crentes venham insultar-nos à nossa casa. Bem sei que os hábitos totalitários das religiões levam os dementes da fé a julgar que todo o mundo é seu.

Tal como um bando de bispos resolve benzer toda a Europa, como se o continente fosse uma feitoria do Vaticano, assim os crentes se julgam com direito a circular no espaço que os ateus criaram para defender o direito à blasfémia e à apostasia, duas atitudes com uma dimensão ética incomparavelmente superior à humilhação dos que se ajoelham ou circulam de rastos em torno de ídolos que criaram para que os parasitas da fé vivam na ociosidade e no fausto.

Espero que os devotos moderem o proselitismo neste espaço. Nenhum ateu vai à missa dizer ao padre que está a burlar os simples que se ajoelham e lhe contam a vida privada nem prevenir estes incautos de que é falsa a religião que seguem.

Se Deus existisse já teria convertido os ateus. Não podem os lacaios de uma projecção demencial assumir o papel do supremo exterminador da felicidade humana. Pelo menos no Diário Ateísta.