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O caso Madeleine McCann

O sumiço de uma criança loura e linda, filha de um casal elegante e fino, crente e culto, fez correr rios de tinta nos jornais de todo o mundo. Quilómetros de película ocuparam batalhões de fotógrafos e as imagens do casal circularam pelos mais importantes canais televisivos do planeta e percorreram a Internet, com a foto da criança sempre presente.

Enquanto morreram de inanição, doenças e vítimas de guerras centenas de milhares de crianças sujas e famintas, no mais escandaloso silêncio e na mais vil indiferença, o casal McCann guardava as chaves da igreja da paróquia da Luz, e tinha amigos do peito e da missa ávidos de rezarem com ele as orações que a devoção e a ansiedade impunham.

A fé tem um enorme tropismo para as câmaras de televisão. O Papa, sempre atento às desgraças do mundo, recebeu o casal e abençoou a foto da filha ausente num gesto que os crentes tomaram como auspicioso.

O Espírito Santo, uma ave que é assessora do papa no departamento da infalibilidade, devia estar de baixa e, em vez de iluminar a mente do pastor alemão, deixou-o à solta a ampliar a ansiedade mundial e o proselitismo da Igreja católica.

Não se sabe o desfecho da investigação policial mas, presumindo-se ainda a inocência do casal McCan, já a multidão que levava flores e rezava aflita por Madeleine passou a vaiar os pais como se uma sentença transitada os tivesse condenado. E o Vaticano, na sua milenar sabedoria, mandou retirar as referências ao caso Madeleine do seu site oficial.